sábado, 21 de julho de 2012

As novidades tecnológicas asiáticas que os pernambucanos encontrarão na Cidade da Copa.


Prédios claros com formas ousadas, grandes espaços livres, avenidas largas com muita área verde e até uma enorme roda-gigante. A apenas 20 quilômetros de Tóquio, o distrito de Minato Mirai 21, em Yokohama, é um cartão-postal das cidades inteligentes. Erguida há 30 anos, a área inspira a brasileira Odebrecht para construir a Cidade da Copa, bairro inteligente projetado para a área ao redor do estádio de futebol Arena Pernambuco, na área metropolitana do Recife. É em Minato Mirai, que significa Porto Futuro, que está localizada a torre mais elevada do país, com 296 metros de altura. Museus, shopping centers, parque de diversões, teatros e áreas verdes atraem gente de toda a região metropolitana de Tóquio nos fins de semana.
 
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Minato Mirai 2012: escultura no bairro japonês planejado há 30 anos que inspira
a cidade inteligente brasileira.
 
No verão, famílias lotam os gramados fazendo piqueniques. O distrito com dez mil moradores recebe 58 milhões de visitantes ao ano. A “inteligência” de Minato Mirai, onde foram investidos US$ 34 bilhões, reside principalmente no planejamento: o passageiro de metrô já desembarca dentro de um shopping center. Todo o bairro é servido por um sistema semelhante a um ar-condicionado central: pequenas usinas distribuem vapor e água resfriada por dutos aos edifícios, que regulam a temperatura desejada. Isso só é possível porque há uma rede de túneis subterrâneos, por onde passam fios elétricos, cabos de fibra óptica e dutos para calefação e refrigeração. 
 
O compartilhamento da infraestrutura reduz o consumo de energia, só no ar-condicionado, em 15%. Estruturas semelhantes, que poderão ser usadas até para coleta de lixo, já estão em construção na Cidade da Copa pernambucana. O bairro de Yokohama, segunda maior cidade do Japão, nasceu na área do porto, usando as últimas novidades arquitetônicas da década de 1980 para aumentar a resistência dos edifícios aos terremotos que assolam o Japão. Ao longo dos anos, novas tecnologias foram incorporadas. Alugar uma bicicleta é fácil e rápido: é só encostar o celular ou um cartão pré-pago num painel. Nos estacionamentos, estações parecidas com bombas de gasolina carregam carros elétricos. 
 
A passarela que leva à estação de trem tem painéis de energia solar no teto que ajudam a mover as esteiras rolantes. A Cidade da Copa ficará em São Lourenço da Mata, a 19 quilômetros do Recife, e também terá metrô e integração ao aeroporto. O bairro de 240 hectares, projetado para ter até 18 mil moradores, será rodeado por ciclovias, quadras esportivas e áreas verdes, reproduzindo às margens do rio Capibaribe o clima da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. De acordo com o diretor da Odebrecht, Marcos Lessa, o conceito arquitetônico do bairro é similar ao do distrito japonês. “Será um ambiente aberto e agradável: a cidade é vertical, mas com grandes espaços entre os prédios”, diz Lessa. 
 
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Sucesso turístico: com dez mil moradores, Minato Mirai recebe 58 milhões de visitantes por ano.
 
Na Copa de 2014, além do estádio, estarão prontos uma arena indoor, um centro de convenções, hotel, shop-ping center, supermercado e uma parte do novo campus universitário. A novidade mais aguardada, feita em conjunto com a NEC, parceira tecnológica da construtora, é um centro de comando e controle de segurança pública. No prédio que reunirá os sistemas da polícia e bombeiros, 100 monitores de 46 polegadas mostrarão imagens de câmeras instaladas no estádio e pelas ruas. Na NEC em Tóquio, demonstrações de softwares de reconhecimento facial impressionam e lembram obras de ficção científica como o livro 1984, de George Orwell, e o filme Minority Report, estrelado por Tom Cruise. 
 
O sistema identifica rapidamente sexo, idade e expressões do rosto de pessoas paradas em frente a telões. É possível armazenar dados que identifiquem criminosos, ou, no exemplo inverso, preparem a recepção a convidados vips. A NEC vem aumentando as vendas de sistemas para cidades inteligentes, com experiências na Índia, nos Estados Unidos e Itália. O vice-presidente Takayuki Morita diz que a companhia, conhecida pelos equipamentos para telecomunicações, mudou as apostas para crescer. “Estamos aumentando as áreas de TI, energia e computação em nuvem.” O estádio e o comércio podem ter sistemas de pagamento eletrônico semelhantes aos usados no Japão (com celulares e cartões pré-pagos) e a cidade provavelmente será cabeada com fibra óptica. 
 
Também haverá novidades em energia. Além de uma usina solar, a rede de distribuição deve ser “inteligente”. Consumidores podem gerar energia com painéis solares, por exemplo, e armazená-la em baterias de grande capacidade, vendendo a energia para a distribuidora em horários de pico. Softwares controlam os gastos em cada parte da residência ou empresa. O maior desafio dos pernambucanos será fazer a realidade seguir o planejamento, o que nem Minato Mirai conseguiu. Mesmo após 30 anos, só 60% da área foi ocupada, e tem 78 mil empregos, menos da metade da previsão inicial de 190 mil. 
 
O responsável pela agência de desenvolvimento urbano que criou Minato Mirai, Takahiro Noda, diz que o mais difícil foi atrair empresas, apesar dos incentivos. “Numa recessão e crise econômica não é fácil vender imóveis”, afirma Noda. Incentivos atraíram grandes empresas como Nissan e Xerox, mas ainda há muito a ser feito. Lessa, da Odebrecht, acredita que Pernambuco não corre esse risco, já que o PIB estadual cresce acima da média nacional — 4,5% no ano passado. “Hoje já há escassez de residências, hotelaria e escritórios na região do Recife”, diz. Os investimentos no Estado vão desde a instalação das empresas no complexo industrial portuário em Suape até nova fabrica de automóveis da Fiat, em Goiana, na região metropolitana da capital. 

Fonte:Istoé Dinheiro
Por Tatiana Bautzer, enviada especial a Tóquio e a Yokohama

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