domingo, 11 de julho de 2010

Entre atrasos e irregularidades em obras, situação das cidades-sedes para Copa 2014 é preocupante

De todas as cidades que vão sediar a Copa no Brasil, Cuiabá, no Mato Grosso, é que está com as obras do novo Estádio Verdão mais adiantadas. No entanto, o aeroporto Marecham Rondom opera no seu limite e preocupa os governantes. Em São Paulo, a maior cidade do país, não se sabe nem se haverá abertura ou jogo do Mundial. No Rio, as obras no Maracanã ainda estão no início da licitação, enquanto o aeroporto Antonio Carlos Jobim/ Galeão não tem condições de receber o grande fluxo de passageiros previsto e receberá apenas uma maquiagem.

Confira abaixo o andamento da preparação das cidades:

Brasília:
Estádio mais caro do Brasil para a Copa de 2014, com custo previsto de R$ 702 milhões, o projeto do Arena Nacional de Brasília recebe marcação cerrada do Tribunal de Contas do Distrito Federal. A obra ainda engatinha, mas já foi identificada uma série de irregularidades pelo tribunal, como suspeição sobre capacidade do governo em levantar esse recurso, falta de planilhas com estimativas de preços referentes a cobertura fixa, cadeiras, gramado, exagero na previsão de lucro e até desconfiança se o concreto é de alto desempenho. O estádio, que terá capacidade para 70 mil torcedores, vai deixar de se chamar Mané Garrincha. A licitação foi vencida, esta semana, pelo consórcio Via Engenharia e Andrade Gutierrez.

O coordenador do trabalho da Copa, Sérgio Graça, garante que as obras estão dentro do prazo e que o dinheiro para financiar as obras virá da venda de terrenos na zona central da capital, no Setor Hoteleiro Norte.

Já o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitscheck, o segundo do país em movimentação de passageiros, com circulação de 35 mil pessoas por dia, tem dois grandes gargalos: o terminal de passageiros, insuficiente para os horários de pico; e pátio, apertado para acomodar aeronaves em dias de muito movimento. A expectativa da administração é de que esses problemas estejam solucionados antes da Copa das Confederações, em 2013. A Infraero investirá R$ 780 milhões. Boa parte do recurso será destinada à instalação de uma estrutura enorme, removível, que é uma sala de embarque modular. O Módulo Operacional Provisório (MOP) já começou a ser montado e, segundo o superintendente do aeroporto, Abibe Ferreira Júnior, estará instalado até setembro.

Curitiba:
O principal empecilho de Curitiba em sediar a Copa de 2014 é entrar em acordo com o Estádio Joaquim Américo, a Arena da Baixada, que pertence ao Clube Atlético Paranaense. De um lado, os projetos exigidos pela Fifa, de outro, a falta de interesse do clube, que, além de desembolsar R$ 200 milhões para reformas, teria de ficar dois anos sem jogar no próprio estádio. Na última quinta-feira, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, sinalizou que a capital paranaense pode ficar de fora do Mundial por falta de verba para financiar os projetos.

De acordo com a Casa Civil, estão previstos investimentos de R$ 30 milhões no Aeroporto Afonso Pena, para ampliação dos pátios, dos terminais de cargas e de passageiros, dos pontos de embarque, bem como o aumento da capacidade do estacionamento. De acordo com a assessoria de comunicação do aeroporto, as obras "estão em fase de projetos".

Rio de Janeiro:
O estádio do Maracanã ainda precisa passar por nova (e grande) reforma para receber os jogos, inclusive a final, da Copa de 2014. E as obras ainda estão no início do processo de licitação. A princípio, as obras seriam realizadas em parceria com a iniciativa privada. Mas o lançamento de uma linha de empréstimos do BNDES para as cidades-sedes reformarem ou construírem estádios e arenas esportivas fez o plano ser mudado. Após o lançamento, no início de junho, do edital de licitação da obra, 40 empresas mostraram interesse.

Longe de vir a ser um aeroporto moderno como se esperaria da cidade que vai sediar os eventos mais importantes da Copa, o Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim/Galeão está passando por mais uma maquiagem. O governo Lula se arrasta há cinco anos num debate ideológico que impediu a concessão dos terminais à iniciativa privada, como defendia o governador Sérgio Cabral, de forma que a recauchutagem está sendo tocada pela Infraero desde março de 2008 visando a um aumento da capacidade de operação do aeroporto, num projeto que vai até 2025.

