sexta-feira, 14 de maio de 2021

A operação proibida

 

Dando sequência aos bastidores envolvendo a maior crise do Grupo João Santos, que tem mexido fortemente nos mais amplos segmentos da sociedade, julguei, antes de entrar no capítulo de hoje, ser essencial esclarecer que as informações que trago ao conhecimento público são passadas e checadas por fontes conhecidas, através também de pessoas que, espontaneamente, têm me procurado.

Entendo que o interesse despertado tenha se dado – e continua gerando grandes curiosidades – em função da matéria envolver um grupo poderoso, que já foi muito rico, reinou absoluto em Pernambuco, mandando nos reis da política e nos donos dos cofres públicos. Depois da primeira postagem desta série, tenho recebido uma enxurrada gigantesca de informações, obrigando-me a separar o joio do trigo, como deve ser feito na acertada apuração jornalística.

São ex-funcionários do grupo, servidores de Fernando e Lena, pessoas que tiveram ligações íntimas tanto com Osvaldão, como era conhecido Osvaldo Rabelo, ex-presidente da Assembleia Legislativa, como o ex-deputado Osvaldo Rabelo Filho, o Osvaldinho, herdeiro do comendador, além de familiares e figuras dos mais variados tipos de relacionamentos, principalmente no campo amoroso.

Aprendi lendo Paulo Cavalcanti e sigo inspirado no seu grande ensinamento no livro “O caso eu conto como foi”. No meu caso, o caso eu conto como me contam. Não existe nada pessoal. Dou ouvidos a todos que possam, mesmo no anonimato, a colocar suas experiências vividas no grupo. Na sequência do que narrei, ontem, por exemplo, colhi informações na própria família Santos sobre fatos que apontam outro desenlace para o que aconteceu, verdadeiramente, com João Carlos Noronha, o neto supostamente amado do patriarca.

Consta que a equipe de auditoria do grupo identificou que ele estava realizando manipulações financeiras. Com milhões de reais desviados, segundo me contaram, chegou a tirar do papel o projeto de industrialização e comercialização de uma marca de cerveja que ficou famosa na Hit Society do Recife, até pelo nome provocador: “Proibida”.

Ganhou projeção nacional com a publicidade das beldades tchecas da foto acima. Recebi a informação que João Carlos vendia cimento fraudando o grupo ao desviar os pagamentos para seu próprio bolso. Ele teria feito, dentre outras estripulias, um acordo com uma das maiores e mais famosas construtoras de Pernambuco, oferecendo preços e condições especiais. Só, pasmem, o pagamento se dava em outra moeda, em imóveis, apartamentos de alto luxo.

Ele recebia os imóveis em seu nome próprio, vendia e ficava com o dinheiro. Só que, no sistema de registro da empresa, esse pagamento só seria realizado muito tempo depois, driblando auditorias, para ninguém da família identificar a fraude. Soube que a famosa construtora apresentou toda a documentação e entregou declarações oficiais de tudo que aconteceu.

A quitação de pagamento era dada por João Carlos na medida em que recebia os apartamentos, imediatamente repassados por ele próprio a terceiros. Tudo isso passou despercebido por cada uma das instâncias internas de controle do grupo. Uma única coisa estranha que não entendi: por que Fernando Santos não entrou com um processo criminal por estelionato?

Soube, por fim, que Fernando não queria criar traumas com sua irmã, a mãe de João Carlos, já que a mesma, na época, enfrentava problemas delicados de saúde. Mesmo assim, algo, convenhamos, que não explica não levar o fraudador às barras dos tribunais de justiça.

Vaidade extrema – Segundo pessoas que trabalharam com João Carlos, o neto da paixão alucinante de João Santos, era vaidoso, um pavão na verdadeira expressão da palavra, gastador e temido pela equipe pelo seu mau humor e destempero verbal. João Carlos acreditava na promessa sabiamente plantada pelo avô de que o neto que fosse mais capaz, esforçado e que cuidasse da família, ganharia em seu testamento uma participação diferenciada e ele achava que seria o escolhido.

Caiu do cavalo – Só que João Carlos, o Don Juan da família Santos, caiu do cavalo, para infelicidade sua, quando o avô faleceu e não deixou testamento em cima da sua grande, cobiçada e perseguida herança. Tudo porque, na verdade, inflamado por Fernando Santos, não conseguiu conquistar a confiança absoluta do avô. Foi acometido de uma grande revolta, uma fúria maligna, mas logo em seguida colocou as unhas de fora mostrando o motivo pelo qual o avô, sabiamente, percebeu que não podia confiar nele.

Marcas negativas – João Carlos deixou duas marcas negativas que pesam contra um executivo. Primeiro, o de maus tratos com os funcionários, revelando-se pavio curto e temperamental, deixando, quando o castelo ruiu, uma saudade aliviada entre todos os funcionários do grupo, que o temiam, sendo vítimas de seus destemperos. O segundo está revelado ou manifestado no seu carácter, pois deixou a direção da empresa após cometer muitos ilícitos julgados extremamente graves pela família.

Sucesso nacional – A empresa Companhia Brasileira de Bebidas Premium (CBBP) foi fundada por João Carlos em Pindoretama, no ano de 2008, quando o seu avô ainda estava vivo. Conforme informações da época, o investimento da “Proibida” foi da ordem de R$ 120 milhões. João Carlos foi o líder do projeto e teve como sócios José Aécio Vieira e Dante Peló. A “Proibida” foi um sucesso nacional e consta que João Carlos vendeu o negócio para um grande grupo. Com isso pode receber um grande volume financeiro. Familiares consideram que tudo foi baseado no dinheiro desviado da família.

Caso das Tchecas – Julgando-se poderoso, o neto montou um esquema de entrega de cimento com a transportadora LNK Transportes Ltda, que acabou monopolizando a retirada do produto com transferência aos diversos depósitos abastecidos pela fábrica da Itapessoca. Posteriormente, os sócios da mesma transportadora passaram a ser grandes atacadistas nos estados da Bahia e Sergipe, com condições especiais de comercialização. Tudo isto, vale a ressalva, tendo a participação oculta dele (João Carlos), beneficiário dos desvios da operação. Foram vários apartamentos nos mais luxuosos prédios construídos à época na Av. Boa Viagem, alguns valendo hoje mais de R$ 6,5 milhões. Estima-se que só nestas operações o desfalque teria chegado a R$ 30 milhões. Durante sua gestão frente à cerveja Proibida, foi condenado em ação movida pela Rede TV no episódio conhecido como o “Caso das Tchecas”.

CURTAS

SEM OSTENTAÇÃO – Em postagem, ontem, pelas redes sociais, o jornalista Aldo Paes Barreto, que trabalhou no Grupo João Santos, afirmou o seguinte: “Trabalhei com Fernando Santos. Se não é santo, também não é o demônio que estão pintando. O Fernando que conheci era generoso, leal e nunca foi de ostentação. Vestia-se sobriamente. Camisa de margas curta e relógio comum”.

PROVA JUDICIAL – Chegou uma informação de que ocorreu uma ação trabalhista contra o neto João Carlos, na qual chegou a ser condenado e obrigado a indenizar um funcionário que trabalhava no Grupo, mas que, ao mesmo tempo, foi usado para se envolver diretamente nas atividades para montagem da Cervejaria Proibida.

Perguntar não ofende: Já que foi João Carlos que esteve por trás da operação da Polícia Federal, por que Fernando Santos não entrega agora o caso do sobrinho João Carlos também à polícia?

Fonte: Blog do Magno Martins.

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