sábado, 16 de março de 2013

Sofá e TV digital, os grandes rivais dos estádios de futebol



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Pelas próximas décadas, a americana AEG (Anschutz Entertainment Group), maior empresa de gestão de eventos do mundo, vai introduzir tecnologia nos estádios brasileiros e gerir os eventos que serão realizados nas arenas nacionais — isso inclui, é claro, jogos de futebol, mas também shows e cultos religiosos. Serão alvo da administração da companhia os estádios daBaixada (do Atlético Paranaense, em Curitiba), de Pernambuco (do Náutico, em São Lourenço de Mata) — que receberão partidas da Copa das Confederações e da Copa do Mundo — e doPalmeiras (em São Paulo). O uso da tecnologia tanto vai se traduzir no lançamento de aplicativos voltados ao público, que poderá, por exemplo, conferir o melhor trajeto para chegar às arenas, quanto na adoção de sistemas de monitoramento nas dependências dos estádios. O objetivo nesse caso é coibir a violência. Para colocar tudo isso em prática, a AEG exibe a credencial de controlar 108 arenas espalhadas pelo mundo, incluindo o Staples Center, de Los Angeles, onde joga o poderoso Los Angeles Lakers. "Temos a obrigação de oferecer a melhor experiência possível às pessoas que compram ingressos para acompanhar um jogo de futebol ou um show ao vivo", diz Denise Taylor, chefe de tecnologia da companhia americana, que visitou o Brasil recentemente para fechar novos acordos. Confira a seguir a entrevista que ela concedeu a VEJA.com.
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Qual a relação entre tecnologia e esporte para uma empresa como a AEG? Desde 2007, a tecnologia vem promovendo impactos cada vez mais intensos na vida das pessoas, especialmente com a popularização dos smartphones. Percebemos, então, a importância de nos adaptar aos novos hábitos de consumo de nossos clientes. Com recursos de última geração à disposição, eles não querem usar apenas voz e texto para compartilhar com amigos momentos especiais vividos em um show ou jogo de futebol. Querem divulgar fotos e vídeos em alta definição, diretamente do local do evento. Devemos oferecer essa infraestrutura para que essas pessoas tenham condições de fazer isso, pois a própria tecnologia que nos ajuda promoveu a popularização de um grande rival: as TVs de alta definição, espalhadas por bares e residências, que afastam o públicos dos eventos. Para vencer essa batalha, temos a obrigação de oferecer a melhor experiência possível às pessoas que compram ingressos para acompanhar um jogo de futebol ou um show ao vivo.
Denise Taylor, chefe de tecnologia da empresa AEG
Denise Taylor, CIO da AEG
Essa estrutura pode ser aplicada no Brasil? Sem dúvida. Há alguns anos, fazemos parte dos principais eventos esportivos do mundo, como as disputas da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Queremos ampliar o conceito de que acompanhar um evento ao vivo, in loco, é muito mais atraente e agradável. Buscamos ajudar na criação de arenas sustentáveis, seguras e altamente tecnológicas, características já aplicadas em ligas americanas de esporte, como a de basquete (NBA), futebol americano (NFL) e hóquei (NHL). Para tanto, trabalhamos em estreita colaboração com os clubes e demais empresas para garantir a tecnologia adequada às arenas.
Quais tecnologias sua empresa pretende instalar nos estádios brasileiros? Para fornecer a melhor experiência possível, a companhia tem trabalhado com as últimas tecnologias, como o Wi-Fi público de alta velocidade e o uso da rede DAS (distributed antenna system, ou sistema de antena distribuída), aumentando a capacidade e a cobertura de área de celulares no local do evento. Esse recurso foi adotado com sucesso na última edição da Copa do Mundo, em 2010, na África do Sul, e em 2012, nos Jogos Olímpicos de Londres. Vamos também fixar uma série de aparelhos de TV de última geração nos locais para que todos os presentes no estádio assistam ao jogo, além de infraestrutura completa de monitoramento de todas as pessoas presentes no evento, garantindo assim maior segurança.
Os estádios brasileiros estão preparados para aplicar esses recursos? A maioria dos locais que vão abrigar os jogos de futebol já tem os requisitos mínimos exigidos pela Fifa para adotar sistemas de tecnologia de ponta. Eles servirão durante muitos e muitos anos aos brasileiros. Nosso desafio é fazer desses locais, que concentram a energia impressionante dos torcedores, um espaço seguro para todas as idades, já que às vezes a violência afasta muitas pessoas dos estádios. Queremos o retorno das famílias aos estádios.
Qual a estratégia para dispositivos móveis, como tablets e smartphones? Vamos trabalhar no desenvolvimento de aplicativos para fornecer a melhor experiência ao torcedor, como um serviço para adquirir ingressos e até mesmo games. Queremos serviços móveis que "conversem" com o torcedor, informando, por exemplo, qual o melhor trajeto até o estádio ou mesmo o tempo que falta para o início de uma partida ou show, caso o consumidor esteja nos arredores da arena.
Há poucas semanas, um jovem morreu em um estádio na Bolívia, durante partida do Corinthians, ao ser atingido por um sinalizador. A tecnologia de reconhecimento facial poderia ser aplicada em estádios da Copa para para evitar tragédias como essa ou identificar responsáveis? É algo a ser discutido com a Fifa, uma vez que eles não compartilham conosco todos os planos de segurança. Portanto, não podemos revelar a situação das instalações das arenas da Baixada e de Pernambuco. Na arena Palmeiras, o recurso estará disponível. Teremos um serviço capaz de identificar e monitorar todos os torcedores presentes nos estádios, facilitando assim o trabalho de segurança.
A AEG será responsável pela venda dos "naming rights" (pelo qual uma empresa paga pelo direito de batizar uma arena com sua marca) juntamente com os clubes? Sim. Estamos trabalhando em colaboração com eles para maximizar o potencial de receita desses locais.
A rede 4G de telefonia móvel chegará aos estádios? Infelizmente, não temos condições de auxiliar na definição do uso de tecnologias 3G ou 4G durante as disputas da Copa das Confederações e do Mundial. Isso não é de nossa responsabilidade. De qualquer maneira, tivemos um enorme sucesso ao adotar a tecnologia LTE (Long Term Evolution), do 4G, em vários locais, inclusive o Staples Center, em Los Angeles. No Brasil, a LTE deve permitir velocidades mais de dez vezes superiores às alcançadas atualmente pelo 3G – geração que usa o padrão High Speed Packet Access (HSPA).
E nos próximos anos, o que podemos esperar da combinação entre tecnologia e esporte? Graças ao rápido crescimento do acesso à internet a partir de dispositivos móveis, torcedores terão mais e mais condições de usar smartphones ou tablets diretamente dos estádios para acompanhar todos os detalhes de uma partida. Sistemas interativos serão cada vez mais comuns. Imagino que no futuro teremos empresas fornecendo, por exemplo, vídeos exclusivos e dedicados aos torcedores presentes no estádio, com conteúdos exclusivos como replays de lances ou cruzamento de dados para que o próprio torcedor tenha condição de administrar um time.
Fonte :Veja

Entrevista: Denise Taylor.


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