quarta-feira, 26 de maio de 2021

Visão de especialistas

 


Após três semanas de atuação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o saldo para o governo de Jair Bolsonaro não é nada positivo, avaliam analistas políticos. Se por um lado as testemunhas ouvidas não trouxeram revelações bombásticas sobre a atuação federal na pandemia, de outro os depoimentos serviram para detalhar com mais profundidade falhas da gestão Bolsonaro que já eram conhecidas, como a demora para fechar contratos na compra de vacinas e a reação insuficiente ao colapso do sistema de saúde do Amazonas.

"O efeito que me parece mais concreto (da CPI) é cristalizar uma rejeição alta do governo. Se de fato esse cenário ocorrer, já é suficientemente relevante porque, com a rejeição ao governo em torno de 50% do eleitorado, me parece que é um patamar que sugere transição eleitoral em 2022", analisa o cientista político Rafael Cortes, da Consultoria Tendências. "Se a CPI fortalecer essa rejeição (à gestão Bolsonaro) isso significa diminuir o peso eleitoral de uma eventual retomada da economia ou da tentativa do governo de surfar no avanço da imunização", acrescenta.

"Se tem uma coisa certa na CPI é de que a simples existência dela vai ter impacto na eleição. Os demais desdobramentos, se vai ter punição ou não de ministro, se vai chegar ao presidente da República com processo de impeachment, isso é duvidoso. Mas com certeza vai trazer desgaste ao Bolsonaro no eleitorado que tinha dúvida da conduta do governo na pandemia", diz, por sua vez, o analista político Antônio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que acompanha de perto o funcionamento do Congresso.

Para Rafael Cortez, uma das principais mensagens da CPI é "simples", mas com potencial muito negativo para Bolsonaro: "a mensagem de que o governo não comprou vacina", resume. Por isso, ele destaca como um dos momentos mais importantes da CPI até agora o depoimento do gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo. "O diretor da Pfizer prestou um depoimento neutro do ponto de vista mais político e acho que trouxe evidências da opção do governo pela não vacinação logo de início na pandemia", acrescenta.

O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, nega que o governo tenha deixado de responder ofertas da Pfizer no ano passado e culpa as cláusulas do contrato pela recusa às propostas. Segundo o ex-ministro, o governo não concordava com exigências como a isenção de responsabilidade por efeitos colaterais, transferência do fórum de decisões sobre questões judiciais para Nova York, pagamento adiantado e não existência de multa por atraso de entrega.

Vacinados são 20% – O número de pessoas vacinadas com ao menos uma dose contra a covid-19 no Brasil atingiu a marca de 20,09% da população. Em números absolutos, são 42.539.769 brasileiros com a primeira dose aplicada até o momento. Os dados são compilados pelo consórcio de veículos de imprensa. Em termos proporcionais, o Rio Grande do Sul é o Estado que mais vacinou: 25,82% dos seus habitantes receberam ao menos a primeira dose. A porcentagem mais baixa é encontrada em Rondônia, onde apenas 12,26% receberam a vacina. Já em números absolutos, a maior quantidade de vacinados com a primeira dose está em São Paulo (10,62 milhões), seguido por Minas Gerais (4,52 milhões) e Bahia (3,18 milhões).

O foco em UTIs – O secretário de Saúde, André Longo, diz que Pernambuco possui o 6º maior quantitativo de leitos de UTI para a Covid-19 na rede pública do País e o maior entre os estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste e que está ampliando. Desde março, segundo ele, foram abertas 700. Dos 2,9 mil leitos na rede de assistência à Covid-19, 1,7 mil são de UTI, ainda de acordo com o secretário. André garante que, nos próximos dias, outros 30 leitos de UTI serão colocados em operação nas cidades de Bezerros, Caruaru e Garanhuns, no Agreste.

Fim da estabilidade – A proposta de reforma administrativa que está sendo votada pela Câmara dos Deputados, por iniciativa do Governo, retira a estabilidade dos servidores públicos que vierem a ser contratados depois que o texto entrar em vigor. Também estipula que sejam aplicadas avaliações periódicas de desempenho. O projeto é uma das prioridades para o ministro da Economia, Paulo Guedes, que desde, ontem, tem acompanhado passo a passo a discussão e votação da matéria na Comissão de Constituição e Justiça da Casa.

Manifestação e propostas – As Centrais Sindicais entregarão aos presidentes Arthur Lira (Câmara) e Rodrigo Pacheco (Senado), hoje, uma lista com 24 propostas em discussão no Congresso que consideram merecer atenção prioritária. A lista será entregue depois de uma manifestação programada para Esplanada dos Ministérios. Tradicionalmente, as centrais sempre dialogam em torno de pautas em comum. Mas a ação inédita de divulgar uma agenda prioritária é resultado da falta de interlocução do governo com os representantes dos trabalhadores. Com o fim do Ministério do Trabalho, Bolsonaro conseguiu unir movimentos de interesses conflitantes em torno de uma pauta em comum.

O alvo predileto – Relator da CPI da Pandemia, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) pegou no pé do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que deve estar sendo convocado novamente para depor na comissão. “Ele tripudiou sobre os brasileiros ao participar de um ato com o presidente Jair Bolsonaro, no Rio, sem usar máscara e promovendo aglomerações”, disse o senador alagoano. A convocação do general será submetida, hoje, à votação dos integrantes da CPI. "É importante encaminhar a reconvocação para que não pairem dúvidas de que nós nos consideramos ofendidos", observou Renan.

CURTAS

Olho da rua – O ano de 2020 foi responsável por modificar a vida de milhares de cearenses. Com a pandemia da Covid-19, a estabilidade foi transformada em desespero para cerca de 66 mil trabalhadoras domésticas, que foram demitidas. O segundo trimestre do ano passado, que corresponde os meses de abril a junho, foi o que teve maior número de demissões, chegando a 93 mil.

Boa notícia – Um lote com três mil litros de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) desembarcou, ontem, no Brasil, para produção de cerca de 5 milhões de doses da CoronaVac pelo Instituto Butantan. Com isso, a fabricação da vacina contra a Covid-19 será retomada pela instituição. A produção foi interrompida na semana passada devido à falta da matéria-prima.

Perguntar não ofende: Por que nenhum aliado de Geraldo Covidão se posiciona sobre o relatório do Ministério Público Federal?

Fonte: Blog do Magno Martins.

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