terça-feira, 22 de agosto de 2023

O troco de João Campos

Num tempo muito mais breve do que a governadora Raquel Lyra (PSDB) imaginava, o prefeito do Recife, João Campos, principal liderança do PSB no Estado, deu o troco, ontem, atraindo para o seu campo de ação e, provavelmente, ao Governo Municipal, o grupo do ex-senador Fernando Bezerra Coelho (MDB)

.A reação se deu três dias após o ministro da Pesca e presidente estadual do PSD, André de Paula, aderir ao Governo de Raquel, depois de mais de dois anos servindo à gestão João Campos com a sua filha Cacau, agora secretária estadual de Cultura, no comando da Secretaria de Turismo do Recife. A transferência de André e sua filha para a gestão tucana tem tudo a ver com as eleições municipais do próximo ano.

Dentro do arco de alianças de João, o PSD daria mais tempo de televisão à campanha de reeleição dele, para compensar a fragilidade em termos de representação do partido do ministro na Câmara de Vereadores. André também é ministro de Lula e João, naturalmente, teria um motivo a mais para justificar a presença do agora ex-aliado em seu palanque da reeleição.

Sem André e o PSD, João agiu inteligentemente, abrindo uma interlocução com o ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, que também havia iniciado, antes do ministro da Pesca optar pelo alinhamento a Raquel, negociações para se filiar ao PSD, já que está numa posição desconfortável, hoje, no União Brasil. Sabendo disso, a governadora foi mais ágil e tirou André e o seu partido do palanque de João em 2024.

Quem ganha mais nesse jogo? O tempo dirá, mas eleitoralmente o grupo Coelho, com vistas às eleições de 2026, quando Raquel tentará a reeleição, soma muito mais. Aliás, no primeiro turno das eleições para governador, Raquel teve pouco mais de cinco mil votos em Petrolina, mas no segundo turno, com os Coelho em seu palanque, saiu de lá com um balaio de votos, quase 90 mil.

Isso, claro, por causa do apoio de Miguel, já que no Sertão, com exceção de uma ou duas cidades, Marília Arraes ganhou em todas, prevalecendo o voto casado com Lula. Em Petrolina, a maciça votação de Raquel se deu, vale reforçar, pela força, o prestígio e a liderança de Miguel.

Indicação de Miguel – João e Miguel tiveram o primeiro encontro no último fim de semana, mas ainda não fecharam nada. Pelo prefeito, Miguel assumiria a pasta de Turismo, no lugar de Cacau de Paula, mas o ex-prefeito de Petrolina, segundo apurei, prefere fazer a indicação de um nome ligado ao seu grupo, já com atuação e perfil na área. “Tudo caminha muito bem para um entendimento”, disse uma fonte ligada ao União Brasil, partido atual de Miguel.

Oposição na Assembleia – Na Assembleia Legislativa, o grupo Coelho já vinha dando sinais também de oposição ao Governo Raquel. Basta só dar uma olhada nas últimas votações de interesse da tucana para constatar que o deputado Antônio Coelho, representante do clã na Casa, tem votado contra, engrossando o pequeno grupo de oposição.

Longe da tucana – Já em Brasília, na semana passada, o deputado Fernando Filho, representante do grupo no parlamento federal, não compareceu ao encontro que a governadora convocou com a bancada federal e os três senadores para apresentar suas prioridades para o segundo semestre. Fernando se aliou à bancada do PSB, que boicotou a reunião, tendo comparecido apenas Uchôa Júnior, que está indo também para a base de Raquel, abrindo uma dissidência na legenda socialista.

Sabia de tudo – Mensagens no celular do tenente-coronel Mauro Cid, preso desde maio deste ano, indicam que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) poderia saber da venda e do resgate das joias. O ex-ajudante de ordens é investigado por um suposto esquema de venda de presentes dados por delegações estrangeiras ao governo brasileiro.

Federal no rastro – A situação do ex-presidente também se complicou na semana passada, após declarações do hacker da Vaza Jato, como é conhecido Walter Delgatti. Durante depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga as ações criminosas de 8 de janeiro, Delgatti disse que Bolsonaro pediu que ele assumisse os grampos contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Uma fonte da Polícia Federal afirmou ao programa Fantástico, no domingo passado, que o ex-presidente sabia que Mauro Cid tentava vender e, depois, resgatar as joias.

CURTAS

LIRA 1 – O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), nega que a negociação de ministérios do governo com o Centrão esteja atrasando a votação de projetos importantes para o Planalto no Congresso Nacional.

LIRA 2 – “As especulações de que o Congresso não vai votar aquilo porque não entregou aquilo outro, o ministério A ou o ministério B, isso não existe em questões de interesse nacional. O Congresso tem dado demonstrações inequívocas, [como as votações] da PEC da Transição, do arcabouço (marco fiscal), da reforma tributária, do Carf”, declarou Lira.

Perguntar não ofende: Quantos votos Silvio Filho vai levar para o Governo da bancada de 41 deputados no Republicanos?

Fonte: Blog do Magno Martins.

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