Foto: Sergio Lima/AFP |
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), atraiu as atenções ao cobrar competência do governo nas ações de combate à pandemia da Covid-19. Conhecido como um habilidoso articulador político, o parlamentar conseguiu reunir em torno de si apoios até mesmo de adversários históricos ao assumir, com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o protagonismo da coordenação nacional das medidas de enfrentamento à crise, ante a falta de rumo do Executivo.
A postura de Lira — que na semana passada alertou que o Congresso poderá adotar “remédios amargos e até fatais” contra os responsáveis pelos números trágicos da pandemia no Brasil — causou certa surpresa, porque ele foi eleito para o comando da Câmara, em grande parte, graças ao empenho pessoal do presidente Jair Bolsonaro.
O deputado mudou de atitude desde que assumiu o cargo, em fevereiro. Naquele mês, foi duramente criticado por priorizar a votação de projetos de interesse do governo, a exemplo da autonomia do Banco Central, em detrimento de propostas necessárias para a proteção da saúde da população e o apoio aos trabalhadores afetados pela crise.
A fidelidade do presidente da Câmara à pauta do Executivo, porém, foi diminuindo na proporção do aumento explosivo do número de mortes provocadas pela Covid-19 e das pressões para que o Congresso cumpra com seu dever constitucional de fiscalizar o governo e cobrar uma resposta à altura da gravidade da pandemia.
Entre as fontes dessas cobranças estão representantes dos bancos e do empresariado, que divulgaram uma carta aberta afirmando que a recuperação econômica passa, necessariamente, pela vacinação em massa. Historicamente, os interesses desses dois setores são representados, no Congresso, pelo chamado Centrão, um bloco partidário que tem Lira entre suas principais lideranças e que ocupa postos importantes no governo.
As duras críticas dirigidas ao Executivo pelo presidente da Câmara, na semana passada, tiveram também como pano de fundo o descontentamento do deputado com a escolha do cardiologista Marcelo Queiroga como novo ministro da Saúde. O Centrão defendia o nome da também cardiologista Ludhmila Hajjar. Em outra demonstração de afastamento do governo, Lira decidiu que dedicaria duas semanas à votação apenas de projetos relacionados à crise sanitária.
Pensamento majoritário
Essa mudança de discurso, independentemente dos motivos, agradou a congressistas de diferentes espectros políticos. Para o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), a atitude não só expressa o reconhecimento da gravidade da crise como também reflete a preocupação do Congresso em não ser visto como cúmplice das falhas ocorridas na pandemia, principalmente o atraso na vacinação.
“O discurso do presidente Arthur Lira refletiu o pensamento majoritário dos deputados, de que a Câmara não vai assumir responsabilidades por falhas que não são nossas e que o Congresso deve cumprir com sua atribuição constitucional de fiscalizar as ações do Poder Executivo”, diz Ramos ao Correio.
O líder do PT na Casa, Bohn Gass (RS), concorda com o colega de centro. “O presidente Arthur Lira deve continuar nessa toada, e o PT já propôs que a Câmara crie o seu próprio comitê para tratar do combate à pandemia, porque não dá para nós confiarmos no presidente Bolsonaro”, frisa. “Além de não liderar o país nesse enfrentamento, ele trabalha contra as medidas que estão sendo tomadas nos estados, provoca aglomerações e vai no sentido contrário”, ressalta.
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