sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

A briga pelo poder

 

Em meio a tantas declarações que fez, ontem, no anúncio da penúltima leva de ministros – 16 ao todo – o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que montar uma equipe dá mais trabalho do que uma campanha eleitoral. São interesses conflitantes em jogo por parte de partidos políticos, atritos regionais e até pessoais entre aliados.

Nunca vi tamanha sinceridade. A escolha de ministros, secretários estaduais ou municipais nunca chega a um final feliz. José Nivaldo Júnior trouxe bastidores, ontem, em postagem no jornal O Poder, da briga travada pelo senador eleito Wellington Dias (PT-PI) com a senadora Simone Tebet (MDB-MS) pelo Ministério do Desenvolvimento Social, pasta do Bolsa-Família.

No PSB, Paulo Câmara perdeu o duelo para o ex-governador de São Paulo, Márcio França, que não conseguiu emplacar o Ministério das Cidades, como queria, mas uma nova pasta para administrar portos e aeroportos. O terceiro gabinete na Esplanada dos Ministérios caiu no colo do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, o de Indústria e Comércio, que por pouco não foi entregue de volta ao ex-senador Armando Monteiro Neto.

Os socialistas acabaram sendo contemplados com três ministérios, ao invés de dois, porque Flávio Dino, senador eleito pelo Maranhão, já havia sido anunciado para a Justiça e Segurança Pública. Conflitos maiores, entretanto, Lula vai enfrentar até a próxima terça-feira, quando anuncia os 13 ministros restantes. Passa o fim de semana administrando a fominha de poder entre os partidos do Centrão, que querem pastas com orçamentos robustos.

Câmara dançou – O PSB esperava emplacar o Ministério de Ciência e Tecnologia, já que o partido tinha uma tradição na sua ocupação desde a escolha do ex-governador Eduardo Campos. Lula acabou adoçando a boca dos aliados do PCdoB, que indicou a atual vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos. Paulo Câmara, que sonhou em ter um gabinete na Esplanada dos Ministérios, ficou chupando o dedo. Terá que se contentar com uma brecha no segundo escalão ou uma diretoria de estatal.

Marília ou Paulinho – Nessa contenda quase inadministrável que Lula terá que mediar até a próxima terça-feira, além do Centrão, está o Solidariedade, partido que Marília Arraes se transferiu depois das chafurdações que enfrentou no PT. Para o Solidariedade (SD), o presidente eleito reservou o Ministério da Previdência. A disputa está sendo travada entre Marília e o presidente do partido, Paulinho da Força (SP), que ainda responde a processos desde a época em que foi ministro no Governo Lula.

A fila é grande – Falta o presidente eleito dar espaços para União Brasil, PSD e MDB. Também há negociações com PDT, Solidariedade e Cidadania. Outros partidos que apoiaram o petista na eleição, como Avante e Pros, também devem ter espaços na nova gestão. É improvável, porém, que esses cargos sejam no primeiro escalão. Esses partidos podem proporcionar poucos votos no Congresso Nacional. Até agora, foram contemplados com ministérios o PT, PSB e PCdoB.

Simone abandonada – Duas ausências chamaram a atenção no anúncio de 16 novos ministros feito, ontem, pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT): a da senadora Simone Tebet (MDB-MS) e a da deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP). Tebet, que concorreu à Presidência da República este ano e ficou em terceiro lugar, foi uma aliada importante da campanha de Lula no segundo turno e pleiteia uma pasta com relevância, com vistas a investir em seu futuro político.

Sebá no Turismo? – Mais cedo, ontem, quando divulgou os nomes de 16 futuros ministros, Lula afirmou que ainda havia espaços em seu novo governo a serem definidos. “Quem tem expectativa, não perca a expectativa”, declarou, em tom de brincadeira, provocando gargalhadas entre aliados ainda não contemplados. Ainda estão em disputa pastas como Cidades, Integração Nacional e Turismo, esta pode ir para o Avante, que tem dois nomes cotados: o presidente nacional da legenda, Luis Tibé (MG), e o deputado pernambucano Sebastião Oliveira, mais conhecido como Sebá, que foi candidato a vice na chapa de Marília Arraes.

CURTAS

FATIA DE MARINA – Ex-ocupante do cargo nos primeiros mandatos de Lula como presidente, Marina Silva era a mais cotada para assumir o cargo novamente, mas o presidente eleito está costurando outra missão para a deputada federal eleita. A ideia é que Marina assuma a Autoridade para Mudanças Climáticas, que teria status de Ministério.

NEM UM PIO – A governadora eleita Raquel Lyra (PSDB) segue sem falar uma vírgula sobre o Secretariado. Sua última postagem ontem dizia respeito a uma campanha de arrecadação de cestas básicas para o Natal da Solidariedade do Transforma Brasil e do Mesa Brasil.

Perguntar não ofende: Será que Lula entregará a Sudene a Paulo Câmara?

Fonte: Blog do Magno Martins.

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