terça-feira, 6 de abril de 2010

Juiz de São Lourenço da Mata decreta prisão preventiva de suspeitos. Pablo, Ferdinando e Alexsandro vão para o Cotel

O juiz da Vara Criminal de São Lourenço da Mata, Djaci Salustiano de Lima, decretou, no início da tarde desta terça-feira, a prisão preventiva de Delma Freire, Pablo Tonelli, Ferdinando Tonelli e Alexsandro Neves dos Santos. Os três foram encaminhados na tarde de hoje para o Centro de Triagem de Abreu e Lima. Já Delma deve permanecer na Colônia Penal Feminina Bom Pastor, no Engenho do Meio. Todos são acusados de participar do assassinato da alemã Jennifer Kloker.

Confira o especial do caso Jennifer Kloker

Pablo, Ferdinando e Alexsandro deixaram o DHPP por volta das 17h. De lá, foram fazer exames no Instituto Médico Legal e no Instituto Tavares Buril antes de seguir para o Cotel. A decisão do magistrado foi tomada com base na denúncia oferecida pela promotora do Ministério Público de Pernambuco Ana Cláudia Walmsley. Ela antecipou a análise do material, prevista para ser concluída nesta quarta-feira, para não coincidir com o dia do vencimento do prazo da prisão temporária de Pablo e Ferdinando.

Além de oferecer a denúncia, a promotora também solicitou à Polícia Federal investigações acerca do suposto envolvimento de Delma Freire, a sogra de Jennifer, com o tráfico internacional de seres humanos.

Pela manhã, a polícia apresentou detalhes do inquérito policial que apurou a morte da alemã. Como já era esperado, todos os envolvidos foram indiciados por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe e fútil, sem chance de defesa para a vítima): o marido Pablo Tonelli, 22 anos; a sogra Delma Freire, 48, o pai adotivo de Pablo, Ferdinando Tonelli, 44, além do irmão de Delma, Dinarte de Medeiros, e o vigilante desempregado Alexsandro Nunes dos Santos, 35, apontado como o homem contratado pela família para atirar na estrangeira.

A apresentação foi realizada no auditório DHPP, onde estavam o chefe da Polícia Civil, Manoel Carneiro, os delegados Alfredo Jorge e Gleide Ângelo e o diretor do Instituto de Criminalística (IC), Roberto Nunes, além do diretor de operações do DHPP, Joselito Kerhle do Amaral, e o diretor do Instituto Tavares Buril (ITB) Márcio Mendes.

A pena a ser imposta aos suspeitos pode variar de seis a 30 anos de prisão. Cabe, porém, à Justiça avaliar o grau de participação e estabelecer a punição de cada um dos envolvidos. Por conta dos papéis desempenhados no crime, a delegada Gleide Ângelo acredita que Delma e Alexsandro devam receber penas mais severas. Entre os cinco indiciados, apenas Dinarte de Medeiros está solto. Segundo a polícia, ele foi a pessoa que apresentou o vigilante Alexsandro Nunes à família Tonelli e intermediou a compra da arma usada no homicídio. Mas, de acordo com a polícia, ainda não foi necessário pedir a prisão de Dinarte porque ele contribuiu com as investigações e não representaria um obstáculo ao desenvolvimento do processo.

As conclusões sobre o crime não diferiram muito do que já se sabia sobre o caso, mas durante a apresentação a polícia pôde detalhar o profundo trabalho de investigação que resultou no inquérito de 600 páginas, no qual foram ouvidas 36 pessoas, e esclareceu o crime que ganhou repercussão internacional. Entre o vasto material apresentado hoje, a grande novidade foi um bilhete escrito por Delma Freire para o filho Pablo Tonelli. O texto foi considerado uma confissão indireta de participação no assassinato de Jennifer Kloker. Na mensagem, Delma pede ao filho, misturando português e italiano, para reforçar a sua inocência, aforma ter inventado um relacionamento com Ferdinando Tonelli e ordena que ele rasgue o bilhete.


