Capítulo 2
Na sequência desta série que mergulha um pouco, superficialmente, para ser mais preciso, na vida e trajetória dos saudosos governadores de Pernambuco, dos biônicos da ditadura aos emergidos pelo voto popular, o personagem de hoje fez história adotando um estilo inédito.
Andava pelas ruas do Recife e Região Metropolitana com batedores, carros com seguranças que fechavam o trânsito para dar passagem ao chefe de Estado. Falo de José Francisco de Moura Cavalcanti, ou simplesmente Moura Cavalcanti, que saiu da sua Macaparana, na Zona da Mata, para ser gente na vida. Gente que impunha respeito com a caneta do poder carregada de tinta ou pela palavra que não tinha recuo.
Filho único, órfão na infância, Moura Cavalcanti teve rápida e ascendente carreira política. Aos 20 anos, na redemocratização pós-ditadura de Getúlio Vargas, foi eleito prefeito de Macaparana. Tomou gosto pela política. Estudante de Direito, participou ativamente com o colega e amigo Carlos Penna Filho, das campanhas de Cid Sampaio e de Cordeiro de Farias, de quem se tornou afilhado político.
A partir daí foi, sucessivamente, interventor do Amapá, presidente do Incra, ministro da Agricultura e governador de Pernambuco. “Naquela época, era o pernambucano José Francisco ou, simplesmente Zé Francisco. Até que o jornalista e assessor Antônio Teixeira Júnior, o famigerado Teixeirinha, no dizer bem-humorado de Fernando Menezes, alertou: Zé Francisco aqui em Brasília, é nome de candango, vamos te chamar de Moura Cavalcanti. Pegou”, recorda o jornalista Aldo Paes Barreto, plantonista do Palácio das Princesas na era Moura.
Nomeado governador de Pernambuco, segundo ele, Moura Cavalcanti se revelou ousado, criativo e formou uma equipe jovem de pouca experiência e muito talento. Gustavo Krause, Luiz Otávio Cavalcanti, José Jorge Vasconcelos, Anchieta Hélcias, Sérgio Higino e um político fechava o grupo: o deputado Carlos Alberto Oliveira, de Limoeiro.
Dois deles seriam ministros bem mais na frente – José Jorge e Gustavo Krause. “Já escolhido governador, Moura instalou um escritório no edifício Amirel e dali liderou a campanha para eleger deputados e senadores que seguissem sua cartilha. Não conseguiu. Marcos Freyre, líder das esquerdas, venceu o candidato a senador João Cleofas nas eleições de 1974. Moura era conservador, leal aos seus princípios, respeitava a imprensa, a manifestação de opinião e definia que ser honesto não era escolha. Era obrigação”, acrescenta Aldo Paes Barreto.
Veto a Cordeiro de Farias – Ainda durante a formação da equipe, Moura convidou o amigo de adolescência, Osvaldo Cordeiro de Farias Filho, para ser o prefeito do Recife. A nomeação era papel do governador. “Osvaldinho pegou o carro e viajou para o Recife, mas chegou tarde. A linha dura do Exército vetou a escolha. O filho do lendário Cordeiro de Farias era esquerdista e não podia ser prefeito. Moura Cavalcanti curvou-se à pressão e nomeou o limoeirense Antônio Farias. Os Osvaldo, pai e filho, ficaram indignados e nunca mais se falaram”, narra Aldo.
O bofete no repórter – Com a caneta na mão, Moura usava todos os benefícios que o posto de governador conferia, inclusive carros precedidos por batedores com sirenes ligadas, prontamente criticado pela oposição. “Liturgia do poder”, dizia o governador. Nem bem se passou um mês de governo, Moura foi interrompido no Palácio do Governo por um dos assessores com a informação: O secretário de Justiça, Carlos Alberto Oliveira, insatisfeito com críticas que o repórter Antônio Brito fazia no Diário da Noite, o esbofeteou.
Demissão sumária – Moura, segundo Aldo, demitiu Carlos Alberto sumariamente, tão logo soube da agressão ao repórter do Diário da Noite, jornal vespertino, que tinha mais cheiro de sangue do que de política e do poder. “Imediatamente, Moura nomeou o substituto e o assunto entrou para o folclore da política pernambucana, sendo objeto até de piadas em Palácio, quando Moura reunia jornalistas para apreciar um bom uísque e jogar conversa fora, na varanda do Palácio.
A marca da gestão – Moura Cavalcanti assumiu o Governo do Estado em 15 de março de 1975, nomeado pelo ex-presidente Ernesto Geisel, depois de obter a maioria das indicações dos integrantes da Arena no Estado, numa consulta interna na qual concorreu também Paulo Maciel e Marco Maciel. Do ponto de vista administrativo, sua gestão ficou marcada pela construção das barragens de Carpina e de Goitá, a drenagem do Rio Capibaribe para conter os efeitos das enchentes daquela época, a construção do Terminal Integrado de Passageiros (TIP) e o Centro de Convenções. Lançou também a pedra fundamental do Complexo Industrial de Suape em 1978, projeto já iniciado pelo seu antecessor Eraldo Gueiros.
Governou dois Estados – Nas eleições presidenciais de 1960, Moura Cavalcanti acompanhou Cordeiro de Farias no apoio a Jânio Quadros, trabalhando intensamente em sua campanha. Eleito, Jânio o nomeou governador do território do Amapá. Em sua gestão, priorizou a racionalização da exploração de minérios (principalmente manganês), a partir do aprofundamento das pesquisas de campo e do levantamento aerofotogramétrico da região, deu continuidade à construção de uma usina hidrelétrica e iniciou a construção da estrada ligando Macapá à Guiana Francesa.
CURTAS
ÓDIO A MACIEL – Moura Cavalcanti morreu em rota de colisão com Marco Maciel. No livro “Brasis que conheci”, que lançou muito tempo depois, já em cadeira de rodas, revelou todo seu ódio e desprezo pelo ex-vice-presidente da República. As mágoas começaram quando Maciel já queria ser governador biônico na eleição que Moura ganhou a indicação da maioria dos integrantes da Arena.
CASSAÇÃO – Poucas semanas após a sua posse no Governo do Estado, Moura demitiu todos os diretores do Bandepe, medida ligada ao iminente desenlace do chamado “Caso Moreno”, que, envolvendo operações irregulares de financiamento efetuadas pelo banco, provocou a cassação do mandato do senador Wilson Campos, eleito pela Arena pernambucana.
AMANHÃ TEM NILO COELHO – José Francisco Moura Cavalcanti faleceu no Recife, no dia 28 de novembro de 1994. Do Estado, segundo o jornalista Aldo Paes Barreto, só ficou com os proventos da aposentadoria, diferente do que ocorre hoje na podridão da política brasileira. Amanhã, a série segue trazendo a era Nilo Coelho.
Perguntar não ofende: PP e Republicanos vão conseguir se unir numa federação partidária?
Fonte : Blog do Magno Martins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário