sexta-feira, 22 de maio de 2020

Cena nacional na mídia regional

Na sequência de entrevistas pelo Instagram do meu blog, ferramenta moderna e eficaz pelas redes sociais, meu entrevistado de ontem foi o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que falou sobre a crise nacional, as medidas provisórias que caducaram na Casa, sua relação com o presidente Bolsonaro, as pressões para colocar em tramitação o pedido de impeachment do chefe da Nação e o adiamento das eleições.
Minha ideia, ao fazer essa rodada de lives com interlocutores da cena nacional, é abrir um canal deles com o Nordeste, desfocando um pouco o eixo na discussão pela mídia sulista. Não é fácil. Se o País é desigual economicamente e socialmente não poderia deixar de ser na relação do poder com a mídia. São Paulo, Rio e Brasília são preponderantes irradiadores da difusão do noticiário, porque sediam os principais veículos de comunicação do território brasileiro.
Região com 53 milhões de brasileiros, 1.554.257 km2, o Nordeste, embora vocacionado para o turismo e com capacidade enorme de crescimento da indústria de ponta e no agronegócio, sempre foi visto como o patinho feio do País. Retratamos, de fato, uma realidade. As desigualdades regionais no Brasil continuam persistentes, apesar de todas as políticas para revertê-las ao longo dos últimos 60 anos. Em 2016, último ano com dados do IBGE disponíveis, o PIB per capita regional no Nordeste atingiu apenas 51,9% de seu valor nacional, segundo o economista Alexandre Rands.
Há uma corrente de economistas que argumenta que a pobreza no Nordeste decorre da ausência de políticas de desenvolvimento regional. Segundo esta corrente, por razões históricas o desenvolvimento econômico foi mais acelerado no Sudeste e no Sul do Brasil e isto gerou um círculo vicioso, que cada vez mais concentra renda e capital nestas regiões, em detrimento dos Estados nordestinos. Assim, segundo este argumento, a solução é subsidiar o desenvolvimento da indústria local.
É com base neste raciocínio que foram criadas as agências de desenvolvimento regional como a Sudene, Sudam e recentemente as zonas especiais de exportação, tão conhecidas de todos nós. Implícita neste argumento está a ideia de que o Sudeste e o Sul do país são, em parte, “culpados” pela concentração de pobreza no Nordeste, e assim devem dar sua contribuição através das transferências de recursos públicos.
Esta visão é incorreta. Em primeiro lugar, as diferenças de renda média entre os diversos Estados brasileiros não são tão grandes quanto parecem. As grandes diferenças de renda e PIB per capita nominais entre os Estados são bastante reduzidas quando levamos em conta as diferenças de custo de vida entre eles.
Assim, ao examinarmos as diferenças de renda per capita entre os Estados do Sudeste e do Nordeste, por exemplo, observamos que, em termos nominais, os primeiros têm uma renda em torno de duas vezes maior. Mas, quando levamos em conta as diferenças de custo de vida entre os Estados destas duas regiões, esta diferença se reduz para cerca de 56%.
Paradigmas – No que tange à discussão da mídia brasileira a internet reviu muitos conceitos e se abriu novos paradigmas. Imaginar que uma campanha ou uma simples notícia tem efeitos pela sua propagação não condiz com a realidade de hoje. Muitas vezes é perda de dinheiro divulgar para o Brasil inteiro, esperando um resultado massivo. É bem mais proveitoso (e barato) regionalizar a publicidade de sua empresa, prezando pela qualidade do alcance, do material, do produto ou serviço, enfim, de tudo o que está ligado a promoção. Conforme sua empresa for ganhando espaço e notoriedade, você alcançará o restante do País praticamente de graça, ouvi, há pouco, de um publicitário do ramo com presença nacional.
