O Carnaval de Pernambuco é maravilhoso, enche os olhos dos turistas pela sua multiplicidade cultural e este ano, mais uma vez, depois de dois anos de abstinência, se traduziu numa explosão de sucesso. Independente de apoio e ajuda financeira do Estado, vale a ressalva. Os principais polos, como Recife, Olinda, Bezerros, Gravatá e Triunfo não viram a cor do dinheiro azul e branco da governadora Raquel Lyra (PSDB).
A tucana, aliás, fugiu da folia como o satanás da cruz e passou o bastão para a vice-governadora Priscila Krause (Cidadania), que usou bota de sete léguas e esteve em praticamente todos os polos, com exceção do Carnaval dos Caretas, em Triunfo. Prefeitos, como Professor Lupércio, de Olinda, e Lucielle Laurentino, de Bezerros, só receberam ajuda do Governo para os cachês dos artistas, através da Fundarpe.
“A logística de Bezerros, em torno de R$ 2 milhões, foi bancada com recursos próprios e capitalizações privadas”, diz a gestora, filiada ao União Brasil. Lupércio também confirmou que o suporte financeiro do Estado só se deu para bancar parte dos artistas. Polos em ascensão, que atrai milhares de foliões, como o de Pesqueira, nem dinheiro estadual para artistas receberem. O prefeito Bal de Mimoso (Republicanos) disse que acenaram com uma promessa de uma merreca, algo em torno de R$ 50 mil, mas recusou.
Embora tenha governado Caruaru por dois mandatos, tendo renunciado no segundo com um ano e meio de gestão para disputar o Governo de Pernambuco, Raquel também se negou a ajudar a Prefeitura nas despesas com a logística para o desfile da escola Independente de Padre Miguel, do Rio de Janeiro, que fez uma belíssima homenagem a Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino, considerado um dos maiores artistas da história da arte e do barro do Brasil.
O enredo foi além do trabalho dele e mostrou a arte de quem se inspirou na obra de Vitalino. Os três mil componentes desfilaram em 25 alas levando à avenida a força das obras de artistas como Mestre Manoel Galdino, Marliete Rodrigues, Zé Caboclo, Mestre Therezinha Gonzaga e Socorro Rodrigues. Caruaru ganhou o mundo, projetada por uma das escolas mais famosas do Rio, mas Raquel, além de não ajudar, também não fez questão de dar um pulinho no sambódromo para viver esse momento histórico para a cidade, a quem faz juras de amor da boca para fora.
Grande desfile – A escola verde e branca surgida a partir de um time de futebol celebrou a matéria-prima da arte de Vitalino. Uma ala de tom amarelado fez lembrar do barro tão usado nas artes. As paisagens e personagens retratados pelo artista tomaram grande parte do desfile. Campos de milho, de girassóis, de trigo, de algodão e de trigo foram temas de alas. A hexacampeã da elite do Carnaval do Rio trouxe na comissão de frente referências ao filho do homenageado, Severino Vitalino, e ao presépio nordestino criado por ele. Os tons terrosos das fantasias e maquiagens deixaram a impressão de que os componentes eram feitos de barro.
Deus do barro – O carro abre-alas lembrou mais herdeiros e alunos do artesão, com a arte inserida em um ambiente tomado por bromélias, xique-xiques e galhos de marmeleiros. O último carro da Mocidade foi todo dedicado a Mestre Vitalino, “o Deus do barro” e inspiração para mais discípulos e discípulas que vieram como destaques no final do desfile. A ideia foi mostrar que o legado de Mestre Vitalino deixou grandes nomes na cultura popular, com o enredo intitulado “Terra de meu céu, estrelas de meu chão”. Com o desfile, que agradou a gregos e troianos, a escola quer conquistar o sétimo título de sua história.
Letra do samba – De autoria de Diego Nicolau, Richard Valença, Orlando Ambrósio, Gigi da Estiva, W Correa, Leandro Budegas e Cabeça do Ajax, a letra do samba-enredo “Terra de meu Céu, estrelas do meu Chão”, diz o seguinte: “Senhor, que fez da arte mundaréu/Em suas mãos Padre Miguel/ Concebeu a Criação/ Plantou sua missão/ Fez do Sertão, barro Tauá/ Jardim no Agreste floresceu/Regado ao firmamento de meu Deus/A lida pra viver, da lama renascer/Marias e Josés no céu que moram pés, raiz! Fiel retrato desse meu País/Segue o carro de boi/O peão no barreiro/Ó, rainha bonita/Sou teu rei, cangaceiro/É a vida um xadrez/Pra honrar o legado/Quem foi que fez? Foi deus do barro/Molha Pedro minha terra/Chão de estrelas de João/Traz Antônio minha amada/Padim Cícero Romão/Alumia o teu povo em procissão/Chega folia, chega cavalo-marinho/Lindas flores no caminho/O Nordeste coloriu/E “de repente” essa gente independente/Faz da greda seu batente/Molda um pouco de Brasil/Amassa, deixa arder o massapé/Lá no meu Alto do Moura/Um pedacinho de fé/A massa, força de mandacaru/Lá no meu Alto do Moura/Fiz brilhar Caruaru/Ê, meu cardeá/Sou a chama do braseiro/Nordestino, “retirante da saudade”/Mais um filho deste solo pioneiro/Um artista esculpindo a Mocidade”.
Escolas patrocinadas – Em 2012, a escola Unidos da Tijuca foi a grande vencedora do desfile na Marquês de Sapucaí com o tema em homenagem ao centenário de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Por meio da Empetur e da Fundarpe, o ex-governador Eduardo Campos (PSB) não patrocinou o desfile, mas investiu R$ 650 mil em contratos com a escola. Já quando prefeito do Recife, o hoje deputado João Paulo (PT) desembolsou R$ 3 milhões para patrocinar o desfile da Mangueira em homenagem ao frevo.
Custo de Caruaru – Sucessor de Raquel Lyra na Prefeitura de Caruaru, o prefeito tucano Rodrigo Pinheiro fez questão de desfilar na avenida, integrando uma das alas da Mocidade Independente de Padre Miguel, escola que homenageou o Mestre Vitalino. Sobre custos e patrocínio, disse que pagou apenas R$ 35 mil pelo show da bateria da Mocidade na semana pré-carnavalesca, em Caruaru. Confirmou, também, que o Governo Raquel não deu um centavo para a escola.
CURTAS
O SAMBISTA CLODOALDO – Grande carnavalesco, o deputado federal Clodoaldo Magalhães, presidente estadual do PV, foi visto na maior animação desfilando na escola Independente de Padre Miguel. Deu um show à parte, mostrando que tem ritmo e samba no pé, a ponto de ser destacado numa imagem pelas televisões e redes sociais.
DILÚVIO PAULISTA – A tempestade registrada no litoral norte de São Paulo foi a mais intensa da história do País em 24 horas, com registro acumulado de 682 milímetros. Até o início da tarde de ontem, foram contabilizados 46 óbitos, 40 desaparecimentos, 18 feridos, além de 2.496 desabrigados (que estão em abrigos públicos ou privados) e desalojados (que deixaram suas casas, mas estão abrigados com amigos ou familiares).
Perguntar não ofende: Se a Mocidade Independente de Padre Miguel ganhar, Raquel ficará com dor na consciência?
Fonte: Blog do Magno Martins.
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