quinta-feira, 13 de maio de 2021

A guerra dos “Santos”

 

No mergulho que fiz nos últimos dias em torno do Grupo João Santos, um dos mais poderosos na produção de cimento no País, a partir dos refletores da operação da Polícia Federal, a maior dos últimos tempos envolvendo uma entidade privada, fui fundo na raiz do problema. Constatei, por exemplo, que nos anos 90 o Grupo chegou à beira da falência por conta das dívidas que já se avolumavam de forte descontrole administrativo.

Apurei que o velho João Santos já havia praticamente deixado de comandar o conglomerado deixando na linha de frente o seu filho Fernando, responsável por tocar o dia-a-dia. Ocorre que por conta da eminente quebra, o fundador do grupo teve que retomar as rédeas dos negócios e terminou por evitar a falência. Por conta desse susto quase mortal, João Santos decidiu não mais confiar unicamente no filho Fernando.

Assim, trouxe para o coração da empresa, com sede no Recife, o neto João Carlos Noronha, o qual considerava muito capaz e brilhante. Na prática, estava criando o caminho para sua própria sucessão. Ao seu lado, João Santos começou a passar para o neto predileto todos os segredos de como conduzir o complexo empresarial que havia criado. Foi o estopim, no entanto, para a montagem de uma verdadeira guerra, chegando ao ponto de o poderoso Fernando Santos fazer juras de destruição do sobrinho, que considerava o inimigo importado de São Paulo.

De nada adiantou, porque, a cada dia, o velho se apaixonava muito mais pelo neto preferido. João Carlos passou a ter destaques não apenas dentro do grupo, mas também fora, inclusive no ambiente político e social. Ficou amigo íntimo de figuras nacionais, a exemplo de Aécio Neves, que chegou a disputar à Presidência da República, que se hospedava no palácio de João Carlos, construído na já famosa e belíssima ilha de Itapessoca, em Barra de Catuama.

A rivalidade entre o sobrinho e o tio ficou ainda mais explosiva quando João Carlos engravidou uma das filhas de Fernando, gerando um drama familiar ainda mais latente. Tal fato tornou incontrolável o ódio de Fernando contra o sobrinho, pois tanto João Carlos quanto a sua prima eram casados com pessoas da alta sociedade. Como João Carlos é um clássico “Don Juan”, verdadeiro caçador, aventureiro do amor, isso foi mortal para que perdesse as condições morais e deixasse a posição de potencial comandante do império.

O seu tio Fernando, naturalmente, usou as mais incríveis artimanhas para destruir o rival, não só quanto ao elemento do comportamento de conquistador e destruidor de lares de João Carlos. Também passou a fazer acusações quanto à honestidade do sobrinho. Essa guerra da sucessão foi fundamental, tanto para selar a liderança de Fernando após a morte do fundador, mas também como semente da destruição que se revelou na chamada “Operação Background”. João Carlos e outros sobrinhos, também ofendidos e humilhados pelo tio Fernando, tinham em seus poderes o mapa da mina, sabiam os caminhos para detonar todo o império Santos.

Daí a razão de o Ministério Público Federal e a Polícia Federal terem recebido tudo mega detalhado, percorrendo os caminhos e as pistas traçadas pelos sobrinhos para pegar pelo menos parte do que foi desviado. O que os sobrinhos ainda querem é que se descubra onde estão os bilhões levados ilegalmente ao exterior.

Jatinhos de dólares – O blog apurou, também, que o poderoso Fernando Santos tinha “olheiros” na Polícia Federal, que informavam quando os jatinhos da família iam para o exterior e seriam inspecionados. Nas situações sem inspeção, procedia-se a cargas de valores incalculáveis de dólares e euros, que seriam depositados em bancos de segunda linha de paraísos fiscais, sem deixar rastros existentes com remessas oficiais. Osvaldo Rabelo Neto Pereira dos Santos, “filho” de Fernando com Lena, era diretor da Weston Taxis Aéreo, que controlava toda a frota de jatinhos e de helicópteros de Fernando e família.

O mapa da “mina” – Também levantei, com fontes as mais variadas ligadas à família, que a Polícia Federal ainda não conseguiu concluir todo o trabalho detalhado da operação, de grande repercussão nacional, que chocou profundamente o principal herdeiro e todos os descendentes do velho. Os sobrinhos, que se acham lesados por Fernando Santos, esperam que se faça um rastreamento completo para onde foram todos os voos internacionais das aeronaves da Weston, para depois iniciar um processo de investigação policial pela Interpol em todos os bancos desses destinos suspeitos.

Riqueza inalcançável – O temor que domina os herdeiros do velho João Santos é que a maior parte dos recursos desviados possa ficar fora do alcance das autoridades policiais. Com isso, os filhos de Lena serão os grandes beneficiados finais da riqueza que a família considera ter legítimo direito. Abalado e doente, Fernando Santos está em estado de choque. Jamais imaginou, nos piores pesadelos, que vivenciaria esse momento de terror e penúria. Conhecidos do casal nos informaram que ele anda tenso, apresentando problemas cardíacos.

Silêncio estranho – A família Santos está profundamente desapontada com o governador Paulo Câmara Lenta e o ex-prefeito do Recife, Geraldo Covidão, ambos do PSB. Até agora, já praticamente decorridos oito dias da operação da Federal, não houve nenhuma manifestação da dupla “dinâmica” que tanto vivia a bajular o “doutor” Fernando. Enquanto isso, espera-se que o Ministério Público de Pernambuco iniciei de imediato a investigação sobre a compra superfaturada do terreno da Fiat em Goiana.

Fugindo da raia – Até aliados recentes da família estão agora fugindo de Fernando. A butique Dona “Santa” emitiu nota oficial garantindo que não tem nada a ver com a dinheirama que a Polícia Federal aponta ter circulado na casa de roupas chiques. O ex-deputado Pedro Corrêa, por sua vez, foi o único que tomou a iniciativa de defender Fernando Santos: “Só tenho, eu e minha família, gratidão pelas ajudas nas minhas campanhas eleitorais e por nossos almoços, jantares e passeios de lancha. Fernando é um patriota e tinha uma preocupação enorme com a desigualdade no Brasil. Eu e minha família somos eternamente gratos a ele e desejamos que ele atravesse essa crise e volte a ser o grande empresário que sempre foi”.

CURTAS

EXPULSÃO DUPLA – João Carlos Noronha, o neto querido, sofreu um massacre em dobro. Foi retirado por Fernando Santos de forma humilhante do grupo empresarial e também expulso de sua própria casa que construiu na ilha de Itapessoca, o palácio milionário no canal de águas azuis na Barra de Catuama, que Fernando tomou para si próprio.

IRONIA DO DESTINO – O ex-deputado Oswaldo Rabelo Filho, o Oswaldinho, como era tratado pela família e amigos próximos, perdeu o seu grande amor, a esposa, para Fernando Santos, mas os seus filhos podem ficar com tudo o que restou da fortuna do seu “muy” amigo. Na verdade, o blog apurou que a parte oculta e inatingível está em paraísos fiscais no exterior.

Perguntar não ofende: Por que só o ex-deputado Pedro Corrêa, ainda cumprindo prisão domiciliar pela operação Lava Jato, defendeu Fernando Santos?

Fonte: Blog do Magno Martins.

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