Alegando que a pandemia atravessa um estágio extremamente preocupante no Estado, o governador Paulo Câmara (PSB) se antecipou, ontem, diante da decisão do Governo brasileiro de sediar a Copa América, no próximo mês, excluindo Recife como sede da competição. Do ponto de vista de saúde pública, o governador tem lá suas razões, mas o certame mundial traz de volta um debate: para que serve a Arena de Pernambuco ociosa? O custo já foi pago? E sua manutenção?
Tenho quase certeza que os custos continuam descobertos, uma conta salgada que sobrou para a sociedade pagar. Para erguer o empreendimento em São Lourenço da Mata foram gastos R$ 743 milhões, valor 55% acima do contrato original, transformando o estádio no 4º mais caro do último Mundial. No acordo da licitação, a preço de maio de 2009, a obra foi orçada em R$ 479 milhões.
Era o acordo para construir o estádio visando a Copa do Mundo de 2014. A antecipação da obra em oito meses, a pedido do Governo do Estado, visando a presença local na Copa das Confederações de 2013, gerou uma revisão no contrato, com os chamados “aditivos”. E esse pedido de reequilíbrio financeiro feito pela Odebrecht foi de R$ 264 milhões. A medida extra na PPP teve quatro itens, incluindo aceleração da obra (R$ 190 milhões), exigências adicionais da Fifa no caderno de encargos (R$ 47,5 milhões), ressarcimento de impostos (R$ 23 milhões) e encargos financeiros (R$ 3,5 milhões).
Só com uma empresa de conservação da Arena, o Governo acumula uma dívida de R$ 3,5 milhões, contraída em 2017. De acordo com a Secretaria estadual de Esportes, o custo real de manutenção mensal da Arena é de R$ 750 mil, mas isso com o estádio em perfeitas condições e com a manutenção em dia. A construção e operação da Arena se deu através de uma Parceria Público Privada (PPP) entre o Governo de Pernambuco e o Consórcio Arena de Pernambuco. Pela PPP, a concessão é de 33 anos, incluindo os três anos de obras e o período de operação do espaço.
O contrato previa também o uso do terreno do entorno da arena como estratégia para desenvolver a zona Oeste da Região Metropolitana do Recife, local onde a Odebrecht iria desenvolver o complexo da Cidade da Copa. Em junho de 2016, o Governo rompeu o contrato com a Odebrecht e assumiu a gestão da Arena. Pela rescisão, teve que pagar R$ 246,8 milhões à construtora num prazo de até 15 anos.
Ficou só no papel – Em uma área de 270 hectares (equivalente a 300 campos oficiais de futebol), nas proximidades da Arena seria desenvolvida a Cidade da Copa, com a ideia de ser a primeira smart city da América Latina, totalmente planejada, favorecendo o uso de transporte alternativo, segurança e preservação do meio ambiente. Eduardo Campos, então governador, orçou o projeto faraônico em mais de R$ 1,59 bilhão. Nunca saiu do papel e se realmente fosse iniciada e concluída teria um bairro de 40 mil habitantes, estádio de futebol (já existente), centro de convenções, hotéis, escolas, faculdade, centro de comando da polícia, entre outros equipamentos normais de uma cidade planejada.
Decisão partidária – A decisão do governador Paulo Câmara (PSB), em excluir o Estado como uma das sedes da Copa América, não foi pessoal nem uma política de Estado. Foi do seu partido. Em Brasília, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) anunciou, ao mesmo tempo, que acionará a Justiça contra a realização do evento em território brasileiro. Mais cedo, a Conmebol divulgou que o campeonato será realizado no Brasil a partir de 11 de junho. Delgado afirmou em seu perfil do Twitter que é “um absurdo” a Copa América ser realizada no Brasil neste momento.
Irresponsabilidade – Júlio Delgado considera que a Copa América poderia ser facilmente adiada. Como argumento, o parlamentar mineiro diz que o campeonato não é classificatório para as Olimpíadas ou para a Copa do Mundo. Assim, seu adiamento não traria maiores prejuízos. “Meramente comercial, podia ser adiada tranquilamente”, advertiu. De acordo com ele, o caso será levado ao Supremo Tribunal Federal em caráter de urgência. “Nenhum país quis. A decisão do presidente brasileiro é de uma tamanha irresponsabilidade”, afirmou.
Pior da pandemia – Já o governador Paulo Câmara, que tomou a decisão de excluir o Estado tão logo tomou conhecimento e alinhou-se com o PSB nacional, alegou que Pernambuco se encontra no pior momento da pandemia. No último sábado, segundo ele, houve recorde de novas infecções pela covid-19. Ao todo, foram registrados 5.576 casos da doença em 24 horas. A taxa de ocupação de leitos de UTI na rede pública é dramática e já atinge os 98%.
A posição oficial – Em nota, o governador assim se posicionou: “O Governo de Pernambuco monitora, de forma permanente, os indicadores da doença no Estado. Nas últimas semanas, foi identificada uma nova aceleração dos casos, que motivou novas medidas restritivas no Agreste e na Região Metropolitana. Apesar de ainda não ter sido procurado oficialmente pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o Governo do Estado reforça que o atual cenário epidemiológico não permite a realização de evento do porte da Copa América no território de Pernambuco".
CURTAS
BRUTALIZAR – Da vereadora Liana Cirne (PT), sobre o ataque que sofreu da PM: "Eu vi que não era um comando para dispersar. Era um comando para brutalizar, ferir os manifestantes. Quando eu cheguei à Ponte Princesa Isabel, o ato já havia sido dispersado por força da ação policial truculenta. Já havia sido dispersado, os manifestantes estavam correndo, fugindo, pedindo socorro, literalmente. Então, não foi uma ação de dispersão, foi uma ação de violência".
SERRA TALHADA – Em mais uma demonstração de que, na verdade, trabalha fortemente por Serra Talhada, o deputado federal Fernando Monteiro (PP) assegurou, ontem, os recursos federais necessários, através de emendas, para a prefeita Márcia Conrado (PT) construir um acesso decente ao perímetro urbano da cidade.
Perguntar não ofende: Se os jogos da Copa América serão sem público que implicações teriam para o quadro da pandemia no Estado?
Fonte: Blog do Magno Martins.
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