A normalização da miséria

 

Por Houldine Nascimento, da equipe do Blog

As brigas políticas sempre servem como uma cortina de fumaça para os graves problemas enfrentados pelo Brasil. Entre eles, a fome, que assola 19,1 milhões de pessoas no país, de acordo com dados da Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional).

Houve um ingresso de nove milhões de brasileiros na triste estatística nos últimos dois anos. Além dos que não têm o que comer, 116,8 milhões passam por insegurança alimentar, ou seja, mais da metade da nossa população. Não por acaso, imagens de pessoas disputando restos de comida em caminhão de lixo ou até mesmo a venda de ossos em açougue sintetizam a miséria da sociedade brasileira.

Pior do que isso é a perda da capacidade de indignação. Não é normal que compatriotas tenham de se sujeitar a situações tão degradantes. Enquanto isso, em Brasília, centro do poder, não faltam recursos àqueles que em tese representam o povo.

As emendas do relator do Orçamento da União, chamadas de RP9, têm garantido a deputados e senadores recursos bilionários sem o devido controle. Daí o apelido de “orçamento secreto”. Caso a PEC dos Precatórios avance no Congresso, maquiando a ruptura do teto de gastos, mais R$ 16 bilhões são estimados para os parlamentares em 2022, ano de eleição.

O problema não está somente na classe política. Salários e penduricalhos vultosos estão à disposição do Judiciário. E quando um juiz se envolve em ilicitude, como é o caso do magistrado Levine Raja Gabagliba Artiaga, do TJGO, que liderava um esquema de decisões fraudulentas com desvios de R$ 18 mi, acaba por vezes em aposentadoria compulsória.

No Recife, a poucos metros do Palácio da Justiça e da sede do Governo do Estado, há a peregrinação de pessoas em situação de rua. Lonas plásticas e barracos de papelão tomam conta da Rua do Imperador, reflexo do abandono do Centro da cidade e da ausência de uma política habitacional por parte da Prefeitura.

Pode um país assim dar certo?

Fim do Bolsa Família – Após 18 anos, o Bolsa Família – programa de transferência de renda criado no Governo Lula – acabou. Mais de 1 milhão de beneficiários sacaram a última parcela ontem. A Medida Provisória 1.061, publicada em agosto, extinguiu o programa responsável pela redução de 10% da desigualdade no país entre 2001 e 2015. No seu lugar, entra o Auxílio Brasil. Em novembro, o novo benefício trará um reajuste médio de 20%, mas o Governo Federal promete um valor mínimo de R$ 400 a partir de dezembro.

Sob protesto – Na passagem pela Itália, onde participa de um encontro do G20 em Roma, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi alvo de protesto ontem. Na cidade de Anguillara Vêneta, no norte do país, ativistas jogaram esterco e picharam a fachada da Prefeitura. Na próxima segunda-feira (1º), o chefe do Executivo brasileiro vai ao local para receber o título de cidadão honorário.

Invasão ao Uruguai – A ditadura militar brasileira planejava invadir o Uruguai em caso de vitória da coalizão de esquerda, Frente Ampla, em novembro de 1971. Documentos do Governo dos EUA obtidos pelo UOL confirmaram a intenção do presidente brasileiro da época, Emílio Garrastazu Médici, em intervir no país vizinho. Ainda segundo a reportagem, o Brasil ajudou a fraudar as eleições uruguaias daquele ano. De direita, Bordaberry ascendeu ao poder e deu um golpe em 1973.

Novo empréstimo – A prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB), encaminhou um novo projeto de lei para os vereadores aprovarem em regime de urgência. A proposta pede que a Câmara autorize a contratação de novo empréstimo pela Caixa, desta vez no valor de R$ 130 milhões dentro do Finisa (Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento). Na proposição, a gestora não detalha em que bairros pretende aplicar os recursos. Em 2018, Raquel chegou a contrair R$ 83,8 mi pelo mesmo programa, que tem juros pouco atrativos.

Às escuras – Itaquitinga, na Mata Norte do Estado, está às escuras. Uma equipe da Celpe esteve na cidade ontem para fazer o corte da iluminação pública por falta de pagamento. Segundo apuração do Blog, o prefeito Patrick Moraes (PSD) foi notificado sobre a interrupção do serviço, mas não agiu. O gestor recolheu regularmente dos moradores a taxa para custeio da iluminação do município, mas não repassou os valores à companhia de energia, provocando mais insegurança em Itaquitinga.

CURTAS

BOA NOTÍCIA – A Secretaria de Saúde do Recife informa que a cidade está há três dias sem registrar mortes por Covid-19. A Prefeitura celebrou a marca nas redes sociais e ressaltou a importância da população manter os cuidados.

INTERDIÇÃO – O Sinpol-PE pediu que o Ministério Público do Trabalho interdite a Delegacia de Plantão de Camaragibe, no Grande Recife. A instituição que representa os policiais civis alega condições precárias de funcionamento e ambiente insalubre.

Perguntar não ofende: Os caminhoneiros vão entrar em greve?

Fonte: Blog do Magno Martins.