segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Sem Clássico das Multidões

 

Palco de históricas e acirradas disputas eleitorais, envolvendo três grupos com balaios cheios de votos – Zé Queiroz (PDT), Tony Gel (MDB) e João Lyra (PSDB) – Caruaru vive, pela primeira vez nos últimos 50 anos, uma campanha apática, sem graça, sem apostas, sem emoção. Dos três donatários das capitanias eleitorais, com terrenos demarcados pelas cores vermelha, azul e amarela, apenas um está na arena para a guerra: o dos Lyra, apostando na reeleição da prefeita Raquel, herdeira política do cacique do seu grupo, o pai João, que governou a cidade e o Estado.

Diante de cenário com tamanha surpresa, achei bem apropriada para o contexto uma frase do jornalista César Lucena, da Rádio Cultura: “Sem Zé e Tony na campanha em Caruaru é como se a gente vivenciasse um Campeonato Pernambucano de futebol sem Santa Cruz e Sport, só com o Náutico. Não tem graça”, disse ele. Fiquei a matutar. Lucena é cobra criada no jornalismo. Tanto entende de política quanto de futebol. Já cobriu três Copas do Mundo.

Remanescente da vizinha Riacho das Almas, professor de carreira, na tribuna da Cultura Lucena dá, todos os dias, seus pitacos, empareda vendedores de ilusão com conhecimento de causa da cultura política da terra do mestre Vitalino. Ex-prefeitos testados nas urnas e aprovados pela população, Zé e Tony foram protagonistas de grandes embates eleitorais, em campos opostos, um enfrentando o outro, em campanhas que o sangue jorrava pelas canelas.

Hoje, nenhum está no ringue. Teoricamente, o destino os uniu, pela primeira vez, no palanque do socialista Marcelo Gomes, porque a pandemia do coronavírus atrapalhou os planos de Zé entrar na disputa e uma enfermidade, por sua vez, levou Tony a penduras as chuteiras, pelo menos nas eleições deste ano. Resultado: Caruaru ficou, na política, sem o seu Clássico das Multidões, legenda dada ao duelo dos gigantes do futebol, Santa X Sport, que leva a galera ao delírio.

Candidata à reeleição, Raquel havia montado uma estratégia com o cenário de Zé ou Tony como adversário. No apagar do prazo de registro das chapas, nem um nem outro se armou para a guerra. A tucana refez os planos. Sentindo-se ampla favorita, não vai a debates com Marcelo (PSB), Raffiê Dellon (PSD), Erick Lessa, o delegado (PP), e o petista Marcelo Rodrigues. Nem tampouco participa de entrevistas, algo inédito no mapa nacional de eleição.

Ela pode até estar cumprindo à risca o figurino dos seus marqueteiros, mas diferente do peru, que morre de véspera para ser devorado no Natal, eleição se resolve no dia, é uma caixinha de surpresas. À propósito, no Blog Cenário, o jornalista Américo Rodrigo adverte a prefeita para um exemplo que vem de dentro da sua casa: em 2004, João Lyra, o pai dela, perdeu a eleição aos 45 minutos do segundo tempo, já quase na prorrogação, para Tony Gel, porque esqueceu de fazer campanha, achando que estava eleito.

Vale repetir Agamenon Magalhães: a ilusão da política é pior do que a do amor.

Quem sobe, quem desce – As últimas pesquisas eleitorais mostram que três capitais podem decidir seus prefeitos já em 1º turno, segundo levantamento do site Poder360, do jornalista Fernando Rodrigues. É esse o número de capitais onde as intenções de voto no primeiro colocado superam a de todos os outros candidatos. Em outras quatro, o cenário está indefinido. Há candidatos liderando com larga vantagem, mas não superam todos os outros acima da margem de erro dos levantamentos. O DEM pode conquistar dois desses sete municípios já em 15 de novembro: Curitiba e Florianópolis. O segundo turno poderá ser necessário em 19 capitais.

