Miguel Arraes e Joaquim Francisco, já na eternidade, ao lado de Jarbas Vasconcelos, em tratamento de saúde, tinham algo em comum: a sisudez. Eram carrancudos por natureza. Mas também tinham uma compreensão acima da média sobre governança na passagem pelo Palácio do Campo das Princesas. Falavam pouco, apenas o necessário, na medida certa, na hora e momentos adequados.
Fui secretário de Imprensa de um deles, Joaquim, e tive uma relação de altos e baixos, entre tapas e beijos, com Arraes e Jarbas. Mas fiquei com a compreensão de que ninguém entendia mais de liturgia do poder do que eles. Não viviam se expondo em falas desnecessárias, julgavam como assertiva mais correta e lógica só se comunicar com as massas para anunciar importantes atos de gestão ou na entrega de obras.
Arrancar uma entrevista com Arraes, Joaquim ou Jarbas não era fácil. Joaquim me disse uma pérola que nunca esqueci: “não se pode banalizar o poder”. Numa certa ocasião, Arraes me chamou para um almoço em Brasília apenas porque queria dar uma dura resposta a Roberto Freire, que o havia acusado de corpo mole na campanha que perdeu para prefeito do Recife. Um gesto de rara exceção dele, diga-se de passagem.
Como governador ou prefeito do Recife, Jarbas passava por Brasília discretamente com muita frequência, mas só rompia o silêncio quando tinha algo de resultado concreto. Com a chegada de Raquel Lyra (PSDB) para despachar no Palácio das Princesas, se instalou uma nova era: a da banalização da comunicação infrutífera, da que leva o nada a lugar nenhum. Das palavras soltas como folhas secas, que o vento leva.
Pelas redes sociais, onde vive mergulhada o dia inteiro que Deus dar, a tucana fala de tudo: de secos e molhados e até de suas guloseimas preferidas, como tapioca. Comete micos, como entrevistas com políticos em Brasília, como fez num ato com a presença de Lula.
“Quem muito fala pouco sabe, quem muito sabe, se cala”, dizia a minha avó. Se a governadora tivesse a capacidade de assimilar tamanha lição de sabedoria, talvez encontrasse o caminho mais curto para aprumar a sua desastrosa gestão. Segundo o Atlas Intel, é a pior governadora do País.
Se abrisse os olhos e tivesse discernimento, facilmente chegaria à conclusão de que a população tem ouvidos, sim, mas para ouvir o que vai interferir na sua vida, seja uma decisão boa ou ruim. Quem fala pouco tem a capacidade de dizer tudo, enquanto quem fala muito não diz nada. Quem muito fala, pouco faz. Quem votou na atual chefe das Princesas apostando na mudança, mote da sua propaganda de governo, quer mais atitudes, menos promessas.
É assim a vida, o vai e vem das coisas.
Lições de Jânio – Se a governadora tivesse pelo menos umas tiradas boas, como as que foram imortalizadas pelo ex-presidente Jânio Quadros, era mais fácil tolerar. Certa vez, perguntando se eleito iria colocar os pronomes nos seus devidos lugares, Jânio reagiu: “Os pronomes não aguardam a minha eleição para que se coloquem nos seus lugares. Estão sempre neles. A boemia dos verbos é que mutila a boa ordem das frases. Há que lhes perdoar. Não se desgrudam da ideia de movimento”. Genial ainda foi quando disseram que bebia muito: “Bebo porque é líquido, Se sólido fosse, come-lo-ia”.
Surubim se agita – A primeira pesquisa sobre a sucessão da prefeita Ana Célia (PSB) em Surubim, postada ontem, neste blog, com o deputado Cléber Chaparral (UB) abrindo uma frente de 20 pontos sobre o segundo colocado, a socialista Véia de Aprígio, deu o que falar na capital da vaquejada. Até porque, Chaparral ainda não se decidiu se será candidato ou se lança Murilo Barbosa como postulante do seu grupo.
Conselhão arranhado – O Palácio do Planalto se pronunciou sobre José Garcia Netto, integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o “Conselhão” de Lula. Em nota, disse que o Conselhão não tem função de gerir recursos. O empresário é alvo de investigação da Polícia Federal (PF) por supostas fraudes contra o sistema financeiro. Diretor-presidente da Caruana, José Garcia Netto é nominalmente citado nas investigações da PF e pode ser enquadrado em três crimes. O mais grave é “gerir fraudulentamente instituição financeira”, cuja pena é de 3 a 12 anos de reclusão, mais multa.
Rastro das enchentes – Dos 5.570 municípios brasileiros, 5.199 registraram algum tipo de desastre climático entre 2013 e 2022. Do total de registros, há um recorte de ocorrências com moradias afetadas. Segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), o número de moradias danificadas ou destruídas por enchentes ultrapassa dois milhões e totaliza um prejuízo na ordem de R$ 26 bilhões, impactando 78% dos municípios do País (4.334) e deslocando mais de 4,2 milhões de pessoas que perderam suas casas ou tiveram que abandoná-las.
Bolsonaro preso – O ex-governador do Ceará e ex-candidato à presidência Ciro Gomes (PDT) disse, ontem, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve ser preso e que espera que ele tenha o devido processo legal “como qualquer bandido”. As declarações foram feitas em entrevista à CNN Brasil. Bolsonaro, ex-ministros e aliados nas Forças Armadas são investigados por suposto planejamento de um golpe de Estado, no âmbito da operação Tempus Veritatis. Ciro Gomes declarou que, além da prisão, espera que o ex-chefe do Executivo tenha seus direitos legais garantidos.
CURTAS
TRAPALHÃO E MOLEQUE – Toda vez que abre a boca, o presidente nacional do PDT, ministro Carlos Lupi (Previdência), joga labaredas para queimar seus aliados em Pernambuco – o ex-prefeito de Caruaru, José Queiroz, e seu filho Wolney, presidente estadual da legenda. A última foi fogo ardente: disse que o partido vai apoiar Túlio Gadelha a prefeito e não à reeleição de João Campos, no Recife.
PSB COM QUEIROZ – À propósito, João Campos irá a Caruru na próxima sexta-feira para anunciar, em ato público do PDT, apoio do PSB à candidatura de José Queiroz a prefeito. Em reciprocidade, diga-se de passagem, ao alinhamento da legenda com o seu projeto de reeleição na capital.
NOVA ALIANÇA – O senador Humberto Costa e o deputado Dudu da Fonte agendaram uma nova conversa em Brasília esta semana para dar prosseguimento a uma possível aliança do PP com o PT nas eleições do Recife. As tratativas já teriam o sinal verde do presidente Lula.
Perguntar não ofende: Bolsonaro será preso, como sugere Ciro Gomes?
Fonte : Blog do Magno Martins.
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