segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

A novela do Coronel Danulo

O primeiro capítulo que antecede o anúncio oficial da candidatura do PSB ao Governo de Pernambuco em 2022 é cheio de intrigas e manobras escabrosas. O nome natural era Geraldo Júlio, praticamente uma unanimidade no partido e na chamada Frente Popular. Ocorre que houve um conflito violento entre Geraldo e Paulo Câmara, inclusive culminando numa explosão do ex-prefeito, normalmente uma pessoa contida, que acusou Câmara, em pleno palácio, aos gritos, das mais tenebrosas traições, de todos os tipos. 

A verdade é que Geraldo foi o responsável direto pela reeleição de Câmara, tendo respondido tanto pela articulação para o PT continuar na Frente Popular em 2018 quanto por todos os aspectos logí$ticos, inclusive assumindo riscos monumentais. Ocorre que Câmara não cumpriu com os compromissos assumidos e realizou a mais vergonhosa arapuca contra quem salvou sua reeleição, o então prefeito do Recife e sucessor natural de Eduardo Campos.

Frente a esse drama, Geraldo teve a dignidade, que reconheço aqui como seu mais ferrenho crítico, de não mais confiar nas palavras e ações do traiçoeiro Paulo Câmara. Esse é o pano de fundo para a saída de Geraldo, que praticamente ninguém acreditava que fosse acontecer. Então Câmara coloca o secretário José Neto, com quem tenho as melhores relações pessoais, como boi de piranha, num disfarce que até eu acreditei.

Hoje vejo que José Neto jamais seria aceito pela família Campos, sobretudo porque vem de uma origem conservadora, sobrinho de Joaquim Francisco e sem qualquer histórico na chamada esquerda. Mas quem estava por trás de tudo, sabe-se hoje, era o próprio Danulo, a quem Paulo tem uma ligação umbilical, não apenas como colega do Tribunal de Contas, mas de intimidade pessoal, tendo inclusive sido chefe de gabinete de Danulo quando este foi vereador do Recife.

Vale registrar que o próprio Paulo apoiou Danulo como candidato em 2014, mas Eduardo Campos falou que não tinha confiança pessoal nele e terminou optando por Paulo. Danulo e Paulo sabiam que Renata e toda a família Campos viriam com o nome do deputado federal Tadeu Alencar, sogro da única filha de Renata. E vetaram o nome de Tadeu usando a mesma fórmula que aplicaram para Eduardo Campos em 2014: jogo sujo e baixo contra Tadeu, com falsas acusações de ordem moralista.

Assim, Câmara foi curto e grosso com Renata e a família Campos: “Tadeu eu não aceito, pela mesma razão que Eduardo não aceitou”. E funcionou, com a bola passando leve e solta para os pés ávidos de Danulo. Ou seja, Paulo Câmara conseguiu emplacar seu candidato e antigo chefe, passando para trás a família Campos e Geraldo Júlio. Tudo foi adredemente calculado e preparado, num jogo maquiavélico.

Mas a culpa maior foi de Renata e seu aprendiz de prefeito, pois podiam ter colocado o nome legítimo e natural de Luciana Santos, que inclusive poderia fazer o mesmo que o governador Flávio Dino, filiando-se ao PSB. Com isso, o plano de ter João Campos como o governador mais jovem da história de Pernambuco em 2026 poderia funcionar, pois Luciana não teria como ir para a reeleição. Mas agora o sonho do aprendiz de prefeito e sua genitora vai sucumbir, frente à desmesurada ambição da dupla dinâmica Danulo e Câmara Lenta.

Quem viver, verá.

As certezas da oposição - No campo da oposição, duas certezas: Miguel Coelho é candidatíssimo e já marcou até data para renunciar ao mandato de prefeito de Petrolina, dia 30 de março, enquanto Anderson Ferreira sai candidato pelo PL, embalado pelas forças bolsonaristas. Quanto à Raquel Lyra, há ainda muitas desconfianças de que renuncie à Prefeitura de Caruaru depois da perda do aliado Anderson e das dificuldades de montar até uma chapa proporcional, tanto para a Câmara dos Deputados quanto para a Alepe. 

Quem se isola - Embora a própria Raquel não tenha anunciado formalmente sua candidatura, de Portugal, onde curte férias vapt-vupt, o ex-senador Armando Monteiro Neto (PSDB) garante que a tucana vai à guerra em qualquer circunstância. "É o nome que mais pontua nas pesquisas, o verdadeiro fato novo dessas eleições que se aproximam. Se dizem que ela se isolou com Anderson candidato, a leitura nos permite concluir também que, sem Raquel, Anderson se isola igualmente e estreita sua candidatura", avaliou. 

Aposta em Priscila - Se Raquel Lyra não vier de fato a ser candidata, para onde caminhará a deputada Priscila Krause (sem partido)? Há uma torcida entre os aliados de Miguel Coelho para a atuante parlamentar aterrissar em seu palanque não apenas como um grande reforço eleitoral na Região Metropolitana, mas como candidata a vice. Em meio a tamanhas especulações, uma certeza: para o palanque bolsonarista de Anderson Ferreira a herdeira política do ex-governador Gustavo Krause não fará a travessia.


Hartung na Fazenda - A semana passada começou com mais um rumor no mercado, desta vez em torno do nome do ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung, que está entrando no PSD de Gilberto Kassab. Entre investidores, dizia-se que ele estaria sendo indicado por Kassab para integrar a equipe econômica de Lula, com fortes chances de ser o futuro ministro da Fazenda, em troca da adesão do PSD à candidatura do petista no primeiro turno. Uma chance dada como próxima de zero por articuladores do PT, que apontam na origem dos boatos a digital do próprio Kassab, interlocutor frequente de empresários e expoentes do setor financeiro.

Cena constrangedora - Além de gangorra, a política é cruel: na reunião com dirigentes do PT, ontem, no Recife, o deputado Danilo Cabral, que Guilherme Uchôa só se referia a ele por "Coronel Danulo", por ter vocação ditatorial e ser uma nulidade em termos de atendimento das demandas parlamentares quando secretário de Educação, ficou frente a frente com o agitador sindical Aristides Veras. Durante o impeachment de Dilma, Aristides, na condição de presidente da poderosa Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), ameaçou invadir propriedades de deputados que apareciam na lista como votos certos pela degola da petista, inclusive a da família de Danulo, que possui um latifúndio em Surubim. 

CURTAS

FUNERAL TUCANO - A se confirmar a filiação do governador Eduardo Leite (RS) ao PSD, como se especula, será uma espécie de pá de cal na derrocada do partido que já ocupou a presidência da República duas vezes e esteve em quase todas as finais dessa disputa nos últimos anos. Hoje, o PSDB vai às urnas com o governador João Doria (SP), que tem dificuldades para ir além de 3% nas pesquisas de intenção de voto e é cada vez mais pressionado pelos descontentes a desistir.

PSB CONTRA - Integrantes da cúpula do PT andam desconfiados de que, resolvido o problema São Paulo com a clara liderança de Fernando Haddad, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, levantará outro, já que, no fundo, não quer a federação. Assim como ele, a seção pernambucana do partido, com o prefeito João Campos à frente, estaria jogando contra. Afinal, estão acostumados a ter um partido para chamar de seu. De uma hora para outra, teriam que submeter-se ao PT, que terá maioria no condomínio.

Perguntar não ofende: Depois de Danulo, quem será o próximo a sair do muro e anunciar a candidatura a governador?

Fonte: Blog do Magno Martins.

Nenhum comentário:

Postar um comentário