Um voo tranquilo, sem turbulências nem sustos, se dá quando o tempo está limpo, com ventos favoráveis. Este parece o cenário para o presidente Bolsonaro nos próximos dois anos na sua relação com o Congresso, caso os prognósticos dos aliados do candidato a presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se confirmem de uma vitória retumbante no enfrentamento ao paulista Baleia Rossi (MDB), postulante da oposição, escolhido e apoiado pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Igualmente com a vitória do senador mineiro Rodrigo Pacheco (DEM) na presidência da chamada Casa Alta. O democrata é escolha pessoal do atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que, como Maia, foi impedido de disputar a reeleição. Maia buscou o confronto com o Planalto e se aliou ao bloco de esquerda na Câmara, abraçando-se, inclusive, com o PT que tanto o fustigou, para tentar impor uma derrota a Bolsonaro.
Davi foi mais sabido. Passa a ter um aliado na sucessão da sua cadeira e permanece usufruindo das benesses do Governo. Na Câmara, desde o start do processo eleitoral, Arthur já era visto como favorito. Líder do Centrão, tem o apoio da maioria dos partidos. Com os ventos palacianos em seu favor, adoçou a boca do exército parlamentar que trabalha pela sua eleição mediante a liberação de R$ 3 bilhões em emendas pelo Governo.
Eleição de mesa diretora, de qualquer instância de parlamento no Brasil, não é para amador. Só ganha os profissionais e a máquina azeitada é um santo remédio: remove montanhas de votos indecisos. Rodrigo Maia sabe disso. Apostou num suposto desgaste do Governo, na desastrosa articulação do presidente com a Câmara, mas vai sair dessa corrida eleitoral menor do que entrou. Vai somar ao seu currículo uma grande derrota como padrinho político.
Bolsonaro, por sua vez, terá, neste céu de brigadeiro, dois presidentes, o da Câmara e o do Senado, trabalhando pela governabilidade. Mais do que isso, a derrota de Maia na Câmara é a certeza também de que estão sepultadas as chances de prosperar um movimento de rebeldia na Casa que desague na abertura de um pedido de impeachment do presidente.
Voto de ministros – Os ministros Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Tereza Cristina (Agricultura) se licenciaram de seus cargos. Os decretos de exoneração foram publicados, ontem, no Diário Oficial da União. Com isso, os dois retomam seus mandatos como deputados federais e podem votar na eleição da próxima segunda-feira, que escolherá o novo presidente da Câmara. Ambos são filiados ao DEM e devem votar em Arthur Lira (PP-AL), candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Divisão no DEM – A bancada do DEM está dividida. O principal adversário de Lira é Baleia Rossi (MDB-SP), cuja candidatura tem como principal articulador Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Casa. O presidente nacional do DEM, ACM Neto, afirmou, ontem, que pelo menos três deputados baianos da legenda devem votar em Baleia Rossi. A declaração vem dias depois de os cinco deputados do partido na Bahia terem apoiado publicamente a candidatura de Lira. O apoio a Lira é grande na sigla. Caso a legenda nem ao menos vá para o bloco de Baleia Rossi, exporá uma influência reduzida de Rodrigo Maia sobre a bancada e ele sofrerá grande enfraquecimento político.
Bivar na briga – O PSL poderá vivenciar um novo embate entre o deputado Major Vitor Hugo (GO) e Luciano Bivar (PE), deputado, presidente do partido e 2º vice-presidente da Câmara. Se a sigla ficar no bloco de Arthur Lira (PP-AL) e tiver o direito de escolher o primeiro cargo, ambos devem disputar a 1ª vice da Casa. Lira é candidato a presidente da Câmara, que terá eleição na próxima segunda-feira. Seu principal adversário é Baleia Rossi (MDB-SP). Quando há eleição para presidente da Câmara também são formados blocos para dividir os outros 10 cargos da Mesa Diretora, a direção da Casa. O maior grupo tem preferência na escolha de cargos na Mesa.
Recriação de ministérios – Em evento, ontem, com atletas no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro sugeriu recriar alguns ministérios extintos durante sua gestão, entre eles o Ministério do Esporte. O presidente sinalizou que o Ministério poderá ser recriado após as eleições para a presidência da Câmara e do Senado, marcadas para a próxima segunda-feira, em mais um movimento que mostra a aproximação entre Governo e Centrão, grupo de partidos que costuma pedir cargos em troca do apoio político.
Dissidência baiana – A declaração de apoio dos cinco deputados do DEM da Bahia a Arthur Lira (PP-AL), com direito a foto, na última segunda-feira, causou estresse entre os políticos do partido que apoiam Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pela presidência da Câmara. Ontem, porém, o presidente do Democratas prometeu reduzir o prejuízo. ACM Neto, que também é da Bahia, disse em uma reunião de caciques do DEM que é capaz de fazer três desses cinco que estiveram com Lira assinarem lista para que o partido entre no bloco de Baleia Rossi, ainda que não votem no emedebista.
CURTAS
CACIQUES – O governo do presidente Jair Bolsonaro inovou na prática de trocar verbas por votos no Congresso. Enquanto seus antecessores direcionavam seus esforços para cooptar o chamado baixo clero, grupo de parlamentares sem influência nas decisões das casas legislativas, mas que votam da mesma forma, o atual governo privilegiou caciques na Câmara e no Senado, empoderando ainda mais esses políticos.
SEM MANDATOS – É o que mostra uma planilha de controle de recursos do Ministério do Desenvolvimento Regional, que beneficiou 285 congressistas com R$ 3 bilhões de dinheiro extra, além dos recursos que eles já têm direito a direcionar por meio de emendas. Até mesmo quem não tem mandato, como o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, pode indicar valores para obras. Um dos nomes fortes do Centrão, Kassab se tornou um conselheiro de Bolsonaro, mesmo sendo próximo do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), arqui-inimigo do mandatário.
Perguntar não ofende: Rodrigo Maia vai se transformar no principal líder de oposição no Congresso ou vai coordenar a articulação política de Dória?
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