segunda-feira, 29 de março de 2021

Um livro ressurgido das cinzas

 

Eu ainda morava em Brasília em 2000, ano que marcou a interrupção de um projeto de poder da chamada União por Pernambuco, liderada pelo então governador Jarbas Vasconcelos (MDB). O responsável pelo encurtamento do sonho era, na época, a maior liderança do PT no Nordeste em ascensão: o deputado estadual mais votado do Estado dois anos antes, nas eleições de 1998, de tradição operária, forjada na luta sindical pontuada por greves históricas, João Paulo e Silva.

Aquela eleição acompanhei boa parte em viagens periódicas ao Recife, cenário de uma disputa que despertou as atenções do País. Afinal, o que estava em jogo era a manutenção no poder de um grupo arregimentado numa aliança à direita por Jarbas Vasconcelos, já rompido com o mito Miguel Arraes, símbolo do esquerdismo em Pernambuco. Arraes e Jarbas combateram a ditadura, desafiaram os coronéis de patentes e sem patentes, urbanos e rurais, mas sempre numa relação de desconfiança. 

Quando Arraes voltou do exílio no final dos anos 80, anistiado no bojo de um processo de reabertura lento, mas gradual, das liberdades democráticas no País, porteira aberta pelo ex-presidente Ernesto Geisel, encontrou seu campo de liderança ocupado por novas cepas de homens públicos, entre eles o próprio Jarbas e Marcos Freire, este o mais brilhante senador da história pernambucana. Tomou o lugar de Arraes na disputa pelo Governo do Estado nas eleições de 1982, mas perdeu, surpreendentemente, para Roberto Magalhães por causa de um fator casuístico, o voto vinculado.

O casuismo, que mudou de última hora as regras do jogo, obrigou o eleitor a votar em candidatos de um mesmo partido para todos os cargos em disputa, sob pena de anular seu voto. Alijado da disputa, Arraes assistiu de camarote à derrota do concorrente no mesmo campo ideológico e, quatro anos depois, voltou ao Palácio do Campo das Princesas pela porta que saiu deportado pelo regime de exceção. Foi protagonista de uma das eleições mais emocionantes do País. Esmagou nas urnas o hoje ex-ministro José Múcio Monteiro, na época um jovem político egresso da sua Rio Formoso, onde foi eleito prefeito, mas não tomou posse, para assumir a presidência da Celpe.

Arraes e Jarbas começaram a cortar o cordão umbilical em 1990. Candidato a governador numa disputa em que perdeu para Joaquim Francisco, candidato da direita moderna, Jarbas acabou traído por Arraes, que não aceitou disputar o Senado em sua chapa, montou uma chapinha para federal já filiado ao PSB e fez corpo mole na campanha. Oito anos depois, já abraçado com a direita numa aliança arquitetada pelo ex-deputado federal José Mendonça Bezerra, a chamada União por Pernambuco, Jarbas deu o troco a Arraes e o derrotou de forma acachapante. 

Mas esta mesma aliança, liderada por Jarbas, não conseguiu manter, dois anos depois, nas eleições de 2000, a Prefeitura do Recife. Curioso, mergulhei nos bastidores daquela tumultuada eleição, na qual houve de tudo, de greve da PM com troca de tiros em frente ao Palácio a uma "banana" dada pelo prefeito e candidato à reeleição Roberto Magalhães. O resultado da longa pesquisa e apuração dos fatos resultou no livro "A derrota não anunciada", reeditado nos últimos dias, em capítulos neste blog, como contribuição à história política de Pernambuco.

A repercussão é tamanha que os últimos livros, disponíveis nos sebos da cidade, foram esgotados depois da publicação dos primeiros capítulos. Daí, uma boa notícia aos interessados pela obra: será reeditada em edição virtual ainda neste primeiro semestre e, provavelmente, em papel também.

GOLPE MILITAR – O jornalista Mario Sergio Conti propôs, em coluna no jornal Folha de S. Paulo, um golpe militar para retirar do poder o presidente Jair Bolsonaro. O texto foi publicado na edição impressa do jornal no sábado passado. O título divulgado pelo jornal na internet é este: “Nata militar poderia, sim, derrubar Bolsonaro, mas precisaria ter coragem”. Na edição impressa, o título é diferente e apenas alusivo: “O pocotó das valquírias". No texto, Conti cita Claus von Stauffenberg, conde e coronel do exército alemão na 2ª Guerra. Stauffenberg liderou uma tentativa de assassinato a Adolf Hitler em julho de 1944. O atentado foi malsucedido. Von Stauffenber e outros participantes do complô foram executados pelo governo nazista.