Veja a íntegra do bilhete:

Roby (a filha Roberta Freire) falou m. male de noi di piu de mim eu disse que agente foi abordado na parada do pipi (bidone) e que eu tenho um caso com Fê a mais ou menos 5 a 6 anos meu marido sabia. Que somos inocentes e qdo. for dar depoimento não é obrigado a responder e só faça na presença do avv. Amo todos vocês. Se por acaso ver meu irmão diga que conhece não tem contato só visto agora qdo. ele foi visitar agente. Rasgue.

O delegado Alfredo Jorge explicou porque Delma Freire não foi presa no mesmo momento que Pablo e Ferdinando Tonelli. Segundo ele, essa foi uma estratégia policial para conseguir localizar uma quarta pessoa que, no mínimo, teria levado o carro utilizado no crime. Ao longo das investigações, a polícia chegou a Alexsandro Nunes - contratado por R$ 2,5 mil para executar Jennifer - graças a um tipo de perícia chamada iconográfica (um retrato falado confeccionado em terceira dimensão, elaborado com informações fornecidas por Pablo e Ferdinando Tonelli), tecnologia usada pela primeira vez no Brasil.

Para os policiais envolvidos na investigação, a premeditação do crime ficou clara. De acordo com Alfredo Jorge, a família Tonelli visitou São Lourenço da Mata no período da noite pelo menos quatro vezes antes do assassinato para escolhar o local de execução crime, identificado pela posição de duas árvores. Para chegar às conclusões, a polícia realizou duas reconstituições do crime. Uma delas no dia 18 de fevereiro, com a participação de toda a família, inclusive de Delma Freire. Neste momento, foi reconstituída a versão do assalto. No dia 24 de março, foi realizada uma nova reconstituição do caso, desta vez com a participação apenas de Alexsandro Nunes, Pablo e Ferdinando Tonelli, já refazendo os momentos do assassinado de Jennifer Kloker. Delma Freire, que até agora nega o crime, não participou.

Segundo Alfredo Jorge, o plano original era abandonar o corpo e o carro em locais diferentes. No entanto, a ideia foi abortada depois que um caminhoneiro passou pela BR-408 e viu toda a família fora do veículo, enquanto Alexsandro Nunes ainda estava no carro. A partir daí, a família inventou a versão do suposto sequestro de Jennifer.

A reconstituição também serviu para reforçar as participações de todos os envolvidos e comprovar detalhes como a experiência de Alexsandro Nunes como atirador, pela forma como ele pegou na arma na frente dos peritos e pela destreza em atingir os pontos vitais da vítima, apesar da escuridão do local. Pablo e Ferdinando não teriam realizado os disparos, mas foram cumprimentado por Alexsandro após o manuseio da arma, motivo pelo qual foram identificados resquícios de chumbo nas mãos de ambos.

Na hora da execução, Delma, Pablo, e Ferdinando se distanciaram do carro e ficaram de costas para Jennifer, mas o filho da alemã, de apenas três anos, estava no braço de Delma e teria ficado de frente para a cena do assassinato da mãe, atingida por três tiros e não quatro, como foi dito anteriormente. Um dos tiros causou dois ferimentos, um de entrada e outro de saída, o que teria confundido a polícia inicialmente.

Roberta - A polícia destacou a importância do depoimento da filha de Delma, Roberta Freire para elucidar os motivos do crime. À polícia, ela contou detalhes da vida dos Tonellis na Itália, falou do quanto Jennifer era maltratada e revelou mais: Delma tinha uma casa de prostituição na Itália e Pablo também atuava como garoto de programa. Roberta ainda apresentou fotos de possíveis vitimas do tráfico de pessoas e que estariam sob responsabilidade de Delma.

A delegada Gleide Ângelo disse que Pablo e Ferdinando Tonelli negam veementemente o relacionamento sexual entre os dois, uma possibilidade que veio à tona logo no início das investigações e explicaria o porquê de Ferdinando ter adotado Pablo, concedendo-lhe, com isso, cidadania italiana. A polícia descobriu ainda dois seguros de vida feitos pela família na Itália: um em nome de Jennifer e outro em nome de Pablo, todos tendo como beneficiário o italiano Ferdinando Tonelli.

Diario de Pernambuco

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