O Nordeste não foi generoso com Bolsonaro nas urnas, nem no primeiro nem no segundo turnos. Perdeu para Fernando Haddad, no confronto final, mesmo por uma diferença pequena em alguns Estados. Ao longo do acirramento final da disputa não soube captar o sentimento do eleitorado nordestino de que seria o instrumento para tirar o PT do poder, pondo fim à roubalheira generalizada.
Bolsonaro não encontrou ressonância sequer na principal bandeira que assumiu com os menos favorecidos: o pagamento do 13º salário do programa Bolsa-Família, promessa cumprida. Mesmo não valorizado pelos nordestinos, o presidente não teria o direito de expurgar a Região do seu Ministério. No primeiro ano, não se viu uma alma nordestina despachando na Esplanada dos Ministérios.
Ontem, um nordestino do Rio Grande do Norte, especializado em sistema previdenciário, assumiu a pasta de Desenvolvimento Regional: o ex-deputado federal Rogério Marinho. Competente, articulado e respeitado, deu um show na discussão da reforma da Previdência, sendo o principal protagonista que falava em nome do Governo.
Não sei, na verdade, se ele entende de políticas regionais, mas se sua atuação na nova pasta se der na mesma direção em que atuou na Previdência, o Nordeste estará em boas mãos. Como é influente com o rei, pode canalizar um novo direcionamento aos Estados nordestinos que, historicamente, vivem de pires nas mãos em Brasília.
O Nordeste não é terreno fértil do ponto de vista político para o Governo Bolsonaro, porque todos os governadores, sem exceção, foram eleitos no campo de oposição, entre os quais dois dos mais influentes, Bahia e Ceará, empunhando a estrela do PT. Bolsonaro já deu alguns sinais de que não discrimina. Numa entrevista ao blog, o governador do Ceará, Camilo Santana, que é do PT, defendeu o fim da política do ódio por parte de colegas da Região, afirmando que não tinha do que reclamar do tratamento dispensado pelo presidente ao seu Estado.
Destino de Cintra – Por falar em Nordeste, o Governo ainda não bateu o martelo sobre a continuidade do empresário Douglas Cintra na Sudene. Marcada inicialmente para ontem, a reunião do núcleo duro da articulação política de Bolsonaro ficou para hoje. O motivo do adiamento foi a posse de Rogério Marinho, atraindo uma penca de deputados nordestinos, especialmente do Rio Grande do Norte, por onde ele se elegeu deputado federal. “Marinho é a esperança de que o Nordeste possa ser olhado agora de forma mais destacada”, disse um parlamentar paraibano.
O fim – A série neste blog sobre os bastidores explosivos envolvendo a briga na família do ex-governador Eduardo Campos tem um ponto final, hoje, com a terceira e última postagem. Foi pautada a partir do depoimento do presidente da Fundação Joaquim Nabuco, Antônio Campos, ao Ministério Público Federal como testemunha de um processo em caráter sigiloso aberto pelo PSB. Trouxemos revelações com base em depoimentos de uma penca de políticos e gestores que já provaram do cafezinho quente no Palácio do Campo das Princesas.
Os excluídos – O presidente Bolsonaro assinou, ontem, em cerimônia no Palácio do Planalto, decreto para transferir o Conselho Nacional da Amazônia Legal do Ministério do Ambiente para a Vice-presidência. De acordo com o texto do decreto, divulgado pela Secretaria de Comunicação Social, o conselho será integrado pelo vice-presidente Hamilton Mourão e por 14 ministros do governo federal. A composição anterior do conselho, estipulada em um decreto de 1995, incluía os governadores da Amazônia Legal. No decreto assinado por Bolsonaro, os governadores não integram o conselho.
E a SUDENE? – Se Bolsonaro age assim com o Norte, degolando governadores, o que pode vir a fazer em relação ao Conselho da Sudene? Esta foi a pergunta mais ouvida, ontem, em Brasília, depois que o presidente degolou os governadores do Conselho Nacional da Amazônia Legal, do Ministério do Meio Ambiente. A Sudene, vale a ressalva, só volta a ganhar vitalidade de vez se os governadores nordestinos se engajarem efetivamente às novas propostas e políticas apresentadas pelo superintendente Douglas Cintra.
CURTAS
TENTANDO AMENIZAR – O vice-presidente Hamilton Mourão tentou controlar os governadores da região da Amazônia, ontem, após a decisão do Governo de excluir todos do Conselho Nacional da Amazônia Legal. Afirmou que, mesmo sem compor o Conselho, os governadores serão consultados para estabelecer as prioridades para a região. “O Conselho tem a função de integrar e coordenar as políticas em nível federal. Os governadores serão consultados para que estabeleçam suas prioridades”, declarou. A fala do vice-presidente, entretanto, não foi levada a sério pelos governadores, que se sentiram apunhalados.
RETROCESSO – Capitais e municípios localizados na região metropolitana terão até dois de agosto de 2021 para incorporar mudanças na gestão dos resíduos sólidos, os chamados lixões. Já os que possuem população com mais de 100 mil habitantes, entre 50 e 100 mil e menos de 50 mil, terão até o dia dois de agosto dos anos de 2022, 2023 e 2024, respectivamente, para fazê-lo. Para o gerente de Estudos e Auditorias Temáticas do TCE, Alfredo Montezuma, a nova Lei representa um retrocesso. “Desestimula os gestores a adotar medidas socioambientais e acomoda aqueles que vêm resistindo e protelando a aderir às determinações da PNRS”, diz.
EM GOIANA – Embora doente, com dificuldades de locomoção, o prefeito de Goiana, Osvaldo Rabelo Filho, o Osvaldinho (MDB), está fazendo um leque de obras no município que pode viabilizar o candidato a prefeito do seu grupo, no caso o jornalista Fernando Veloso. Há muito morando em Juazeiro (BA), Veloso já se transferiu de mala e cuia para sua terra, que nunca abandonou, diga-se de passagem. O que se diz por lá é que Osvaldinho não poderia ter escolhido nome melhor.
Perguntar não ofende: O Conselho Deliberativo da Sudene pode ser o próximo a ter governadores degolados?
Fonte: Blog do Magno Martins.
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