Como no Brasil a próxima eleição começa quando acaba a última, já é possível delinear um cenário para 2022 em Pernambuco? Ao manter a Prefeitura do Recife em sua estrutura de poder, evidentemente que o PSB saiu fortalecido. Seu candidato natural a governador é o prefeito Geraldo Júlio, que tem pela frente problemas que fogem da alçada política derivando para a judicial. São seis operações da Polícia Federal em seu lombo, que andam, com graves consequências.
Geraldo tem a seu desfavor também sua fraca e inoperante gestão, passando dos 60% de reprovação, sem tempo hábil para se recuperar. Vai depender do desempenho de João Campos no seu primeiro ano, que não será nada fácil diante da situação de dificuldades financeiras da Prefeitura. Some-se a isso o fato de não contar com apoio do Governo Federal e a má vontade do presidente Bolsonaro.
Do lado da oposição, três nomes saíram fortalecidos das urnas: Miguel Coelho (MDB), prefeito de Petrolina; Raquel Lyra (PSDB), prefeita de Caruaru; e, por fim, Anderson Ferreira, prefeito de Jaboatão dos Guararapes. Ainda incipiente, sem fazer nenhum tipo de movimentação, nem assumir a possibilidade, o ministro José Mucio Monteiro, que antecipou em um ano e nove meses sua aposentadoria do Tribunal de Contas da União, é uma alternativa corrente apenas hoje nos bastidores.
Bom gestor, revelação política no Estado, Miguel Coelho tem dois grandes desafios a enfrentar: a questão política-geográfica (um nome do Interior e de município distante, no Vale do São Francisco, já divisa com a Bahia) e a sorte do pai, o senador Fernando Bezerra Coelho, que deve ir à reeleição, mas não se sabe por onde. Anderson também é fato novo em gestão pública, mas seu grupo ainda é pequeno e precisa de mais amplitude, acima do universo evangélico.
Já Raquel Lyra, geograficamente, está bem mais próxima do eleitorado urbano da Região Metropolitana e sairia forte numa região com cerca de 1,5 milhões de eleitores, o entorno de Caruaru. Pesa o fato de ser mulher, filha de ex-governador, bem avaliada como gestora. Por fim, Marília Arraes merece um capítulo à parte. Saiu derrotada eleitoralmente, mas conquistou um capital político: 348,126 mil votos na capital.
Armando Monteiro e Mendonça Filho, o primeiro sem partido e o segundo do DEM, são nomes presentes na memória do eleitor, com densidade eleitoral, mas talvez estejam fora de 2022 por virem de seguidas derrotas eleitorais no Recife e no Estado. Certamente, entretanto, serão atores importantes na discussão de um projeto alternativo da oposição.
Mas tem pela frente a necessidade, se quiser de fato a entrar no jogo, de mudar de legenda. O PT foi o seu grande inimigo e está, literalmente, varrido do mapa do poder no País. Para onde ela iria, eis a grande questão. Teria que optar por uma legenda de centro-esquerda e começar a trabalhar, em tese, a unidade das oposições.
Abstenção – A abstenção geral nas eleições de segundo turno foi de 29,5%, a maior da história do País. Entre as capitais, a que teve maior abstenção foi Goiânia (GO), onde 36,75% dos eleitores não foram às seções de votação no domingo. Venceu o candidato Maguito Vilela (MDB), que está internado desde outubro devido à covid-19. “Tradicionalmente [a abstenção] é maior no 2º que no 1º turno. O ideal é que a abstenção tivesse sido menor, mas a verdade é que quando tudo começou se imaginava uma abstenção colossal”, declarou o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso.
Golpe – O jornal britânico Financial Times repercutiu os resultados das eleições municipais no Brasil e disse que a escolha dos prefeitos foram um “golpe” para o presidente Jair Bolsonaro. A publicação ainda afirma que o PT também foi derrotado. Escreveu que o “establishment voltou”. “Partidos tradicionais do centro e centro-direita ganharam os grandes prêmios nas eleições municipais do Brasil”, diz o trecho inicial da reportagem, que destacou a vitória de Bruno Covas (PSDB) sobre Guilherme Boulos (Psol), em São Paulo.
Sinal verde do STF – O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), voltou a dizer que não será candidato a um novo mandato à frente da Casa porque a Constituição não permite. Não falou, porém, se não será candidato mesmo que o STF (Supremo Tribunal Federal) o libere para concorrer. “Não trabalho por hipótese”, declarou. Segundo informações de bastidores em Brasília, o Supremo já tem votos suficientes para permitir que ele e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), candidatem-se novamente. As eleições nas Casas estão marcadas para fevereiro.
Mapa partidário – Dos 33 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e aptos a participar da disputa, 29 conseguiram eleger ao menos um prefeito. As quatro legendas que saíram das urnas sem sequer uma vitória para o Executivo municipal foram UP, PCO, PCB e PSTU. Já outros quatro partidos conquistaram apenas uma única prefeitura cada: Novo, PTC, DC e PMB. A análise considera o resultado de todos os municípios do Brasil onde o nome do próximo prefeito já está definido – em Macapá (AP), as eleições foram adiadas por causa da falta de energia.
CURTAS
SEM LOCKDOWN – O prefeito eleito no Rio, Eduardo Paes (DEM), disse, ontem, que, a princípio, descarta o lockdown no Rio. Segundo ele, as medidas a serem adotadas serão terapêuticas em um primeiro momento. Em sua avaliação, o isolamento total seria "extremo e desnecessário". Paes disse ainda que tem conversado com o futuro secretário de Saúde, Daniel Soranz, justamente pela preocupação com a Saúde, agravada nesse momento pela pandemia.
MENOS VOTADOS – Os prefeitos Marcelo Crivella (Republicanos), Hildon Chaves (PSDB) e Emanuel Pinheiro (MDB) receberam menos votos no 2º turno de 2020 do que haviam obtido em 2016. Eles disputaram a reeleição no Rio, em Porto Velho e em Cuiabá, respectivamente. Já o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT), conseguiu mais votos do que há quatro anos.
Perguntar não ofende: Quem sai mais perdendo na eleição municipal: Bolsonaro ou Lula?
Nenhum comentário:
Postar um comentário