sábado, 7 de agosto de 2010

Os primeiros convocados. Para a Arena da Copa

O pernambucano José Joaquim dos Santos Filho é pedreiro. Gosta de futebol, mas não costuma frequentar estádios. Tem 29 anos e assistiu a apenas a um jogo no campo. Isso aconteceu quando ainda morava em São Paulo, há mais de um ano e meio. Foi ao Morumbi para o ver o seu Corinthians bater o Palmeiras por 2x1. Não tem tanto dinheiro assim para bancar este lazer. Vive sobre a corda bamba. Uma obra aqui, outra acolá. Mas planeja voltar a um estádio. Estádio não. Arena. “O sonho de todo brasileiro pobre é ver um jogo da Copa do Mundo.” Há uma semana, ele trabalha diariamente no terreno que abrigará o palco de Pernambuco na Copa do Mundo de 2014.

Foi recrutado na primeira leva de trabalhadores para o início das obras tocadas pelo consórcio Arena Pernambuco, liderado pela empreiteira Odebrecht. Ele e outros dois irmãos. “Eles são meio envergonhados para falar.” Há mais dez componentes da família Santos, do município agrestino de Bom Jardim, vivendo atualmente em São Lourenço da Mata, cidade do Grande Recife onde está sendo erguido o estádio.

A arena se restringe no momento a tapumes de concreto, um escritório improvisado, caminhões, algumas máquinas de construção e cerca de 30 operários. A licença para a instalação do canteiro de obras saiu oficialmente há dez dias. A chuva constante ainda atrapalha o ritmo.

A pronúncia da letra R à paulista foi o que sobrou de resquício da passagem de mais de oito anos pela Terra da Garoa. Lá, o pedreiro foi caseiro e operador de máquinas. Não compensava a distância da família. “Antes, estava tentando emprego lá pelo lado do Cabo (de Santo Agostinho, Grande Recife). Aqui fico mais perto da minha família. É onde dá para ‘nós se encaixar’. Em obra do governo, a gente tem que se encaixar. O salário compensa. Espero ficar até o final. Quem sabe não consigo juntar dinheiro até lá para ver o primeiro jogo da Copa no estádio?”

Espera um ingresso de presente. No Mundial da África, em junho e julho, muitos trabalhadores que participaram da construção dos estádios receberam entradas da organização para fazer parte da festa de verdade, aproveitar por 90 minutos o luxo que ajudaram a levantar.

Uma pequena parcela dos operários africanos do Soccer City, palco da final do Mundial, também inaugurou o gramado com uma partida festiva. O mesmo terreno onde pisariam depois Kaká, Messi, Cristiano Ronaldo, Sneijder e David Villa. Um território próximo ao Soweto de negros e pobres. Excluídos primeiramente pelo apartheid; depois pela chance que não não veio após o fim do regime de segregação.

Em São Lourenço da Mata, o salário de José Joaquim, como o de outros milhares que serão recrutados futuramente para alavancar o sonho do pernambucano de receber o evento mais importante do futebol mundial, não lhe permite afirmar com segurança que conseguirá concretizar seu sonho de “brasileiro pobre”. Provavelmente, em 2014, repetirá o que fez durante a Copa do Mundo da África do Sul. A televisão, ao lado de todos os Santos, será a grande opção. Mas isso não é motivo para mudar a relação que o pedreiro mantém com a seleção. “Esperamos que o Brasil seja campeão desta vez.”


Blog de Jamildo

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