segunda-feira, 30 de novembro de 2020

As razões da derrota

 

A vitória de Marília Arraes (PT) estava nas mãos, com 8 pontos de vantagem frente ao concorrente João Campos, segundo o primeiro levantamento do Datafolha na disputa de segundo turno. Só que ao longo da campanha cometeu erros mortais. Ficou num jogo solitário, ouvindo só um lado, o do seu marqueteiro, da teoria suicida de amor na política, paz e amor. Só quem se deu bem com isso uma única vez foi Lula, mas Lula era Lula.

Se quisesse e soubesse usar na hora certa, Marília tinha um verdadeiro arsenal para detonar o adversário, que passou incólume, enquanto ela, agredida e atacada, não reagiu e quando reagiu não convenceu. Quando partiu para endurecer o jogo, já era tarde. Já João Campos, bem assessorado e bom aluno na estreia de campanha majoritária, soube, mesmo as vezes parecendo um robô, desconstruí-la.

A candidata não aceitou nenhuma visão que não fosse a do marqueteiro, que vinha com pesquisas quantitativas mostrando enormes vantagens numéricas, a ponto de ontem, às vésperas da eleição, entregar dados que Marília venceria. Também argumentava que as qualitativas diziam que ela não podia nem desconstruir o adversário nem rebater a desconstrução. Só que Marília também não admitia sequer o questionamento dessa estratégia que, estava na cara, seria e foi mortal.

Se ocorreram ataques tenebrosos de todos os tipos, mas ao não reagir deixou que sua candidatura fossa abatida em pleno voo. Marília perdeu por outros fatores também, entre os quais o abuso do poder econômico do PSB, com duas máquinas moendo para João, o amadorismo instalado em sua coordenação política, que em nenhum momento existiu, e, por último, e decisivo: a rejeição do eleitorado ao PT, partido varrido do mapa eleitoral das capitais, sem um só prefeito eleito.

João Campos obteve uma grande e histórica vitória. Agora o Recife vai ter o mais jovem prefeito de capital de todo o Brasil e de sua história, aos com 27 anos. Passa a carregar nas costas a responsabilidade como sucessor do pai, que partiu de maneira prematura e trágica. Com isso, terá que demonstrar sua capacidade política e gerencial para obter bons resultados, ser reeleito prefeito em 2024 e ser candidato a governador em 2026 quando terá atingido a idade mínima para concorrer ao Governo do Estado.

Amadorismo – Tão logo passou para o segundo turno, tirando a vaga de Mendonça Filho (DEM), Marília foi procurada por vários atores e lideranças políticas. Houve, de largada, um grande número de adesões. Eram vereadores eleitos, mas magoados com o PSB, suplentes e um balaio de pensadores, que não tinham voto, mas tinham o que dizer. Marília não constituiu um núcleo político nem deu poderes a ninguém para falar em seu nome. Dava a impressão de que não queria companhias nem voto, que venceria sozinha uma eleição dificílima. Política não é para amadores.

Jogou certo – Já João Campos, mais humilde no aprendizado do jogo, ouviu a todos, delegou, ampliou e montou uma equipe de campanha experiente e astuta. Jogou de acordo com o que ensinou a sua equipe técnica, até nos debates, quando conseguiu, em muitos momentos, tirar a adversária do sério. Mais do que isso, João foi para o ataque e suas flechadas funcionaram, deram resultado, tanto que atraiu um balaio de votos do segmento evangélico ao sugerir que Marília era ateia.

Direita e esquerda – Ferino e vingativo, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, comemorou como ninguém a vitória de João Campos, não por ter simpatia ao PSB, mas para se vingar do ex-senador Armando Monteiro Neto, que deixou a legenda em apoio à Marília. “O incrível é que Armando nunca dá uma dentro: perdeu na direita e na esquerda”, disse Jefferson, em mensagem ao blog tão logo tomou conhecimento da derrocada do PT na capital pernambucana.

Milton Coelho – A vitória de João abre na Câmara dos Deputados uma oportunidade para um dos quadros mais brilhantes do PSB: o suplente Milton Coelho, que passa a ser efetivado. Atual chefe de gabinete do governador Paulo Câmara, Milton é um eduardista histórico, tendo ocupado todas as funções públicas em vida, desde a presidência estadual da legenda socialista à missão de vice-prefeito do Recife na gestão João da Costa, por delegação expressa do ex-governador. Fará com certeza um belo mandato, amplo, com visão para todos os segmentos da sociedade. É um articulador nato, jeitoso no trato.

CURTAS

O GUARDIÃO – Em Paulista, a vitória esmagadora de Yves Ribeiro (MDB) não é obra apenas da sua história, sua popularidade e cheiro de povo. Seu vice Dido Vieira, também emedebista, teve papel relevante na campanha, verdadeiro braço direito do prefeito eleito. Empresário bem-sucedido, Dido será um grande ator na gestão e pode até pensar em voos mais altos na política se Yves vier a fazer uma boa gestão.

TRANSIÇÃO – Em live, ontem, no calor da eleição de segundo turno, o prefeito eleito de Paulista anunciou que pretende constituir, já a partir de hoje, a sua equipe de transição para levantar a herança maldita de Júnior Matuto. Posso até estar errado, mas essa equipe deve ser coordenada pelo vice-prefeito eleito Dido Vieira.

Perguntar não ofende: Magoada com as traições do PT, Marília deixa o partido ou vai ficar convivendo com lobos?

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