Sudeste embaralhado – São Paulo, a maior e mais rica cidade do País, está com a corrida eleitoral indefinida. Hoje, Celso Russomanno (Republicanos) e Bruno Covas (PSDB) iriam ao segundo turno. Também no Sudeste observa-se a maior discrepância entre um candidato e outro. Em Belo Horizonte, o prefeito Alexandre Kalil (PSD), candidato à reeleição, tem 59% das intenções de voto, segundo o Ibope. Numericamente em seguida aparece João Vitor Xavier (Cidadania), com 7%. Está empatado em 2º lugar, considerando a margem de erro, com outros oito candidatos. No Rio, quem lidera é o ex-prefeito Eduardo Paes, mas ainda num cenário de segundo turno enfrentando o prefeito Crivella.

No Nordeste – As disputas estão emboladas em todas as capitais do Nordeste. Em Salvador, Bruno Reis (DEM), candidato de ACM Neto, é favorito, tem hoje 42%, mas não leva ainda no primeiro turno. O segundo colocado é o Pastor Sargento Isidório, do Avante, com 10%. Em Fortaleza, o Capitão Wagner, do Pros, lidera com 35%, e em segundo aparece a petista Luizianne Lins, com 15%. Em Maceió, e briga promete entre JHC, do PSB, e Alfredo Gaspar, do MDB, este apoiado pelo prefeito. Estão empatados, 26% a 25%, respectivamente. Já em São Luís, o candidato do governador Flávio Dino, Rubens Júnior, do PCdoB, é o último, com apenas 4%. Quem lidera é Eduardo Braide, do Podemos, com 42%, seguido de Duarte Júnior, do Republicanos, com 15%. Neto Evangelista, do DEM, tem 11%.

Demais estados – Ainda adentrando o território nordestino, em João Pessoa o duelo se trava entre o ex-prefeito Cícero Lucena, do PP, que tem 18%, Nilvan Ferreira, do MDB, que aparece em seguida com 15% e o ex-governador Ricardo Coutinho, do PSB, com 12%. Bem próximo a ele, Walber Virgolino, do Patriota, com 10%. Já em Aracaju, o prefeito Edvaldo Nogueira, do PDT, tem hoje 32% e deve ir ao segundo turno com a delegada Danielle, do Cidadania, que desponta com 21%. Os demais candidatos somam 23%. Em Natal, quem lidera é o tucano Álvaro Dias, com 36%, e em segundo aparece Kelps Lima, do Solidariedade, com 10%. Em Teresina, por fim, quem lidera é o candidato do MDB, Doutor Pessoa, com 34%, seguido pelo tucano Kleber Montezuma, com 18% e Fábio Abreu, do PL, tem 16%.

CURTAS

NO SUL – No Sul do País, há também cenários atualizados da disputa municipal. Em Curitiba, o prefeito Rafael Greca, do DEM, está bem próximo de ser reeleito no primeiro turno. Tem 47% das intenções de voto e os demais candidatos 27%. Em Florianópolis, quem lidera é Gean Loureiro, do DEM, com 44%, seguido por Ângela Amin, do PP, com 15%. Em Porto Alegre, por fim, quem assumiu a liderança foi Manuela D'Ávila, do PCdoB, com 24%, seguida por José Fortunati, do PTB, com 14% e Sebastião Melo, do MDB, com 11%. Na briga ainda Nelson Marchezan Júnior, do PSDB, com 9%.   

LIVE DE HOJE – Autor do livro “Casaca e chuteiras”, que trata da trajetória do Rei Pelé, o jornalista mineiro Silvestre Gorgulho, com quem trabalhei no Jornal de Brasília, é o convidado da live deste blog, hoje, às 19 horas, pelo Instagram. Trata-se de resultado de uma pesquisa ao longo dos últimos dez anos com o alho e faro apurados do grande e talentoso repórter que é o Gorgulho.

Perguntar não ofende: A quem a Federal dará bom dia ao longo da semana que começa hoje?

Fonte : Blog do Magno Martins.

Nenhum comentário:

Postar um comentário