terça-feira, 5 de julho de 2011

Distrito de São Lourenço vive no esquecimento

Existe uma ilha esquecida em pleno Grande Recife. E não é apenas a água que separa os moradores de Lages, distrito de São Lourenço da Mata, do resto de Pernambuco. Além da principal via de acesso ao local viver alagada, o escanteio da administração pública é a razão do isolamento. Enquanto a atenção da prefeitura da cidade, do governo estadual e da Presidência da República se concentra na viabilização do projeto da Cidade da Copa, Lages não pode nem enterrar seus mortos com dignidade. O cemitério local está abandonado. Nas casas, a água que chega às torneiras é tão barrenta que parece ter vindo diretamente das crateras da rua que leva ao distrito. Alagada ao ponto de impedir a passagem de carros e ônibus.

Entrar e sair de Lages por dentro de São Lourenço da Mata, só com carro grande ou enfiando o pé na lama. Como a maioria dos moradores não tem condições de comprar sequer um carro popular, a alternativa, quando muito, é usar botas de galocha. Quem vem de carro pela BR-408 precisa ignorar a entrada pelo distrito Matriz da Luz, que levaria a Lages, não fossem os buracos, e prolongar a viagem até Chã de Alegria, 32 quilômetros mais longe de São Lourenço da Mata.

A dificuldade de acesso chega a ser fatal. Em 2009, um ônibus que transportava 50 pessoas, clandestinamente, de Lages para o centro do município, colidiu contra um caminhão, matando seis passageiros. O coletivo já tinha sido usado pela Prefeitura de São Lourenço da Mata como transporte escolar e estava sem manutenção. Depois de ter sido interditado aos estudantes por causa do sucateamento, passou a carregar os moradores, que aceitavam o transporte por ser a forma de locomoção mais acessível e uma das poucas alternativas.

Na Escola Municipal Francisco Tavares de Moura, apesar dos alunos não reclamarem da qualidade do ensino, falta água para manter a higiene da unidade, a merenda não chega, não há computadores e fica difícil assistir às aulas sem energia elétrica. E o problema com a luz não se restringe à escola. Todas as noites, a cidade inteira precisa enfrentar a escuridão. No cemitério municipal, para se fazer um enterro, é preciso que alguém acenda os faróis de um carro para iluminar o sepultamento. Ou segurar o velório até amanhecer.

O enterro acontece no meio do lamaçal e do mato crescido. Tão escanteada quanto a necrópole, está a única área de lazer de Lages, conhecido como Povoado de Tapema. O parque localizado ao lado da escola municipal está com a estrutura acabada e enferrujada, enquanto o campinho é mantido com esforço pela população.

Ao lado do cemitério abandonado, na Rua Mercanteiro, os moradores precisam andar pulando esgoto a céu aberto. No distrito, as pessoas reclamam de falta de apoio financeiro. Moradora da via, a aposentada Maria das Dores Maculino, 69, por exemplo, vive há 40 anos na mesma casa sem quartos, onde dorme com o marido no tapete, sem condições de comprar cama, nem colchão. “Os políticos vêm aqui, prometem e já estão há muito tempo só na palavra. Ninguém faz nada”, conta a moradora.

Perto da casa de Maria das Dores, fica o Posto de Saúde da Família (PSF) do distrito, onde, segundo os moradores, faltam remédios e o único médico da unidade passa cerca de duas horas por dia atendendo as pessoas. Isso quando aparece no posto. Às 11h da última quarta-feira, quando a reportagem do JC esteve no posto, não havia ninguém no local. De acordo com a Prefeitura de São Lourenço da Mata, quando não existem médicos no PSF, enfermeiros e técnicos de enfermagem ficam de plantão para garantir o atendimento, das 7h às 15h. A prefeitura também afirma que não existe o problema de carência de medicamentos e que estes são repostos a cada 15 dias.
Ainda segundo o município, o projeto para recuperação e abastecimento regular da água está em fase de licitação.

Quanto ao acesso ao distrito, a prefeitura afirma que existe um projeto aprovado e convênio firmado com o Instituto Agronômico de Pernambuco para fazer uma ação de melhoramento nas vias. Entretanto, nem o problema com a água, nem com as estradas de barro têm previsão oficial para serem resolvidos.

De acordo com o Executivo municipal, o cemitério receberá reparos até o próximo dia 15 e uma equipe da prefeitura visitará o parque do local para verificar se existe a necessidade de reparos.

Fonte:Do JC Online

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