Tradicionalmente, o período junino no Nordeste é marcado por festas e também pela participação de políticos e lideranças partidárias nessas comemorações, sobretudo em ano eleitoral. No entanto, em função da pandemia do novo coronavírus, as festividades em homenagem a São João estão suspensas e até mesmo as habituais fogueiras estão proibidas. As medidas foram tomadas para minimizar os efeitos da crise sanitária e afetam, por tabela, “a forma tradicional de fazer política”, como destaca o cientista político Antonio Lucena.
Apesar das restrições, Antonio Lucena ressalta que os atores político podem recorrer a outros meios como reuniões online” para se manter em contato com a população. Ele pondera, contudo, que essas medidas não alcançam o “mesmo nível” da participação nas festividades juninas. A cientista política Priscila Lapa, por sua vez, salienta que o São João é uma oportunidade para que os políticos mobilizem seus cabos eleitorais, direcionem recursos para patrocinar arraiais, quadrilhas e que, com a pandemia, não há possibilidade de fazer isso, tornando o momento “especialmente desafiador para quem vai disputar uma eleição”.
“A existência da pandemia nesse momento coloca as pessoas numa situação de muita ansiedade e até um clima meio de nostalgia, de você sentir falta daquilo que você não pode mais acessar. Então, uma agenda política nesse momento parece um pouco inapropriada”, argumenta Priscila. Para ela, não há clima para falar de eleição. “As pessoas estão muito desmobilizadas para o processo eleitoral. O clima da campanha ainda não chegou e não chegaria se a gente estivesse sem pandemia porque as campanhas estão cada vez mais curtas. Fica muito mais desafiador para aquelas pessoas que vão precisar repensar as estratégias de aproximação com eleitorado, a começar desta festividade”, complementa.
Prefeito de Afogados da Ingazeira e presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), José Patriota (PSB) destaca que todos os gestores municipais estão se adaptando aos meios disponíveis, mas reforça que a pandemia prejudica porque apresenta uma nova realidade. “Não tem festa. Nós temos o costume e a cultura do corpo a corpo, do abraço, mas a linha é de recolhimento, de cautela. Está tudo muito restritivo, recolhido”, explica.
O deputado federal Lucas Ramos (PSB), pré-candidato à Prefeitura de Petrolina, reforça que as festas juninas fazem parte do calendário político e eleitoral de qualquer liderança. “(Sem a pandemia) A gente estaria no maior São João do Brasil, que é o de Petrolina, aguardando o início da missa do vaqueiro no próximo domingo, e tudo isso suspenso. Esse momento requer responsabilidade por parte dos políticos, principalmente. Os políticos tem que dar o exemplo, a gente tem que experimentar uma nova forma de curtir o São João”, afirma. No entanto, ele reconhece que as restrições atrapalham esse calendário eleitoral. “Impede de estar nas ruas fazendo o que a gente mais gosta, que é trabalhando, pedindo voto, mostrando a cara”, complementa.
O também deputado estadual Sivaldo Albino (PSB), pré-candidato em Garanhuns, lamenta a falta de contato com o eleitorado. “Se tivesse dentro da normalidade - porque geralmente a convenção é em junho e julho - estaríamos na pré-campanha. Então, isso afeta diretamente no contato. A diferença é que é para todo mundo. Não é para um candidato, um político. Isso (a restrição) é para todo mundo. Até porque não tem polos para você visitar, então fica uma coisa equilibrada, mas claro que é um cenário muito ruim você não tem um contato daquilo que você é habituado a fazer, a conviver”, explica.
Joaquim Neto (PSDB), prefeito de Gravatá, que vai disputar a reeleição, por outro lado, acredita que a festa não traz, necessariamente, um retorno político. “Uma pesquisa eleitoral antes do São João e uma pesquisa eleitoral pós-São João o resultado muda muita coisa. O que muda na opinião da população nos dias atuais é a transparência nos gastos públicos, como está sendo investido na crise os recursos, como é que está no momento da pandemia nessa como o gestor está se posicionando combatendo, salvando”, argumenta. “Estamos preparando o retorno das atividades, inclusive, amanhã temos uma reunião para preparar um plano ação para mandar para secretaria de turismo, para o Embratur, para o pós-pandemia para ver o que a gente pode fazer para o retorno da economia, preparar um Natal mais na frente. Há um prejuízo? Há. Que faz 100 dias que não estamos na rua, estamos nas redes sociais interagindo, rádio, nas lives, a gente não pode está na rua, não pode ter um aperto de mão, um abraço”, acrescentou.
Já a prefeita de Cumaru, Mariana Medeiros (PP), que deve disputar a reeleição, aponta que, apesar da tradição do período, o foco é superar o novo coronavírus. “O município está tranquilo, temos apenas um óbito, mas focamos no trabalho de conscientização”, explica. O município não terá festa ou fogueiras. “O importante é salvar vidas. Vai vir o São João do próximo ano”, complementa.
Fonte: Blog da Folha de PE.
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