A campanha nos Estados dificilmente escapará da polarização nacional envolvendo o duelo Lula x Bolsonaro pelo Palácio do Planalto. Mas os três principais pré-candidatos a governador de Pernambuco pelo bloco da oposição – Miguel Coelho (DEM), Raquel Lyra (PSDB) e Anderson Ferreira (PL) – se alinharão ao Planalto.
O que mais poderia virar o candidato bolsonarista, o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, por ser filho do líder do Governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB), ao ingressar no DEM, no próximo sábado, em grande ato no Recife, já decifra seu recado: está longe de Bolsonaro. Por um motivo muito simples: o DEM, seu novo partido, está sendo fundido ao PSL.
Da nova legenda, surgirá a maior bancada na Câmara dos Deputados, presidida pelo deputado pernambucano Luciano Bivar, atual dirigente do PSL, partido que entregou de bandeja a Bolsonaro para ser candidato em 2018. Eleito presidente, Bolsonaro foi se afastando de Bivar e com ele acabou rompendo num processo desgastante, sem volta. É claro que Bivar não vai aceitar qualquer alinhamento de Miguel aos caminhos que levem ao palanque bolsonarista no Estado.
Diante do fato novo – a entrada de Miguel numa legenda que, fundida ao PSL, vira o grande gigante partidário no Congresso – Raquel Lyra, prefeita de Caruaru, e Anderson Ferreira, prefeito de Jaboatão – já fecharam um acordo para estarem juntos em 2022. Mas, quem vai abrir para quem? Há uma desconfiança de que a tucana, nesse entendimento, desponta como cabeça de chapa, e Anderson candidato ao Senado, isolando Miguel Coelho.
Raquel, aliás, começou a se distanciar de Miguel no momento em que ele foi a Caruaru estender o tapete vermelho para o PDT, de Wolney e José Queiroz, adversários da prefeita no município. Nos últimos dias, Raquel e Anderson têm conversado quase diariamente. A pauta é um samba de uma nota só: isolar Miguel, que, na leitura deles, é candidato de todo jeito, agora muito mais em função da opção partidária que fez, que lhe dará maior tempo na TV para propaganda eleitoral e um robusto fundo eleitoral.
Construindo um palanque na oposição de enfrentamento a Miguel, Raquel e Anderson também, naturalmente, não assumirão o bolsonarismo no Estado, o que abre espaço para o presidente escolher o seu candidato, que, neste cenário, tende a ser alguém muito identificado com ele e o seu Governo. Neste caso, o perfil que mais se encaixa como uma luva é o do ministro do Turismo, Gilson Machado Neto.
Caso a polarização nacional Lula x Bolsonaro se reproduza no Estado, o que tende a ser natural, a tendência é Miguel e Raquel ficarem fora do jogo. Afinal, Pernambuco não é uma ilha. No resto do País, as duas seitas – o lulismo e o bolsonarismo – guerrearão também na disputa para os governos estaduais. Alguém tem dúvida? A política não é uma ciência exata como a matemática, mas tem uma lógica.
Start da largada – A filiação de Miguel Coelho ao DEM, no próximo sábado, no Recife, se transformará num ato de lançamento da sua pré-candidatura a governador. É o que ele deixa claramente nas ligações que tem feito convidando lideranças politicas estaduais dos mais diferentes segmentos e cores partidárias. Outra grande estrela da festa será o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, presidente nacional do DEM, confirmado, ontem, segundo o ex-ministro Mendonça Filho.
Em qual acreditar? – Há duas versões de bastidores para a última jogada de toalha do ex-prefeito do Recife, Geraldo Júlio, em relação a 2022. A primeira é que, ao dizer que não será candidato de jeito nenhum a governador, sendo na realidade postulante, evitará o tiroteio antecipado. Já a segunda é que, de fato, tanto o governador quanto aliados do PSB estão certos que Geraldo está fora porque perdeu todas as condições naturais de candidato, principalmente em razão do seu isolamento e do andamento dos processos de investigação sobre as sete operações da Federal em sua gestão, aliado tudo isso ao temor de que os que assinaram como ordenadores de despesas venham a ser presos.
Duas dúvidas – O presidente Bolsonaro está tendo o mérito de resistir até chegar tão perto da eleição que os adversários começam a pensar mais nela e menos em derrubá-lo. Qual é a dúvida? São duas. Como reagirá o presidente quando, e se, a situação eleitoral dele prenunciar a possibilidade real de derrota? E como reagirá a oposição “de centro” se o campo dela continuar disperso mais tempo do que seria saudável? O céu deu uma acalmada, mas as nuvens estão ali no horizonte.
Ainda o apagão – O Brasil corre risco de sofrer apagões nos próximos meses mesmo com as medidas adotadas pelo governo na crise hídrica. É o que indicou a área técnica do TCU em relatório que ainda não foi levado para votação em plenário. As conclusões apontadas no parecer fazem parte de um processo de acompanhamento das medidas adotadas pela Creg (Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidro energética) para garantir o fornecimento de energia durante a crise hídrica. O documento também afirma que há indícios de que faltam “previsibilidade e razoabilidade” nas ações governamentais e de que não há plano formal para o caso de agravamento da situação, como no caso da nova bandeira tarifária que recebeu o nome de “bandeira de escassez hídrica”.
O dia D para Arcoverde – O processo de uma possível eleição suplementar em Arcoverde, a janela do Sertão, distante 250 km do Recife, se afunilou e terá seu desfecho na próxima quinta-feira pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Tem muita gente roendo as unhas na cidade. A ex-prefeita Madalena Britto, peça importante na eleição, anda se distanciando do prefeito Wellington Maciel (MDB), segundo ouvi na semana passada quando estive na cidade por uma fonte bem próxima ao gestor.
CURTAS
Protesto – O desafio dos organizadores do protesto de 2 de outubro é rivalizar com os expressivos atos pró-Bolsonaro de 7 de setembro. Precisarão mobilizar mais que a militância, precisarão colocar povo na rua. Os atos de 12 de setembro foram surpreendidos no contrafluxo, depois da distensão momentânea em Brasília.
Sem políticos – Três vezes prefeita de Santa Cruz da Venerada, no Sertão do Araripe, responsável pelos grandes avanços que o município alcançou desde que se libertou da condição de distrito de Ouricuri, Eliane Soares (Avante) nunca escolheu um secretário político para a sua equipe. Todos os seus auxiliares são técnicos. E tem dado certo.
Perguntar não ofende: Algum prefeito do PSB vai ao ato de Miguel Coelho no próximo sábado?
Fonte: Blog do Magno Martins.

Nenhum comentário:
Postar um comentário