sexta-feira, 2 de abril de 2021

Lula voltou ao jogo e está com gosto de gás

 

Primeiro, uma série de entrevistas a veículos internacionais, como CNN (Estados Unidos), Le Monde (França) e Der Spiegel (Alemanha). Credibilidade, holofotes e repercussão no mundo inteiro. Terreno preparado, reestreia em casa. Ontem, o ex-presidente, Lula, voltou a falar com a imprensa brasileira, concedendo uma longa entrevista a um dos maiores e mais ácidos críticos dos seus governos, o jornalista Reinaldo Azevedo, do Grupo Bandeirantes e da Folha de São Paulo. A moral da história pode ser resumida na manchete desta coluna: Lula voltou ao jogo e está com gosto de gás.

Mestre na arte da comunicação, Lula só ganhou a entrevista toda. Em linguagem coloquial, acessível a todos, no melhor estilo bonachão, mostrou o que sabe fazer de melhor: convencer pessoas. E foi cirúrgico. De assumir o papel de liderança mundial pró-ciência e vacina contra a covid, a crítico ferrenho a Jair Bolsonaro, antecipando o grande embate de 2022. Aliás, perdoem-me as palavras, mas Lula deu um verdadeiro pau em Bolsonaro, mostrando que o atual mandatário do Palácio do Planalto vai ter que rebolar muito se quiser vencê-lo no argumento na disputa presidencial que se avizinha.

Em suma, Lula classificou Bolsonaro como incapaz, incompetente, tosco e mal intencionado. Para o ex, o atual não tem a menor condição de liderar o país, nem na pandemia e nem na tão necessária retomada da economia. Ao defender sua exitosa política econômica, foi para cima também do ministro da Economia, Paulo Guedes, a quem acusou de só pensar em vender o patrimônio brasileiro. Irônico, chegou a questionar o que danado esse “mercado” tem de tão importante para todo mundo ter medo dele.

Mais do que um showman, Lula é um animal político por excelência. Possui uma genial capacidade de ler o jogo e antecipar cenários. Já viu que tem viabilidade novamente. No meio de sua fala a Reinaldo Azevedo, fez vários testes de argumentos para serem usados na campanha, a exemplo de retomada do crescimento, gestão com foco nos mais pobres e geração de empregos, bandeiras das suas administrações, além do controle da pandemia. Lula sabe que seu adversário é Bolsonaro. E está criando o terreno para se favorecer das fraquezas do concorrente no pleito de 22. Essa disputa já pegou fogo.

SEM AUTOCRÍTICA – Apesar da insistência de Reinaldo Azevedo, que conduziu a entrevista com leveza e até bom humor, Lula, mais uma vez, evitou fazer uma autocrítica do PT e admitir os erros do seu partido e dos governos de Dilma Rousseff. Preferiu amenizar e fazer loas à cria política, destronada por um Impeachment em 2016. A postura em nada ajuda a diminuir o sentimento do fenômeno do antipetismo, que foi crucial para a vitória de Jair Bolsonaro, em 2018, frente a Fernando Haddad. Lula, que tem o dom de humanizar as jornadas, como diria Lumena, precisa assumir onde errou, até para ser visto com compaixão pelos que o não querem Bolsonaro, mas não aceitam votar no PT. Fica a dica.

MAGALU – Outro assunto que Lula saiu pela tangente foi quanto à possível indicação da empresária Luiza Helena Trajano, dona da Magazine Luiza, para a sua vice, como se especula fortemente nos bastidores. Lula disse que não acredita que a chefona da Magalu, com a sua história de vida construída com muito esforço, tope se aventurar na política partidária. A verdade é que o ex-presidente sonha acordado em repetir o modelo de chapa vitoriosa em duas eleições (2002 e 2006), com ele na cabeça acompanhado de um empresário(a) na vice. Bastava ver a felicidade com a qual Lula falou da sua dobradinha, com José Alencar, ex-vice-presidente e empresário de sucesso já falecido.

CENTRO – Em sua fala, o ex-presidente lembrou ainda a tática utilizada para vencer a eleição em 2002, depois de três derrotas consecutivas. Lula disse que não queria ser o candidato dos 30% de sempre. Por isso, foi atrás de votos e apoio no Centro, o que resultou na sua vitória. Com isso, deixou claro que não disputará novamente o Palácio do Planalto apenas no espectro da esquerda. Vai fazer um movimento em busca de parcerias mais à direita. Para tal, não economizou ironias a nomes desse bloco como João Doria, Luciano Huck, Luiz Henrique Mandetta, Eduardo Leite e a seu agora ex-algoz Sérgio Moro.

PERDIDO – Um dos pontos que Lula pegou no pé de Bolsonaro serve até de alerta para o atual presidente. Segundo o petista, Bolsonaro só fala para a sua base, que o escuta e reproduz qualquer asneira que o capital disser. Como presidente, para Lula, Bolsonaro tem de falar para o país inteiro. Liderar, procurar líderes mundiais, assumir protagonismo na vacinação. Tudo que o atual presidente não faz e que ele, Lula, está fazendo porque encontrou uma brecha. Prova disso é que, enquanto o petista fala a Reinaldo Azevedo, Jair fazia mais uma de suas lives onde falava muito e não dizia nada. Na guerra da retórica parece que o final já é conhecido.

O povo quer saber: qual o próximo passo de Lula no jogo de 22, ir atrás do Centrão?

Por Fernanda Maria Negromonte, Cientista Política com ênfase em Relações Internacionais pela UFPE, membro da Equipe FalaPE.

OBS: Em virtude do feriado da Sexta-feira Santa, não haverá coluna neste sábado. Voltamos na segunda, depois de comer muito chocolate. Boa Páscoa a todos!

Fonte : FalaPE.

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