sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Bolsonaristas silenciam diante de possível delação de Mauro Cid

Depois de compartilharem intensamente críticas de advogado de Cid sobre cobertura do caso, bolsonaristas silenciam sobre planos de delação premiada -  (crédito: Reuters)

Nos maiores grupos pró-Jair Bolsonaro no Telegram e no Facebook, a reação à proposta de delação premiada entregue pelo ex-ajudante de ordens do ex-presidente Mauro Cid ao Supremo Tribunal Federal (STF) é de silêncio.

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Nas últimas semanas, bolsonaristas compartilharam milhares de vezes uma mensagem de áudio em que o advogado de Cid, Cezar Bitencourt, critica a cobertura da imprensa sobre o caso, negando que seu cliente tenha acusado o ex-presidente em depoimentos à Polícia Federal.

Agora que o tenente-coronel e ex-braço direito de Bolsonaro entregou, em 6 de setembro, um termo de intenção de acordo de delação premiada à Suprema Corte, a verborragia bolsonarista foi substituída pela quietude.

Entre familiares e políticos aliados ao ex-presidente, a reação é semelhante.

Cid está preso desde maio, após ter sido alvo de uma operação da Polícia Federal sobre a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid no sistema do Ministério da Saúde.

Ele também está no centro de uma investigação que apura suposto esquema de negociação ilegal de joias dadas por delegações estrangeiras à Presidência. Defesa de Bolsonaro nega ilegalidades.

Mauro Cid também é apontado como um dos articuladores de uma suposta trama para organizar um golpe de estado no Brasil após a derrota de Bolsonaro para o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nas eleições do ano passado. Segundo a PF, foram encontrados no celular de Cid uma minuta para um golpe e um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

Após uma série de idas e vindas sobre a possibilidade de uma delação premiada que poderia encurralar o ex-presidente, a defesa de Cid esteve no gabinete do ministro Alexandre de Moraes na quarta-feira (6/9) e propôs colaboração com a Justiça.

Os termos da delação ainda não são conhecidos, mas, segundo a Globonews e o portal UOL, a Polícia Federal informou que concorda com a proposta.

Para ser confirmada, ela ainda depende de parecer positivo do Ministério Público Federal (MPF) e da aceitação de Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos envolvendo o tenente-coronel Cid.

Euforia pré-delação

Em um grupo com quase 300 mil bolsonaristas, as críticas do advogado de Cid à imprensa foram compartilhadas pelo menos 5 vezes em 24h, no dia 1º de setembro.

Divulgadas nas redes sociais em texto, vídeo e áudio, inclusive por autoridades como as deputadas federais Bia Kicis (PL) e Carla Zambelli (PL), as falas do advogado geraram comoção.

"A verdade sempre aparece. Deus no comando", escreveu um apoiador do ex-presidente.

"Deus é fiel, parabéns doutor", disse outro.

"Uma pessoa íntegra e de caráter , anda pela via correta com base na verdade. Parabéns ao advogado Dr. Cezar Bitencourt", publicou um terceiro.

Na mensagem enviada à jornalista Camila Bonfim, da GloboNews, Bitencourt diz que "estão colocando palavras" e "acusações a Bolsonaro que não existem" na boca de Cid.

"Cid assumiu tudo. Não colocou Bolsonaro em nada. Não tem nenhuma acusação de corrupção, envolvimento de Bolsonaro, envolvimento ou suspeita de Bolsonaro. A defesa não está colocando o Cid contra Bolsonaro", afirmou o advogado nas mensagens, publicadas no blog da jornalista no portal G1.

Na mensagem, Bitencourt se declara "estarrecido" com a forma como o tema era abordado por jornalistas na televisão.

Após divulgar a fala do advogado, um dos principais perfis de apoio a Bolsonaro, com 2 milhões de seguidores só no X (antigo Twitter), escreveu: "Quero capa da Veja com o novo áudio do advogado do Cid! Cadê?"

Silêncio pós-anúncio

O tom bolsonarista mudou, no entanto, quando a imprensa noticiou, nesta quinta-feira, que Mauro Cid procurou o STF para possivelmente apresentar evidências sobre um suposto envolvimento de Jair Bolsonaro em atividades ilegais.

Bolsonaro nega veementemente qualquer ilegalidade.

Para que uma delação premiada seja aceita, a Justiça exige a entrega de provas concretas e não aceita apenas falas e acusações.

O tema, que passou em branco nos principais grupos de apoio ao presidente, tampouco mobilizou a defesa de bolsonaristas no mundo político.

Tradicionais aliados, como Bia Kicis, Carla Zambelli, Nikolas Ferreira (PL), Ricardo Salles (PL) e Magno Malta (PL), além dos filhos do presidente, Carlos, Flavio e Eduardo Bolsonaro, não comentaram o anúncio de intenção de delação.

No X (antigo Twitter), alguns apoiadores do ex-presidente comentaram uma suposta contradição entre o apoio de petistas e simpatizantes à delação premiada de Cid e as críticas de lulistas às delações da operação Lava Jato.

7 de setembro e Toffoli

A estratégia adotada pela grande maioria dos bolsonaristas, nas redes e grupos de apoio ao ex-presidente, foi apostar em outros temas.

Os mais frequentes foram a primeira celebração do 7 de setembro, dia da Independência do Brasil, após o fim do governo Bolsonaro, e a decisão do ministro do STF Dias Toffoli, que anulou "todas e quaisquer provas obtidas" a partir do acordo de leniência celebrado pela Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato.

No Telegram, montagens supostamente mostrando imagens da celebração da independência em 2022 e 2023 sugeriam esvaziamento na gestão "comunista", segundo bolsonaristas, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo a Polícia Federal e o Exército, o desfile de 7 de setembro em Brasília reuniu cerca de 50 mil pessoas – 20 mil a mais que a estimativa do governo.

Em seus perfis, Bolsonaro publicou imagens da celebração durante seu governo, seguido pelos filhos Flavio e Eduardo, pela esposa Michele, e por apoiadores como Nikolas Ferreira, que definiu a celebração como “171 de setembro”.

Tofolli, por sua vez, vem sendo frequentemente chamado de "advogado do PT" em publicações contrárias a sua decisão de invalidar o acordo de leniência da empreiteira Odebrecht na Operação Lava Jato.

Indicado por Lula ao STF em 2009, Toffoli foi de fato advogado do partido nas eleições de 1998, 2002 e 2006, além de ter trabalhado como assessor jurídico da sigla na Câmara dos Deputados entre 1995 e 2000.

Na decisão, Toffoli definiu a prisão de Lula como um dos “maiores erros judiciários da história do país".

Fonte: Correio Braziliense.

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