Por Adriano Oliveira*
O Instituto Paraná divulgou o ranking dos prefeitos das capitais mais bem avaliados. Os cinco primeiros são: Bruno Reis (68%), Salvador; Davi Almeida (67,3%), Manaus; João Campos (66,3%), Recife; Rafael Greca (65,2%), Curitiba. O último, em um ranking de dez gestores, é Edmilson Rodrigues (28,6%), Belém. No raciocínio simplista, é correto afirmar que a exceção do prefeito da capital do Pará, todos são favoritos ou atores estratégicos na eleição de 2024. A popularidade é a variável mais simples e objetiva para fazer predição eleitoral. É muito melhor, inclusive, do que a intenção de voto.
Todavia, estamos em junho de 2023. As eleições ocorrerão em outubro de 2024. Portanto, faltam meses. A opinião pública é liquida, isto é, votantes mudam de opinião quando são provocados/incentivados. A variável popularidade deve ser vista como constante, mas que está em condições de sofrer oscilações positivas e negativas na linha do tempo. A popularidade dos governos não é, apenas, estática. Ela é móvel e estática. Portanto, os prefeitos que são bem avaliados hoje, podem não ser amanhã.
As estratégias e a conjuntura política importam. São as pesquisas qualitativas que trazem respostas para as razões da alta aprovação dos prefeitos citados. São elas também que irão dizer os motivos da baixa aprovação do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues. Por que Bruno Reis, alcaide de Salvador, tem 68% de aprovação? Se não temos a pesquisa qualitativa, não conseguirmos responder a esta indagação. Estaremos diante de um dado. E todo dado tem razão de existir. E as razões da existência do dado importam para definir as estratégias que irão desconstruir, reforçar ou aumentar a popularidade do prefeito.
Se o candidato opositor identifica as fragilidades da gestão, mesmo que elas sejam mínimas, em razão da alta aprovação do prefeito, ele definirá a narrativa estratégia para desconstruir a popularidade do prefeito aprovado. Este, por sua vez, se sabe as razões da popularidade alta, construirá estratégias para consolidá-la. Não existe popularidade imune à variações. Estratégias podem provocar inflexões na popularidade.
O maior pecado dos candidatos de oposição é descobrir as razões da popularidade do prefeito através de pesquisa qualitativa e não fazer nada, pois acredita que o estado atual da popularidade permanecerá constante. Pesquisas qualitativas servem para construir estratégias e forçar a tomada de decisão dos candidatos. Competidores que jogam parados estão à espera da sorte eleitoral, a qual pode não vir. Candidatos que jogam estão à espera da sorte, mas, também, dos efeitos das estratégias. Pesquisas servem para ser lidas, interpretadas e para a tomada de decisão.
Paralelo à popularidade dos governantes estão os sentimentos dos eleitores para com a gestão do prefeito. “Olhando o passado e avaliando o presente, qual o seu sentimento para com a sua cidade hoje?” Esta indagação desvenda o sentimento do morador para com o passado, presente e futuro. E, ainda, revela qual sentimento do eleitor para com a eleição. Geralmente, existe associação entre o “sentimento de melhora do presente em relação ao passado da cidade” com a “boa aprovação do prefeito”. Todavia, já me deparei com prefeitos bem avaliados, mas o sentimento do votante é de que a cidade “continua na mesma”. Não encontrei, vale ressaltar, desejo de mudança associado à alta popularidade do prefeito.
Se o prefeito é bem avaliado e o votante tem o sentimento de que a cidade “continua na mesma”, é possível reduzir a sua popularidade? Claro que sim. Pois o eleitor não enxerga avanços, mais conquistas. É possível estar presente, inclusive, a ressaca eleitoral. Ou seja: parcela dos eleitores estão cansados da presença de um mesmo grupo no poder há um bom tempo. Deste modo, apesar do sentimento majoritário não ser de mudança, é possível fortalecê-lo.
A conjuntura política é fundamental. A formação de alianças e o apoio de algum partido ou liderança a um candidato de oposição podem contribuir para o enfraquecimento do prefeito bem avaliado. É muito comum no ambiente eleitoral, grupos e partidos políticos criarem identidades entre os eleitores. Deste modo, o apoio de um partido a um candidato da oposição pode conduzi-lo ao segundo turno.
A análise da variável popularidade deve considerar a complexidade do ambiente eleitoral e de que ela, e isto é uma obviedade, é flexível, possui variância. A popularidade importa muito para a predição do resultado da eleição. Contudo, estratégias também importam. O tempo é o senhor da popularidade, pois os eleitores estão caminhando numa trajetória e recebendo influências diversas que podem mudar a sua opinião. Conclusão: prefeitos bem avaliados são favoritos a vencerem o pleito. Mas estratégias, construídas a partir das pesquisas qualitativas e a conjuntura política, importam.
*Doutor em Ciência Política, professor da UFPE e Fundador da Cenário Inteligência: pesquisa e estratégia
Fonte: Blog do Magno Martins.
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