PISADA DE BOLA – Ao trocar o seu domicílio eleitoral, Caruaru, por Recife, para receber a primeira dose da vacina anti-covid, o deputado José Queiroz (PDT) deu um péssimo exemplo como homem público. Feriu violentamente o código da ética e dos bons costumes. Na prática, discriminou sua Caruaru, que governou por três vezes, e como cidadão não residente na capital tirou a vaga de mais um que poderia ser vacinado nessa corrida desenfreada pela vida. A moral e a ética, se ele não sabe, são duas invenções humanas que dependem muito do espaço geográfico que se ocupe.

VENCENDO A PANDEMIA - O financiamento imobiliário com recursos da poupança deve crescer 27% em 2021 em relação a 2020, ultrapassando o recorde da série histórica, segundo dados da Associação Brasileira de Entidades de Créditos Imobiliário e Poupança. A expectativa da associação é que a soma dos financiamentos chegue a R$157 bilhões neste ano. No ano passado, o valor financiado foi de R$ 124 bilhões, o mais alto da série histórica (sem correções pela inflação), iniciada em 1994. A presidente da instituição, Cristiane Portella, diz que o mercado imobiliário já apresentava um cenário de retomada antes da pandemia e as baixas taxas de juros possibilitaram que a compra e o financiamento de imóveis permanecessem em alta mesmo com a pandemia.

CIRURGIAS SUSPENSAS – O Governo de Pernambuco prorrogou até o dia 4 de abril a suspensão das cirurgias eletivas, aquelas que são agendadas e não urgentes. Motivada pelo agravamento da pandemia da Covid-19, essa prorrogação vale para as redes pública e privada em todo o Estado. A prorrogação foi publicada no Diário Oficial sábado passado, dia em que o Estado bateu outro recorde na média móvel de casos. As cirurgias eletivas estavam suspensas desde 8 de março para que mais leitos fossem destinados a pacientes com Covid-19.

RETORNO AO TRABALHO – Também no mesmo sábado, no Diário Oficial, foi publicada uma portaria determinando que os profissionais de saúde que estejam imunizados com as duas doses da vacina contra a Covid-19 e estavam afastados de suas funções devem retornar ao trabalho presencial 21 dias após a aplicação da segunda dose do imunizante. Ao retornarem ao trabalho, é preciso apresentar, no setor de gestão de pessoal da unidade, uma cópia do cartão de vacinação para comprovar o esquema vacinal completo. "Caso o trabalhador finalize o esquema vacinal e após 21 dias não retorne ao trabalho, serão tomadas as medidas administrativas cabíveis. Já aqueles trabalhadores que, porventura, se recusam a tomar a vacina deverão assinar um termo de responsabilidade, que será disponibilizado na sua unidade de lotação", informou o Governo, em nota.

CURTAS

QUEIXAS – Foi na condição de porta-vozes do mercado que os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), participaram, na manhã da última quarta-feira, de um encontro com o presidente Jair Bolsonaro para discutir a pandemia, no Palácio do Planalto. Na ponta da língua eles tinham as queixas e avisos do empresariado, de banqueiros e do mercado financeiro. Coube a Pacheco sugerir a criação do comitê para coordenar o enfrentamento da Covid-19.

TROCAR DE ROUPA – Ainda na quarta, Lira decidiu fazer um discurso no plenário para alertar Bolsonaro de que o Congresso dispõe de “remédios políticos amargos”, alguns “fatais”, com o objetivo de impedir “a espiral de erros de avaliação”. A primeira versão do texto continha a palavra “impeachment”. Tanto Lira quanto Pacheco ouviram dos empresários a expectativa de que o presidente “troque de roupa”.

Perguntar não ofende: Que tal abrir uma CPI no Congresso para apurar a roubalheira nos Estados e Municípios do dinheiro federal da Covid por governadores e prefeitos?

Fonte: Blog do Magno Martins.

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