Só 1% do dinheiro da empresa vinha da venda real de produtos, o resto era de investidores
Reprodução da internet
Em meio a prisões e ao desmonte de seus negócios, a Telexfree anunciou ontem a “suspensão” de todas as suas atividades. Há um mês a empresa mantinha no ar um aviso de que seu site estava em manutenção e voltaria em 2 horas. Em tom de despedida, a empresa diz não saber quando ou se vai convencer as autoridades da viabilidade de seu negócio e ainda agradece a lealdade dos clientes.
A despedida curta provocou revolta nos investidores, que nas redes sociais reclamaram da falta de menção ao dinheiro. Ela atraiu mais de 1 milhão de pessoas para um esquema encerrado pela SEC de Massachusetts, o equivalente americano da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A SEC disponibilizou em português a documentação sobre a Telexfree, que você pode acessar no JC Online. O órgão entrou, em 15 de abril passado, com uma queixa administrativa para encerrar as atividades da Telexfree Internacional, o que desencadeou o fim da empresa e ações na esfera penal, com a prisão do presidente James Merril, na última sexta-feira, e ontem de Katia Wanzeller, esposa do sócio-fundador Carlos Wanzeller, foragido.
Logo na página 2, o órgão qualifica sem meias-palavras o que fazia a Telexfree, mesma conclusão que motivou as prisões, o congelamento da companhia e a fuga de Wanzeler. É o contrário do discurso de que o lucro vinha das vendas do serviço de ligações telefônicas pela internet, a tecnologia VoIP.
“Apesar da aparência enganosa de ter um negócio legítimo de VoIP, os réus estão na verdade operando um esquema de pirâmide elaborado. Documentos disponíveis até a data indicam que as receitas de vendas do VoIP – cerca de US$ 1,3 milhão – geraram apenas 1% do quase US$ 1,1 bilhão necessários para honrar suas promessas aos promotores pela colocação de anúncios na internet. Como resultado, em forma de pirâmide clássico, a TelexFree está pagando seus investidores mais velhos não com o rendimento gerado pela venda do seu produto de VoIP, mas com o dinheiro recebido de novos investidores”, afirma a SEC, no texto.
As 28 páginas descrevem toda a cronologia da Telexfree, desde os primeiros passos, incluindo a elaboração do sofisticado plano de pagamentos que volta e meia confundia interessados em entender o negócio.
Além de citar a paralisação do braço brasileiro do esquema (a Ympactus, em junho passado, pela Justiça do Acre), a SEC mostra que, enquanto quem colocou dinheiro no negócio defendia a empresa em protestos ou nas redes sociais, a Telexfree desviava US$ 30 milhões em dinheiro dos investidores, distribuindo os valores diretamente para as contas dos sócios, a título de “empréstimos” para coligadas de nomes como “TelexEletric” e até para uma instituição financeira na China.
A Telexfree, em 14 de abril, tentou driblar as autoridades americanas pedindo recuperação judicial, o que não foi aceito. O relatório revela na página 23 que três dias antes Merril e Katia já haviam emitido para si mesmos US$ 25 milhões em cheques administrativos.
Por fim, a SEC demonstra o colapso da pirâmide. Em 9 de março, já com dificuldades de honrar os pagamentos, a Telexfree mudou o plano de remuneração de quem já tinha investido. Assim, às vésperas de ser fechada pelas autoridades, ela reconheceu dever U$ 600 milhões e ter só U$ 120 milhões em caixa. Mas já era tarde para todos, sócios e investidores.
Fonte : J C.
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