terça-feira, 1 de novembro de 2022

Por um Brasil menos desigual

 

As eleições do último domingo revelaram a face de um Brasil profundamente dividido. De um lado, as regiões com populações predominantemente brancas, europeias, votaram massivamente em Bolsonaro. De outro, as regiões mestiças votaram fortemente em Lula. Essa divisão étnica é uma apartação ameaçadora.

Pode, inclusive, ser notado nas cidades do próprio Nordeste, pois nos bairros “nobres” e “brancos” Bolsonaro dominou, enquanto nos periféricos e escuros Lula teve a mais avassaladora vitória. A verdade que dói, e não pode calar, é que o fim da escravidão no Brasil não foi nenhuma libertação e sim a condenação dos antigos escravos a seres à parte, jogados aos seus próprios destinos de miséria e dor.

E isso persiste até hoje. Basta ir a qualquer bairro pobre para se notar, em qualquer região do Brasil. E, lógico, o Nordeste recebeu um legado muito mais antigo que o Sul e os interiores do Sudeste. E daí nasce um racismo, preconceito criminoso contra os nordestinos. Isso é visível e é uma obrigação moral e política que Lula deve assumir. Quem garantiu a vitória a Lula foi, sem dúvida, o Nordeste.

E os nordestinos têm o dever de cobrar de Lula tratamento digno para libertar todos, especialmente os menos abastados. O Nordeste não quer esmolas, dinheiro a fundo perdido. Deseja investimentos que levem à inclusão produtiva dos que hoje vivem na mais abjeta pobreza.

É hora de todas as correntes políticas buscarem se unir e pressionar Lula para que se digne a realmente dar prioridade ao Nordeste e, sobretudo, aos mais miseráveis e abandonados. Que essa terceira chegada de Lula ao poder possa ter um significado realmente histórico para fazer do Brasil um País menos desigual.

O peso nordestino – Em números absolutos, Lula conquistou mais votos no Nordeste em comparação com a eleição de 2018. Foram 2,2 milhões de votos a mais, devido ao crescimento do eleitorado de um ano para o outro. Em 2014, Dilma foi reeleita com 71,7% dos votos nordestinos. Em 2010, a petista teve 70,6% na região. O maior apoio que a região já deu a um candidato a presidente aconteceu em 2006, na reeleição de Lula: 77,1% dos votos. Em 2002, Lula marcou 61,5% no Nordeste. Dentre os estados nordestinos, Piauí e Bahia deram a maior vantagem, tendo Bahia dado 71% de votos neste segundo turno.

Governadores especulados – Vários gestores nordestinos estão cotados para o Ministério de Lula: Rui Costa (PT), da Bahia, Paulo Câmara (PSB), de Pernambuco, Camilo Santana (PT), do Ceará, o ex-governador do Piauí, Wellington Dias (PT), o ex-governador de Alagoas e senador eleito Renan Filho (MDB), além do ex-governador da Bahia, Jacques Wagner. Também na aposta o ex-governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).

Sertão marilhou – Se dependesse do Sertão, de Sertânia até o São Francisco, a governadora eleita Raquel Lyra não teria colocado uma frente tão ampla contra Marília Arraes. As expressivas votações da tucana se deram no Recife, Região Metropolitana e Agreste. No Sertão do Pajeú, por exemplo, Marília venceu em 11 dos 17 municípios, obtendo 98.930 votos ante 88.365 votos da tucana. Já no São Francisco, Raquel só ganhou em Petrolina e Dormentes.

Derrota no Sudeste – Os aliados de Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais reclamaram nas últimas semanas dos eleitores do Nordeste, que teriam sido os principais responsáveis pela vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Embora o petista de fato tenha vencido entre nordestinos, a análise dos bolsonaristas está errada. Na realidade, ele perdeu por causa do Sudeste. Em 2018, no chamado “Triângulo das Bermudas da política” (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), o presidente teve 65,5% dos votos válidos. Agora, foram só 54,1%.

Monteiro festeja – O deputado Fernando Monteiro (PP) comemorou os resultados favoráveis à governadora eleita Raquel Lyra em pelo menos três municípios do Sertão em que atua: Dormentes, Serra Talhada e Arcoverde. Em todos eles, na eleição de 2 de outubro passado, Monteiro foi majoritário. Na disputa de segundo turno, o deputado atuou fortemente em suas bases no Estado para garantir a vitória da tucana, a quem se alinhou logo na largada do segundo turno depois de apoiar Danilo Cabral (PSB) no primeiro turno.

CURTAS

COTADO – O que se diz em Caruaru é que André Teixeira Filho, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico na gestão de Raquel Lyra, teria lugar garantido no primeiro escalão da agora governadora eleita. Conhecido como Andrezinho, é formado em Direito e atua também no ramo da gastronomia.

PRIMEIRA FALA – Durante a entrevista, ontem, ao NE-TV, a governadora eleita Raquel Lyra prometeu concluir obras, gerar empregos e investir na criação de creches e na educação. Também disse que iria ter representatividade feminina no seu governo e desenvolver políticas públicas voltadas para a população LGBTQIA+, além de investir no turismo e na cultura, entre outros setores.

Perguntar não ofende: Qual Ministério Lula entregará ao governador Paulo Câmara, nome a ser indicado pelo PSB?

Fonte:Blog do Magno Martins.

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