São Paulo:
São Paulo não tem estádio para a Copa de 2014. Desde 16 de junho, quando o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, anunciou que o Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, estava descredenciado para o Mundial, a cidade ficou órfã. O Comitê Organizador local aguarda o encerramento da Copa na África do Sul para resolver a questão com o comitê de lá e a Fifa. Uma reunião está acertada para os dias 19 e 20 deste mês. Fifa e CBF garantem a participação da cidade. Assim, ganhou força um programa antigo de construção de um megapolo de eventos na divisa dos distritos de Pirituba e Jaraguá, na Zona Norte. O Piritubão requer investimento na ordem de R$ 5 bilhões. Se o Piritubão não sair do papel, as opções seriam o Pacaembu (da prefeitura) e o Parque Antártica, mas para jogos de menor importância

Segundo a Infraero, desde maio foram retomadas as intervenções no Aeroporto Internacional de Guarulhos, quando firmou Termo de Cooperação com o Exército Brasileiro. A obra prevê revitalização do sistema de pista. O orçamento é de R$ 43,7 milhões, mas não contempla a reforma total (de R$ 232,5 milhões). Esse restante está sendo discutido na Justiça entre a Infraero e o consórcio, que rescindiu o contrato ao contestar a repactuação de preços proposta pelo Tribunal de Contas da União.

Porto Alegre:
É na paixão de torcedores endinheirados e nas iniciativas de empresas, que apostam no marketing esportivo, que o Internacional concentra a estratégia para levantar os R$ 150 milhões necessários à reforma do Beira-Rio, estádio escolhido pela Fifa para receber os jogos da Copa de 2014 em Porto Alegre. A capacidade do estádio será aumentada de 56 mil para 61 mil torcedores, a estrutura deve ganhar cobertura para o público, e o anel inferior será estendido, ficando mais próximo do gramado.

O clube espera financiar as obras a partir da venda do antigo Estádio dos Eucaliptos - onde o Inter jogava antes da inauguração do Beira-Rio, em 1969 - e da locação de 117 suítes e camarotes por um valor médio de R$ 1,24 milhão, que deve ser pago em três anos (período de pagamento das obras).

Além do Beira-Rio, Porto Alegre vai oferecer à Fifa a nova arena do Grêmio. O estádio, para 52,5 mil pessoas, deve ficar pronto em 2012, e, a princípio, funcionará como suporte para treinamentos. Mas a prefeitura não descarta oferecê-lo como alternativa, caso alguma sede seja descartada. A realização da Copa na cidade põe fim à expectativa de ampliação e modernização do Aeroporto Internacional Salgado Filho. O terminal sofre com a falta de estrutura para operar com aviões de grande porte e com a impossibilidade de funcionar nas manhãs de nevoeiro no outono (época em que as delegações chegarão ao estado). Esperadas há mais de dez anos, as obras devem sair do papel em outubro deste ano e devem ficar prontas até o final de 2013.

Recife:
A 22 quilômetros do centro de Recife, São Lourenço da Mata é uma cidade-dormitório cujas ruas sem o mínimo de planejamento urbano lembram o improviso dos municípios do interior nordestino. Mas o governo de Pernambuco promete uma intervenção, pois a cidade será uma das sedes da Copa-2014 e, além da grande arena destinada ao evento, ganhará um megaprojeto imobiliário que deve gerar uma receita de R$ 33 milhões aos seus empreendedores.

Para construir o estádio com 46 mil assentos, estacionamento com seis mil vagas e parque para feiras e exposições, o governo estadual cedeu para a iniciativa privada uma área de 270 hectares. Nessa semana, no terreno onde será erguida a arena, havia apenas casas vazias e destelhadas. As obras, que deveriam ter sido iniciadas em fevereiro, só começarão em julho e devem estar concluídas até dezembro de 2012. Além da falta de apartamento, que deve ser sanada com a construção de uma estação de passageiros no porto e a hospedagem em transatlânticos,outra preocupação seria o Aeroporto dos Guararapes, que até 2014 teria de aumentar sua capacidade anual de recepção de quatro para sete milhões de passageiros. Cerca de R$ 10 milhões do PAC estão sendo investidos.

Natal:
"Atrasada com o início das obras de construção do seu estádio para a Copa 2014, Natal ainda tenta legalizar a área onde será erguida a Arena das Dunas e enfrenta problemas com o Ministério Público Estadual. Com capacidade para 45 mil pessoas e orçado em cerca de R$ 400 milhões, o estádio multiuso, antes mesmo de ser construído, está sob investigação do MPE, que instaurou dois inquéritos civis para examinar a legalidade das contratações com inexigibilidade de licitações de duas empresas, no valor total de R$ 27,4 milhões, para realizarem a elaboração dos projetos arquitetônicos e complementares da Arena das Dunas.

O novo aeroporto de São Gonçalo do Amarante, a 36 quilômetros de Natal, está sendo construído pela Infraero desde 2004, com obras da pista de pouso e do pátio de estacionamento. Incluído no PAC do governo federal desde 2007, ele deve operar voos comerciais até 2014.

