Finalmente, o que já se previa há muito tempo, objeto de comentários nesta coluna, aconteceu: o fim do matrimônio do ex-governador Paulo Câmara com o PSB, legenda que se confunde com a história e trajetória política de uma figura mitológica, o ex-governador Miguel Arraes, num primeiro momento, e depois seu neto, o também ex-governador Eduardo Campos.
Na verdade, Câmara entrou um tanto forçado no partido em 2013, na última hora legal, por exclusiva insistência do deputado Milton Coelho. Poucos meses depois, desbancou um leal e verdadeiro socialista, Tadeu Alencar, para se tornar o candidato a governador. Poucos dias antes de morrer tragicamente, Eduardo Campos desabafou dizendo que foi o maior erro político da vida dele, considerando a fraqueza pessoal de Câmara.
Realmente, a escolha foi equivocada e significa agora uma ameaça à importância do PSB na política pernambucana. Esse desfecho tem uma lógica mais profunda, tendo como ponta do iceberg a traição de Câmara contra quem mais o apoiou e viabilizou sua reeleição, Geraldo Júlio. Toda a família Andrade Lima Campos ficou estarrecida por tamanha traição e falta de correção de Paulo Câmara.
Tudo ao lado do crescente desgaste por um governo desastroso, conforme já temia Eduardo Campos. O quadro ficou ainda mais agravado quando Lula revelou a Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB, que Câmara havia combinado para Humberto Costa ser o candidato ao governo, enquanto o então governador disputaria a vaga ao Senado.
Já que não seria senador, Câmara decidiu sabotar o candidato a governador, Danilo Cabral. Ao mesmo tempo, deu toda a máxima carga à candidata do PT ao Senado, Teresa Leitão. E, lógico, fez de tudo e mais alguma coisa para ajudar a campanha de Lula. Com isso, se aproximou ainda mais do PT. Uma vez concluídas as eleições, os senadores Humberto Costa e Teresa Leitão, junto com os demais membros do PT de Pernambuco, iniciaram uma campanha em favor de Paulo para ser ministro de Lula.
Mas eis que o PSB colocou uma pedra no meio do caminho e vetou a presença de Câmara no Ministério. A partir daí, Paulo começou a traçar uma estratégia para ocupar o espaço nacional do PT de Pernambuco. Reforçando isso, basta lembrar que o PT pernambucano não teve, até o momento, qualquer espaço no Governo Lula.
É aí que Humberto Costa e Teresa Leitão, irmã do antigo sogro de Câmara, o jornalista Ricardo Leitão, entraram pesado para defender espaços para Paulo. No final, só sobrou o BNB e aí existe no momento várias batalhas em paralelo: o líder do Governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), o ex-governador do Ceará, Camilo Santana, junto com o novo governador, Elmano de Freitas (PT), pressionam para a presidência do BNB ficar com o Ceará.
O resultado do gesto de Paulo Câmara, de deixar o PSB, pegando os próprios aliados de surpresa, ainda pode pesar na balança favorável ou não para ele. Dependerá do bom humor de Lula e de sua disposição de contrariar o prefeito do Recife, João Campos, que ao lado do ex-prefeito Geraldo Júlio, deram uma “mãozinha” para frustrar o projeto do ex-governador de despachar na Esplanada dos Ministérios.
Revoada será maior – Depois da jogada de toalha do ex-governador Paulo Câmara, em razão de ter sido jogado na jaula dos leões por João Campos e Geraldo Júlio, haverá uma revoada da legenda. Fala-se que seguirão Câmara, logo, logo, Danilo Cabral, candidato do partido derrotado ao Governo do Estado, e o deputado em fim de mandato Milton Coelho. Histórico da legenda, Gonzaga Patriota também foi prejudicado pela cúpula do partido, não sendo reeleito, e pode cair fora.
Legenda no ocaso – O Partido Socialista Brasileiro (PSB) está fadado a sucumbir. Saiu da eleição passada menor do que entrou. Só elegeu três governadores – Maranhão, Espírito Santo e Paraíba. Na Câmara Federal, perdeu 19 deputados, com a bancada reduzida de 33 para 14 parlamentares. No Senado, sua bancada ficou reduzida a um representante. Sua maior liderança agora, o vice-presidente Geraldo Alckmin, está mais para tucano pela sua longa permanência no PSDB.
Caiado afrouxa – Ex-aliado de Jair Bolsonaro, Ronaldo Caiado (União Brasil) fez, durante a reunião dos governadores com Lula, ontem, em Brasília, um discurso crítico a questionamentos do resultado das eleições. O governador de Goiás afirmou que a disputa já passou e que é “hora de todos trabalharem juntos”. Caiado destacou que sua intenção é “convergir” e não competir com o governo Lula. Disse que tem respeito absoluto pelo resultado das urnas e que não há propósito de colocá-las em xeque. Destacou ainda que a democracia “está fortalecida”.
Combate à fome – A governadora Raquel Lyra deixou a reunião com Lula informando que o combate à fome nas regiões Norte e Nordeste esteve na pauta da reunião, assim como o papel do Consórcio Nordeste no reposicionamento importante da região dentro do país. “O Consórcio do Nordeste trabalha o reposicionamento do Nordeste para que ele seja enxergado como parte da solução do Brasil, no investimento em tecnologia da informação, na bioeconomia, com a caatinga, energias renováveis, o turismo, o polo logístico; daí a importância da Transnordestina, portos, aeroportos e de uma agenda forte de superação da pobreza e combate à fome”, disse a tucana.
Prioridades de Raquel – Na reunião de ontem com Lula e os 27 governadores, a Raquel Lyra (PSDB) apresentou o que julga prioridades em seu governo: ampliação do Metrô do Recife, Adutora do Agreste e Ferrovia Transnordestina. “Esses projetos vão ser discutidos em agendas bilaterais entre Casa Civil e governos, e aí apontará para cada ministério específico, para que a gente possa reunir e construir as pautas, inicialmente, de retomada das obras inacabadas e também em ministérios, como o Ministério da Saúde”, explicou a governadora tucana.
CURTAS
OBRAS PARALISADAS – O governo Raquel Lyra vai analisar 106 obras paralisadas ou recém-iniciadas para fazer um diagnóstico das construções que poderão ser concluídas. São 50 obras abandonadas e 56 que começaram a ser feitas a partir de junho de 2022, no final da gestão do ex-governador Paulo Câmara (PSB).
NO BN – No encontro que teve com Lula, para comunicar sua debandada do PSB, o ex-governador Paulo Câmara recebeu a sinalização de que poderá presidir o Banco do Nordeste. Mas terá que esperar pela mudança na lei das estatais.
Perguntar não ofende: Por que Lula mudou o tom revanchista na reunião com os governadores dois dias após chamar Temer de golpista?
Fonte: Blog do Magno Martins.
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