O áudio vazado no último fim de semana do ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU), continua a gerar fortes reações. Na mensagem, ele cita um “movimento nas casernas” e diz que é “questão de horas, dias, no máximo, uma semana, duas, talvez menos, para que um desenlace bastante forte na nação ocorra”.
A Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), junto ao Conselho Nacional de Presidentes dos Tribunais de Contas (CNPTC) e ao Instituto Rui Barbosa (IRB), definiu o áudio como um “sério agravo à legitimidade democrática e ao ordenamento jurídico, em contexto também incompatível com a atuação da magistratura de Contas, que deve fidelidade absoluta às normas de regência”.
Em nota, as entidades que representam presidentes dos tribunais de conta e outros membros dos órgãos expressaram repúdio à fala de Nardes e reafirmaram o papel das Cortes de Contas “na defesa da democracia e das instituições republicanas, bem como a sua relevância em prol da boa e correta gestão governamental”.
A Atricon e o CNPTC ainda reiteraram que os tribunais atuam “com independência e impessoalidade, a fim de cumprir e fazer cumprir as regras e os princípios estabelecidos na Constituição Brasileira, à luz do Estado de Direito e do regime democrático”.
“Confronto decisivo”
No áudio vazado, o ministro do TCU diz que não “poderia falar muito sobre o tema” após ter conversado “longamente com o time de Bolsonaro esta semana [a passada]”. Nardes afirma, ainda, sentir que a situação pode acabar em “um conflito social na nação brasileira”.
Ele citou o presidente Jair Bolsonaro (PL), que perdeu as eleições e enfrentaria um ferimento na perna, mas que “certamente terá condições de enfrentar o que vai acontecer no país”. No áudio, o ministro do TCU define a sociedade brasileira como conservadora e que “Bolsonaro despertou a sociedade conservadora, e hoje todo mundo está nas ruas fazendo a defesa desses princípios”.
Conforme apurado pela coluna Igor Gadelha, Augusto Nardes informou a colegas da Corte ter decidido tirar uma licença médica a partir desta segunda (21/11), após intensa repercussão das mensagens.
O ministro ainda reclama que petistas “nunca aceitaram o diálogo” e “foram para um confronto”, que agora seria “decisivo”. “Tudo se mostra que vai acontecer novamente. Tudo muito nebuloso em relação ao futuro do país”, diz.
Retratação
Por meio de mensagens privadas, ministros do TCU, e até emissários de integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF), têm pressionado Augusto Nardes a se retratar, seja por meio de uma declaração, seja por nota pública à imprensa.
Nesse domingo (20/11), após a repercussão do áudio, Nardes enviou mensagem no mesmo grupo de WhatsApp do agronegócio dizendo que não buscou “incitar qualquer conduta que possa ser caracterizada como atentatória às Instituições ou ao Estado e à Ordem Política e Social”.
“Não estimulei e jamais estimularia atos violentos contra as instituições. Minha fala, que foi postada em grupo privado e restrito de mensagens, apenas compartilhou informações e externou minha percepção sobre fatos e acontecimentos em curso, dos quais não tenho qualquer domínio ou responsabilidade”, assinalou o ministro.
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