Salvador:
Orçado em R$ 591,7 milhões e com capacidade para 53.500 lugares, o projeto da Arena Fonte Nova estava seguindo o cronograma até o início da demolição de partes do antigo estádio, onde um degrau desabou matando sete torcedores em 2007. No dia 22 de junho, os ministérios públicos Federal e Estadual apontaram irregularidades no contrato e recomendaram que o BNDES não concedesse o financiamento de R$ 400 milhões requerido pelo governo da Bahia para a obra. O estado criou uma Secretaria da Copa e negociou uma Parceria Público Privada (PPP) para erguer o estádio, atraindo o consórcio formado por Odebrecht e OAS. Mas, conforme os dois órgãos de fiscalização, em parecer semelhante ao Tribunal de Contas do Estado, a PPP não prevê que o estado faça empréstimo ao BNDES e o repasse ao consórcio Fonte Nova Participações.

Se o governo conseguir contornar todos os problemas, a previsão é de que a arena seja inaugurada em dezembro de 2012, dentro do cronograma da Fifa. Já o Aeroporto Internacional de Salvador passará por reformas no pátio de manobra de aeronaves e no terminal de passageiros para atender ao aumento do fluxo durante a Copa.

Cuiabá:
A organização da Copa de 2014 em Mato Grosso está tão empolgada com a evolução das obras do novo Estádio Verdão que vai pleitear a inclusão da cidade como sede da Copa das Confederações, em 2013. A maior preocupação é com o Aeroporto Marechal Rondon, que opera no limite e sem perspectiva de grandes ampliações. A construção da chamada Arena Multiuso Verdão, no mesmo terreno onde ficava o antigo, está dentro do cronograma estipulado pelo governo, que financia a obra. O governo garante que o estádio estará pronto em dezembro de 2012.

Já o Aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande, na área metropolitana, está operando no limite desde o ano passado. Uma reforma iniciada em 2003 não foi concluída devido a irregularidades na aplicação dos recursos. Em nota, a Infraero informou que já publicou o edital de licitação para a instalação do Módulo Operacional. Serão investidos R$ 2,7 milhões, e a obra deve ficar pronta no início de 2011. Para 2014, a estatal anunciou investimento de R$ 85 milhões. A promessa é de construir mais seis esteiras, seis fingers e ampliar o estacionamento, que tem 260 vagas.

Fortaleza:
Suspeitas de irregularidades na licitação da reforma do Estádio Castelão, em Fortaleza, provocaram o atraso do início da obra de R$ 452 milhões. A reforma será feita por meio de Parceria Público Privada (PPP). As obras têm de estar prontas até 31 de dezembro de 2012. Entre as melhorias, estão a ampliação da capacidade de público de 59 mil para 66.700 lugares e a modernização da estrutura. O Aeroporto Internacional Pinto Martins também passará por uma ampliação. As obras devem começar em julho de 2011, segundo o superintendente da Infraero, Sérgio Fernandes Baltoré. Um novo terminal de passageiros será construído. Para a Copa de 2014, só estarão concluídas 35% da obra, com previsão de entrega em dezembro de 2013. A ampliação só ficará 100% pronta em 2018, e a reforma total custará R$ 274 milhões e será custeada pelo governo federal e a Infraero.

Belo Horizonte:
Em meio a uma campanha para sediar a abertura da Copa do Mundo de 2014, a capital mineira tem uma série de desafios pela frente. E não são apenas para disputar o direito de abrir o evento, mas até para receber jogos do torneio e a grande quantidade de turistas que chegará à cidade. Um deles é o de reforma e modernização do Mineirão, fechado para o público em 26 de junho, para a segunda etapa do projeto. Já a terceira fase, prevista para começar em dezembro, deve ser concluída apenas em dezembro de 2012.

Com 27 anos de existência, o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, saltou de 400 mil passageiros por ano, em 2005, para 5,6 milhões em 2009. Para aumentar sua capacidade, há dois projetos previstos. Um deles é a reforma, modernização e uma pequena ampliação do atual terminal, único do aeroporto. O outro projeto seria a construção de um novo terminal no aeroporto.

Manaus:
Manaus vive a polêmica da construção de um novo estádio, além de denúncias de irregularidades na licitação do projeto básico da obra.

Cerca de R$ 400 milhões para a construção da Arena Amazônica serão financiados pelo BNDES, mas até agora o banco não deu o aval para a transação. O restante de R$ 99,5 milhões sairá dos cofres públicos do estado.

As obras no aeroporto de Manaus também enfrentam problemas. Segundo um estudo divulgado pelo Portal Copa 2014, a Infraero adiou investimentos de R$ 3,8 bilhões, dos quais 68% são destinados à modernização ou ampliação de terminais de passageiros e à infraestrutura para pouso e decolagem nas capitais da Copa. O superintendente do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, Rubem Ferreira, informou que até dezembro será lançado o edital de licitação para as obras de reforma e ampliação, cujo orçamento é de cerca de R$ 194 milhões. A previsão é que as obras comecem no início de 2011 e sejam concluídas em 2013, segundo ele, dentro do prazo.
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Fonte: O Globo

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