Na primeira reunião do secretariado, num pleno domingo após as festas de fim de ano, o novo prefeito do Recife, João Campos (PSB), deu ênfase à decisão de promover um amplo enxugamento da máquina, para reduzir despesas. Quando se prioriza cortes é sinal de que o dinheiro está escasso e que o antecessor não deixou o caixa transbordando saúde financeira. Gastou muito além da conta e isso não é do agrado para quem sucede.
Como João recebeu a herança, que se nega a dizer maldita, de um aliado fervoroso, não pode, evidentemente, jogar aberto, comunicando quanto tem disponível em caixa e o volume de restos a pagar, os pepinos. A ampla maioria dos prefeitos eleitos no campo da oposição fala logo que encontra um quadro bem mais grave do que imaginava, sem enxergar uma luz no final do túnel.
Se gastou em excessos, se endividou o município, se deixou a folha de pessoal acima do limite da Lei de Responsabilidade Fiscal, Geraldo, certamente, nem de longe, pode ser enquadrado como gestor zeloso na questão fiscal. Recife, entretanto, precisa de saber uma apenas uma coisita: se João vai meter a tesoura e economizar, isso é atestado público de que Geraldo é extremamente perdulário?
Ser perdulário é gastar em excesso, esbanjador, desregrado, tirar o leite da vaca todo de uma vez. É muito difícil acreditar no que os políticos dizem. Na campanha, a gestão de Geraldo, embora o próprio prefeito tenha sido escondido na propaganda eleitoral de João, não era perdulária. Quanto Geraldo gastou além da conta que João não mostra? O Recife precisa saber, para ter noção do tamanho do estrago.
Os dias podem ser difíceis para o herdeiro político de Eduardo em se tratando de finanças para gerir o Recife. Só quem de fato sabe mesmo o tamanho do estrago e da mão sem limites de Geraldo são os fornecedores da Prefeitura, muitos com até quatro meses de faturas em atraso. Estes, certamente, já batem à porta do gabinete do novo prefeito.
Políticos em geral, infelizmente, com raras exceções, não conhecem nem o ódio nem o amor. São conduzidos, em sua grande maioria, pelo interesse e não pelo sentimento.
Resmungo e ameaça – "A forma como o partido foi tratado e está sendo tratado pelo prefeito não foi nem é de aliado. O partido foi usado", desabafou o presidente estadual do PP, Eduardo da Fonte, numa conversa com a colunista Renata Bezerra de Melo, da Folha de Pernambuco. A fala corajosa dele está dando o que falar, até pela disposição revelada de entregar a pasta com a qual foi contemplado, a esvaziada Secretaria de Habitação. O resmungo de Dudu, como é mais conhecido, tem outras razões: o governador também não cumpriu, até hoje, com a promessa de tirar do PT e entregar ao PP a Secretaria de Agricultura.
Saneamento – Conforme Renatinha apurou, ainda durante a campanha eleitoral, a pasta que estava no radar dos progressistas era Saneamento. Ela, até então, era ocupada pelo PT, mas Oscar Barreto, entregou o seu comando em meio ao imbróglio entre PSB e PT durante a eleição. Na sequência, a secretaria acabou hipotecada ao PP, que optou, no entanto, por esperar a reforma do secretariado para fazer a indicação de uma vez só. Resultado: ao PP, agora, acabou sendo oferecida Habitação, cuja dimensão é menor do que Saneamento. O PP não viu com bons olhos.
Os dissidentes – O PSB não é mais um partido que seus filiados seguem rigorosamente as orientações do seu comando. Na eleição para escolha da nova mesa diretora da Câmara dos Deputados, em 1 de fevereiro próximo, pelo menos 15 dos 32 parlamentares que integram a bancada tendem a votar em Arthur Lira (PP-AL), o candidato de Bolsonaro, e não em Baleia Rossi (MDB-SP), como deseja o presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira. “Aproximadamente 15 deputados do PSB votam em Lira”, confirma o rebelde Felipe Carreras.
O reincidente – Na primeira rebeldia contra o PSB, o voto a favor da reforma da Previdência, Carreras recebeu uma dura punição: um ano sem poder sem designado pelo partido sequer para integrar as comissões temáticas da Casa. “Eu voto com a minha consciência, sou um deputado independente e melhor para Câmara é Lira”, diz ele. Não se assuste com a valentia: quando deputado em despedida para assumir a Prefeitura, João Campos também declarou que votaria em Arthur Lira.
CURTAS
PT RACHA – A bancada do PT, a maior da Câmara, decidiu, ontem, apoiar o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) na eleição para presidência da Casa. A decisão, porém, passou longe de ser unanimidade. Dos 52 deputados do partido, 27 foram favoráveis a Baleia. Outros 23 queriam lançar uma candidatura própria da sigla. Alguns deputados petistas queriam adiar o encaminhamento e decidir sobre apoiar Baleia ou lançar uma candidatura em uma data mais próxima da eleição. Essa tese, porém, não prosperou.
CANDIDATO – O PT já faz parte do bloco no qual está Baleia, mas cogitava lançar candidato próprio –não há regra que impeça haver mais de uma candidatura no mesmo bloco. A principal função desses grupos é fazer número para conseguir cargos importantes na Casa, que são divididos proporcionalmente à quantidade de deputados eleitos do bloco.
Perguntar não ofende: O PSB vai punir os deputados eleitores de Lira na eleição da mesa da Câmara?
Nenhum comentário:
Postar um comentário