O tempo, sempre o tempo, senhor da razão, vai levando a governadora Raquel Lyra (PSDB) a se render aos fatos: não existe governo sem compartilhamento, não se faz gestão ignorando a política. Governo e política são irmanados, um depende do outro. Do contrário, vira uma ditadura. E ditadura, já se sabe, a história é rica em apontar seus enredos de fins melancólicos, desastrosos.
Esse preâmbulo, o velho nariz de cera na linguagem jornalística, diz respeito às primeiras nomeações políticas da tucana para o segundo escalão, atendendo aos partidos que apoiam seu Governo na Assembleia Legislativa. Ex-deputado estadual e pai de deputado, Henrique Queiroz foi mantido na presidência do Instituto de Terras, que cuida da política de reforma agrária e regularização de títulos de terras.
Ary Morais, filho do deputado Antônio Morais, que acabou de ser eleito presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa, também foi mantido no Ipem, o Instituto de Pesos e Medidas do Estado. São cargos sem muita relevância, é verdade, mas já apontam uma direção, a de que a governadora está cedendo, porque se convenceu de que o ambiente no Legislativo tem que ser de entusiasmo com o seu Governo. E dócil, também.
Dócil para grandes testes da sua força na Assembleia. Virá, muito em breve. Soube que a governadora estuda pedir um empréstimo ao Banco Mundial, algo em torno de R$ 4 bilhões. Paulo Câmara, antecessor da tucana, deixou o Estado com enorme capacidade de endividamento, mas a autorização se constituirá no primeiro grande teste de fogo para o Governo. Hoje, não há um só partido ou deputado feliz com o Governo.
A maioria não reverbera isso porque ainda é muito cedo, nem todos os cargos já foram preenchidos e nem sequer foram feitas as nomeações disputadas por todos os deputados quando se incluem na chamada base governista: as diretorias das Gerências de Educação e de Saúde, localizadas em municípios polos, mas com abrangência nos municípios de cada região. Se até lá, Raquel seguir essa receita como manda o figurino, não terá dificuldades em aprovar o empréstimo.
Finalmente, parece que Raquel começa a compreender que a política não se faz com discursos, festas populares e postagens simpáticas em redes sociais. Napoleão ensinou que política se faz curando os males, nunca empunhando a espada de Dâmocles, com espírito revanchista. Toda a vida é política quando se quer fazer da política a arte do possível e não do impossível.
A esperança é a última que morre – Tem muita gente que deu o sangue na campanha da governadora ainda à espera de um gesto dela para participar do Governo. “Se você conversar com qualquer deputado que esteve no palanque dela no segundo turno perceberá que a paciência está se esgotando”, disse um parlamentar da base aliada que, igualmente, continua no sereno, esperando a mão estendida da tucana.
Mendonça dobra Bivar – Tão logo o deputado Mendonça Filho foi eleito presidente do diretório municipal do União Brasil no Recife, o presidente da legenda em nível nacional, Luciano Bivar, acionou o seu tupamaro-mor Marcos Amaral para contestar o resultado e espalhar a ilegitimidade da escolha. Mas o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco foi mais rápido. Emitiu, na sexta-feira passada, certidão na qual reconhece e assegura a presidência de Mendonça Filho do União Brasil Recife.
Eventos suspeitos – Shows exclusivos com artistas renomados, jantar em cassino, baladas, coquetel com tudo pago em hotéis cinco estrelas, aluguel de lanchas com direito a espumante de brinde. Estas são algumas das atrações no roteiro de eventos no Brasil e na Europa oferecidos à magistratura e custeados por alguns dos maiores litigantes do País, segundo reportagem do Estadão. Os patrocinadores de seminários e fóruns com representantes da Justiça têm interesses em causas que somam ao menos R$ 158,4 bilhões entre multas, indenizações e dívidas reclamadas. Esse valor se refere a algumas das mais importantes disputas judiciais até 2022 no Brasil sob julgamento dos magistrados presentes nos eventos.
Ministro enrolado – Juscelino Filho, o ministro com quem o presidente Lula pretende se reunir nesta segunda-feira e de quem espera provas de “inocência” ao cabo de uma sucessão de denúncias, é cercado por gente igualmente enrolada. Como noticiou a coluna de Guilherme Amado, do site Metrópoles, o pai do ministro, o também político Juscelino Rezende, é réu por mandar matar um agiota e até já foi preso sob a acusação de envolvimento com roubo de carga e outros crimes. Ele chegou a ser investigado pela CPI do Narcotráfico da Câmara dos Deputados, no ano 2000.
Humberto de olho no Recife – No mesmo dia que o prefeito do Recife, João Campos (PSB), formalizou a entrega de suas secretarias ao PT, o senador Humberto Costa deixou escapar que ainda sonha em ser prefeito da capital. “Quando conversamos com o prefeito, nós colocamos claramente que a nossa discussão e participação na Prefeitura não poderia se limitar a uma questão relativa ao Recife, especialmente a eleição. A ideia é nós retomarmos o projeto estadual. Portanto, vamos discutir 2024 não só no Recife, mas no estado inteiro”, disse. Para um bom entendedor…
CURTAS
NO CABO – Se o deputado estadual Lula Cabral (SD) não entrar na disputa pela Prefeitura do Cabo nas eleições do próximo ano, seu grupo poderá se unir em torno da candidatura da sua filha Fabíola Cabral, ex-deputada. Nas eleições passadas, ela disputou um mandato na Câmara Federal, teve uma votação expressiva, mas não chegou.
ADESISTA – Em Agrestina, o prefeito Josué Mendes (PSB) vai acabar sendo eleito por aclamação. Voz mais combativa no campo da oposição, a ex-vereadora Valéria Nascimento, do PP, acabou de aderir ao grupo do gestor. Em política, nunca se pode dizer dessa água jamais beberei.
Perguntar não ofende: Qual será o próximo político a ser nomeado por Raquel?
Fonte: Blog do Magno Martins.
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