segunda-feira, 13 de março de 2023

Os erros e recuos de Raquel

 

A governadora Raquel Lyra (PSDB) caminha para completar os primeiros 100 dias de gestão, tempo que a oposição chama de trégua, para começar a julgar. Como a tucana não tem voz destoante na Assembleia, mas uma chamada “bancada independente”, esse tempo tende a ser muito mais elástico. Mas, aqui com os meus botões e os de vocês também, caros leitores, não consigo entender o que é deputado independente.

Agamenon Magalhães dizia que em política só existem dois lados – governo e oposição. A eleição da primeira mulher governadora de Pernambuco deu cria, consequentemente, a uma terceira variante – a dos independentes, que, na verdade, são os que estão em cima do muro. Ficarão nele ou não a depender das conveniências ou dos assuntos não republicanos a serem tratados no Palácio das Princesas.

Antes dos 100 dias, gostaria de tratar aqui de um detalhe que vem me intrigando: os erros e atropelos de Raquel. Alguns, inclusive, que nos levam a desconfiar do seu preparo para o cargo e do nível da sua assessoria. No último fim de semana, por exemplo, ela nomeou o dirigente da Junta Comercial (Jucepe) ignorando uma lei federal, que diz que deve ser escolhido não por uma canetada, mas eleito pelos vogais do plenário da instituição.

No afã de dizer que o seu governo cuida da segurança da população, a governadora chegou a dizer que colocaria 50 mil policiais nas ruas, quando o efetivo total da Polícia Militar é de 16 mil. No episódio do novo presidente do IPA, o ex-prefeito de Gravatá, Joaquim Neto (PSDB), ela assinou a nomeação dele, mas no mesmo Diário Oficial esqueceu de assinar a portaria para exonerar do que estava no cargo, gerando memes pelas redes sociais com o IPA tendo dois presidentes.

Isso sem falar nas idas e vindas de Raquel, que nos bastidores é chamada de “Requel”, por tantas marchas à ré que deu na largada do seu Governo. A mais gritante diz respeito a republicação do decreto da vassourada dada em 2,7 mil servidores. Ela havia posto todos os 2,7 mil comissionados no olho da rua, mas depois recuou. Na nova versão, excluiu servidores da educação, porque não sabia – nem ela nem a equipe – que janeiro era período de matrículas na rede estadual de ensino.

A governadora adicionou à lista as “equipes gestoras nas escolas regulares e nas escolas técnicas e de referência mencionadas no art. 2º do Decreto 45.507, de 28 de dezembro de 2017”. Além disso, a tucana alterou a redação de outro ponto polêmico: o que tratava da revogação das cessões dos servidores estaduais.

Diante disso, até hoje, passados mais de 70 dias de gestão, muitas repartições continuam sem funcionar por falta até de quem assine documentos. Outra mancada de marcha à ré também se deu no futebol. O Sport por pouco não perde o mando de campo contra o Bahia no Recife, porque era uma quarta-feira de Cinzas e ela mandou dizer que seu governo não tinha como garantir a segurança.

Quem manda! – Ainda no campo esportivo, a Justiça Desportiva passou por cima de um decreto da governadora que proibia duas torcidas em clássicos. O jogo Náutico X Sport, no último dia 4, foi realizado, sim, com as duas torcidas, virando letra morta a palavra da tucana. Sem esperar qualquer manifestação da governadora, a Federação Pernambucana de Futebol liberou, no mesmo dia, a venda de ingressos também para a torcida do Sport, uma vez que o jogo foi realizado nos Aflitos. Isso põe abaixo a velha máxima, também de Agamenon, que dizia: “Ninguém governa governador”.

Jogou errado – Nos meios políticos, ninguém entendeu a nomeação de um aliado do ex-deputado Raul Henry (MDB) para a Junta Comercial. Mesmo sendo um órgão sem muita importância dentro da estrutura administrativa do Estado, não cabe no princípio elementar da política um sem-mandato indicar apadrinhado para qualquer cargo, mas os que foram eleitos e podem ser úteis para o Estado. No caso do MDB, a única deputada federal eleita foi Iza Arruda, filha do prefeito de Vitória, Paulo Roberto.

Restrição de turistas – Enfim, a União e o Governo de Pernambuco chegaram a um acordo para gestão compartilhada do Arquipélago de Fernando de Noronha, fechado entre a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e a Advocacia Geral da União (AGU). A gestão da ilha vinha sendo disputada entre o estado e o governo federal judicialmente desde março de 2022. Pelo acordo, entretanto, o número de turistas no arquipélago não poderá ultrapassar os 11 mil por mês, nem 132 mil ao ano, até que um novo estudo de capacidade seja feito.

Lula pelo piso – Após a Justiça proibir a realização da greve de enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem na rede estadual em Pernambuco, as categorias voltaram ao trabalho sábado passado, segundo dirigentes do Sindicato Profissional dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem de Pernambuco. Os profissionais cobram o pagamento do novo piso nacional da enfermagem, que foi definido em R$ 4,7 mil. O valor foi aprovado pelo Congresso e sancionado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em agosto de 2022. Auxiliares e técnicos de enfermagem, porém, vão manter a paralisação.

Altair de volta – Em Palmares, o desgastado prefeito Beto da Usina (PP) já está convencido de que seu principal adversário será o ex-prefeito Altair Júnior (MDB), com amplas chances de voltar a gerir o município. Há quem diga que Beto não será candidato, mas pena para encontrar um nome capaz de impedir a volta de Altair, que já aparece liderando em todas as pesquisas internas. Beto paralisou obras, não paga os prestadores de serviço em dia e vem perdendo aliados de peso.

CURTAS

NOMEAÇÕES – Enquanto aguarda a aprovação das mudanças na lei das estatais para nomear Paulo Câmara para o Banco do Nordeste, o presidente Lula mexe no Conselho de Administração do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Um conselheiro do BNDES recebe R$ 8,1 mil. O valor contempla as reuniões mensais e as extraordinárias. Em 2022, foram 51 encontros, média de quatro por mês.

INTEGRANTES – Entre os novos conselheiros do BNDES estão a ex-ministra de Meio Ambiente Izabella Teixeira, que atuou no segundo mandato de Lula e no governo de Dilma Rousseff (PT), e o climatologista Carlos Nobre. A entrada deles, segundo o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, visa a uma “transição ambiental” no banco.

Perguntar não ofende: Lula destrava o restante do segundo escalão federal esta semana? 

Fonte: Blog do Magno Martins.

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