A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 investiga uma conversa por Whatsapp em que um médico da Prevent Senior orientaria outros funcionários da empresa a usar uma estratégia para reduzir as notificações por covid-19. Na conversa, obtida pelo R7, ele instrui outros profissionais a mudar a identificação do problema para qualquer outra doença, o que mascararia os indíces. A comissão suspeita de uma atuação para subnotificar os casos.
Na quarta-feira (22), o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, será ouvido pela CPI. A situação deve ser um dos questionamentos dos senadores. Informações que chegaram a eles apontam que a orientação para mudar o CID teria começado em julho do ano passado. A mensagem em questão é de novembro.
"Precisamos padronizar o CID B34.2 para todos os pacientes com suspeita ou confirmação de covid-19 para que estes possam ser adequadamente contabilizados independente do status de exame e/ou da unidade. Reforcem com os médicos do PA para preencher a solicitação corretamente, e corrijam as solicitações incorretas. Após 14 dias do início dos sintomas (pacientes de enfermaria/apto) ou 21 dias (pacientes com passagem em UTI/leito híbrido), o CID deve ser modificado para qualquer outro exceto B34.2, para que possamos identificar os pacientes que já não tem mais necessidade de isolamento. Início imediato”, diz a mensagem. Ao menos dois médicos responderam, mostra a reprodução da conversa, para dizer que estavam cientes da orientação.
Reprodução da mensagem
REPRODUÇÃOA Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID) citada pelo médico é de infecção pelo coronavírus de localização não especificada. Segundo a empresa, a conversa foi retirada de contexto. A Prevent pediu à Procuradoria-Geral da República (CPI) que investigue quem foram os responsáveis pelas denúncias.
EPIs
Outra denúncia encaminhada à CPI por médicos da operadora de saúde aponta que a rede teria limitado o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) no atendimento dos clientes, chegando a proibir o uso de máscaras em algumas situações. A questão teria, segundo a denúncia, o propósito de facilitar a disseminação do vírus da covid-19 no ambiente hospitalar a fim de iniciar um protocolo de testes para tratamento da doença.
O referido protocolo usava medicamentos sem eficácia comprovada do chamado "kit covid", como cloroquina e ivermectina. A denúncia foi enviada à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no último dia 24 por uma advogada do grupo de 12 médicos. O R7 teve acesso a uma análise do documento, que aponta ainda que o protocolo de testes adotado pela Prevent Senior teria sido acordado com assessores do governo federal. Conforme denunciado, a pesquisa supostamente pactuada entre o governo e a Prevent precisaria comprovar a eficácia de cloroquina e azitromicina no tratamento da covid-19.
Na denúncia, há uma mensagem de whatsapp de 25 de março do ano passado na qual a direção da rede teria indicado aos médicos o início do protocolo de uso de hidroxicloroquina combinada com azitromicina nos pacientes ambulatoriais, pontuando o seguinte: “Por favor, não informar o paciente ou familiar sobre a medicação e nem sobre o programa”. Segundo denunciado, o objetivo seria manipular os resultados da pesquisa para comprovar a eficácia do tratamento.
Os pacientes, então, estavam sendo testados, sem saber, e sem que os estudos fossem submetidos à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). A pesquisa só foi autorizada em 14 de abril, segundo a denúncia, mas foi suspensa seis dias depois após irregularidades serem verficadas, como a inexistência de grupo de controle.
Conforme denúncia, diante das críticas do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, a rede decidiu se aproximar de assessores próximos ao presidente Jair Bolsonaro e ao Ministério da Economia para evitar conflitos. Além disso, diante do descontentamento do presidente com Mandetta, teria sido elaborada por pessoas próximas a Bolsonaro uma estratégia de focar nas questões econômicas da pandemia, ao mesmo tempo em que Bolsonaro indicava medicamentos como cloroquina para a população, deixando-a mais “segura”.
Apesar de se falar que o médico tem autonomia para receitar medicamentos off label, ou seja, para usos que não estão previstos em sua bula, desde que haja concordância do paciente, a denúncia aponta que a Prevent não permitia que os médicos atuassem com autonomia, devendo receitar os medicamentos que constavam no kit.
Fonte:Sarah Teófilo, do R7, em Brasília.
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