O PSB é um partido, no mínimo, estranho. De um lado, a maior autoridade do Estado, o governador Paulo Câmara, reafirma alinhamento à posição tomada pela bancada na Câmara em apoio à candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) à presidência da Casa, enquanto na outra ponta, o prefeito do Recife, João Campos, liderança em ascensão na seara socialista, embora não vote, como Câmara, está fechado com o candidato do Planalto, o deputado alagoano Arthur Lira (PP).
Baleia saiu do Recife, ontem, depois de um encontro com o governador, afirmando ter o sentimento de que terá a maioria dos votos da bancada. Pernambuco tem 25 votos nesse colégio eleitoral que definirá o sucessor de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Pelos cálculos de Baleia, 13 votos estariam garantidos dos 25, sendo 12 de Lira. Já os aliados do deputado alagoano garantem que ele tem 15 votos na bancada.
Entre esses votos, contabilizam três dissidentes do PSB, os deputados Felipe Carreras, Gonzaga Patriota e Danilo Cabral, este, aliás, o próximo líder da bancada na Câmara, sucedendo a Alexandre Molon (RJ). Se o futuro líder não se dobra à decisão da executiva nacional, o que se pode dizer deste partido? Na verdade, o PSB perdeu o prumo desde a morte da sua principal liderança, o ex-governador Eduardo Campos.
Felipe, Patriota e Danilo têm lá suas razões e interesses para votar no candidato que o PSB não quer, por ser, sobretudo, alinhado ao Planalto, mas como explicar a euforia e o trabalho silencioso de João Campos, cabalando votos nos bastidores para garantir a eleição de Lira? O que se diz é que, eleito, Lira vai abrir a porta da esperança do Planalto para o prefeito, que herdou uma verdadeira massa falida de Geraldo Júlio.
Tem lógica. Como Lira iria recusar em ser a ponte formal e oficial de João com o Planalto, para Bolsonaro fazer jorrar recursos federais no Recife, capazes de viabilizar projetos produtos de tantas promessas de campanha na eleição que derrotou Marília Arraes? Como deputado, João seguiu cegamente a cartilha da esquerda e da oposição, batendo sistematicamente em Bolsonaro e no seu Governo.
Como prefeito do Recife, jamais poderia trilhar por esse mesmo caminho. Sabido igual ao pai, o que ele está fazendo, na verdade, é o exercício explícito e persistente do jogo pragmático do poder. O que está em jogo, desde que foi eleito, é a sua gestão, garantir o êxito e para isso tem que construir uma relação com o Governo Federal. Era assim que seu pai agiria se tivesse vivo. Afinal, do outro lado do balcão, o que teria Rodrigo Maia a oferecer sem o poder da caneta?
Apoio petista – Rompido da boca para fora com o Governo, o PT deu as caras, ontem, no Palácio das Princesas, para recepcionar o candidato do MDB à presidência da Câmara dos Deputados, Baleia Rossi (SP). Foi representado pelo parlamentar sertanejo Carlos Veras, aliado de primeira hora do senador Humberto Costa. A Baleia, Veras garantiu o seu voto, afirmando que segue fielmente o acordo fechado pela bancada na Casa de alinhamento ao grupo de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Baleia não viu por lá Marília Arraes, a segunda representante do PT na bancada pernambucana.
Em quem vota? – Assessores de Baleia e ele próprio contabilizam também no PT o voto de Marília Arraes, que, na verdade, ainda não se definiu. Quando passou pelo Recife, há dez dias, o candidato do Planalto, Arthur Lira (PP-AL), teve um encontro reservado com Marilia no escritório do deputado Silvio Costa Filho. Este serve a dois senhores, em Brasília apoia Bolsonaro e em Pernambuco é, igualmente, governista, mas de linhagem vermelha, mesmo não tenho nem alma nem coração que combinem com o socialismo.
Aceno ao DEM – O deputado Arthur Lira (PP-AL), candidato a presidente da Câmara, disse, ontem, em Brasília, que espera ter maioria dos votos na bancada do DEM. Trata-se da sigla de Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Casa e principal articulador da campanha de Baleia Rossi (MDB-SP). Baleia disputa o cargo com Lira. “Espero ter a maioria no DEM e mais alguns partidos que não compõem ainda o nosso bloco”, declarou Lira. Ele falou depois de almoço com os deputados da bancada do Distrito Federal.
Choro de Maia – Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse em reunião com deputados de diversos partidos no Rio de Janeiro, que o DEM pode ser visto como “partido da boquinha”. Também demonstrou que gostaria de mais empenho do presidente da sigla, ACM Neto, na eleição da Câmara. Maia é um dos principais apoiadores da candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) à presidência da Câmara. Mas há mais deputados em seu partido que demonstram apoio ao adversário, Arthur Lira (PP-AL), que a Baleia.
Madeira de lei – Efetivado na Câmara na vaga aberta com a eleição de João Campos, o deputado Milton Coelho é voto contrário ao que seria dado pelo prefeito se ainda estivesse na Casa. Está trabalhando pela eleição de Baleia Rossi, a quem recebeu, ontem, nas Princesas, ao lado do governador. Histórico socialista, tendo já presidido o PSB no Estado, Coelho é da fauna rara hoje em dia, de palavra que se cumpre, jogando apenas num lado, o lado que milita desde que ingressou na vida pública, o campo da esquerda plural e democrática.
CURTAS
EM CAMPANHA – Já em campanha para deputado estadual nas eleições de 22, o ex-prefeito de Serra Talhada, Luciano Duque (PT), bateu o martelo no apoio ao seu projeto com a ex-prefeita de Calumbi, Sandra da Farmácia, também petista. Ele quer sair eleito da região do Pajeú e para isso já está em plena articulação com prefeitos da região.
COM MEU PAI – Já o deputado Gonzaga Patriota voltou a usar botas de sete léguas no contato com as suas bases no Sertão e Agreste. Em apenas três dias, passou por mais de 20 municípios numa disposição de fazer inveja. Sobrou até um tempinho para bater um papo com o meu pai Gastão Cerquinha, em Afogados da Ingazeira, quando rememoraram momentos de trabalho conjunto na Rede Ferroviária Federal.
Perguntar não ofende: Com quem, afinal, o DEM está na eleição da mesa diretora da Câmara?
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