Revolução digital – Argumenta o mesmo comunicólogo: “A revolução digital trouxe uma facilidade de acesso a serviços e produtos de empresas fora da nossa região, mas é preciso ter em mente que ter acesso não é a mesma coisa do que ter uma boa comunicação. É aí que entra a mídia regional. O objetivo da regionalização é voltar as raízes (e aos benefícios) da publicidade regional. Por exemplo, consumidores gaúchos e nordestinos podem falar a mesma língua (apesar de algumas diferenças culturais e convenções linguísticas). No entanto, é preciso reconhecer que são públicos completamente diferentes (muitas vezes parece até serem de países diferentes), levar essas diferenças em conta e adaptar suas mensagens para esses especificamente”.
Desigualdades – Na verdade, as causas da desigualdade social no País são a má distribuição de renda, má administração dos recursos, falta de investimentos nas áreas sociais, culturais, saúde e educação. Falta também de oportunidades de trabalhos e corrupção, o que leva a população a sofrer sérias consequências, como a pobreza, miséria, aumento da taxa de desemprego, diferentes classes sociais, aumento dos índices de violência e criminalidade. O Brasil é o oitavo País com maior índice de desigualdade social do mundo, se destacando entre elas, desigualdade racial, desigualdade regional, desigualdade de gênero e desigualdade econômica.
Drama escolar – As escolas estaduais foram fechadas desde 18 de março, devido à pandemia do novo coronavírus. As aulas na rede pública foram substituídas por modalidades a distância, como as aulas transmitidas pela TV e pela internet, mas nem todos conseguem acompanhar. No Recife, o relato é de distribuição de livros na rede municipal, mas sem orientação próxima. Em todo o País, estudantes, pais e professores relatam “apagão” na educação. Só na rede estadual, a suspensão das aulas impacta, ao menos, 580 mil estudantes, sem contar os alunos das redes municipais e da rede privada, também afetados pela decisão.
CURTAS
FALTA ESTRUTURA – Sem estrutura para promover, de uma hora para a outra, a modalidade de ensino a distância, já que essa metodologia demanda uma estrutura específica e só é permitido pela legislação brasileira em 30% da carga horária do ensino médio, o Governo do Estado, segundo o G-1, portal da Globo, optou por transmitir, na rede aberta de televisão e pela internet, aulas para os alunos do ensino médio e para os anos finais do ensino fundamental. O conteúdo é transmitido ao vivo para o ensino médio e para o 9º ano do ensino fundamental de segunda a sexta-feira. Há, também, reprises em horários alternativos. Para os estudantes do 6º ao 8º ano do ensino fundamental, as aulas são gravadas e disponibilizadas na internet, todas as manhãs.
A FARRA É GERAL – Não é só Pernambuco e Recife, sobretudo, que estão no olho do furacão dos contratos irregulares na aplicação das receitas federais transferidas para o enfrentamento à pandemia do coronavirus. Os governos de Roraima e São Paulo são os menos transparentes na divulgação dos contratos emergenciais, segundo aponta um ranking inédito divulgado pela Transparência Internacional. Entre as capitais, o pior índice é o da Prefeitura de Belém. Espírito Santo, Distrito Federal, Goiás e Paraná aparecem com uma avaliação ótima. Já entre as capitais, João Pessoa e Goiânia lideraram o ranking. A ONG analisou os sites, redes sociais e portais de transparência dos governos de todos os 26 estados e do Distrito Federal e de todas as 27 capitais.
VERGONHA – O resultado indica que boa parte dos governos estaduais e municipais não está cumprindo as exigências da Lei Federal nº 13.979/2020, que regulamentou as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente da pandemia do coronavírus. Essa legislação exige transparência nas contratações emergenciais. Ao não dar transparência aos contratos feitos sem licitação, os governos dificultam a fiscalização e impedem que a sociedade veja como o dinheiro público está sendo usado durante a pandemia do coronavírus.
Perguntar não ofende: Depois do Rio, onde já tem gente presa, segundo o presidente disse na live do meu blog, qual Estado será alvo de investigação da PF para conter essa farra com o dinheiro da Covid-19?
Fonte: Blog do Magno Martins.

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