sexta-feira, 2 de junho de 2023

Se está ruim, vai piorar, dizia Ulysses

Desde que o mundo é mundo, como se diz lá no meu Pajeú, em Brasília Governo só anda exercitando a velha ladainha de São Francisco, do que é dando que se recebe. A velha prática do toma lá-dá-cá, que parecia costume e atraso da direita, reina absoluta e sem competição nos chamados governos de esquerda.

Depois de cinco derrotas seguidas na Câmara, o presidente Lula escancarou de forma desavergonhada a compra de votos. Para aprovar a nova estrutura na Esplanada, na qual ampliou em 17 o número de ministérios, o petista adoçou a boca do Centrão, de aliados e aderentes, com a liberação de R$ 1,7 bilhão em emendas do orçamento secreto, que tanto combateu na campanha.

É a cantiga da perua, que vai ser assim, de pior a pior. Lula imaginou que teria um Congresso submisso e idólatra como o do passado, nas suas duas primeiras gestões. Ledo engano! O bolsonarismo reina na Câmara e no Senado, elegendo as maiores bancadas nas duas Casas e revigorando o Centrão. E sem o Centrão, os conservadores do Congresso, Lula não governa.

Vai ter que aguentar essa moçada, nada boba, até o final do seu Governo, se vier a acabar, faça-se a ressalva. Lula pensa conseguir enfrentar essa moçada boba com os instrumentos de antigamente. Num ambiente de forte resistência a ele e seu partido. As feras políticas no Congresso entenderam que Lula não tem no momento o peso necessário para inverter os pratos da balança.

O resultado disso é um emparedamento constante do chefe do Executivo, que insinua depositar no Judiciário as esperanças de levar adiante pautas travadas pelos parlamentares. A figura do presidente Lula está encolhendo a olhos vistos. Preocupante para o governo é o fato de que esse processo ocorre simultaneamente dentro e fora do País. Os fatores que ajudam a entender esse fenômeno político são diversos, mas possuem um denominador comum.

É a dificuldade de Lula em ler corretamente os dados da realidade, problema agravado por uma figura obcecada consigo mesma, e com os olhos postos num passado distante. O Brasil mudou, o Congresso mais ainda, está pior do que o do passado. Ulysses Guimarães dizia assim quando um deputado vinha aos ombros dele reclamar do baixo nível da Câmara: “Está achando ruim? Espera a próxima legislação!”

Os dois algozes – Não foram apenas os comentários do senador Renan Calheiros (MDB-AL) que estimularam o mau humor de Arthur Lira (MDB-AL) com o governo nos últimos dias. Lira também não gostou nada do fato de o ministro Flávio Dino (Justiça) ter ido nesta semana a Alagoas sem tê-lo convidado para acompanhar a comitiva ao Estado. A irritação se refletiu em plenário. Na quarta-feira passada, Lira quase deixou caducar a medida provisória do governo que promove a reestruturação dos ministérios.

Nem um alô – Dino cumpriu agenda na última segunda-feira com o governador de Alagoas, Paulo Dantas, para a entrega de viaturas policiais. Também anunciou investimentos de R$ 20 milhões na área da segurança pública. Na conversa com Lula por telefone, Lira relatou ao presidente que parlamentares estavam incomodados por não serem chamados por ministros nas agendas pelos Estados. E malhou também sem piedade o senador Renan Calheiros (MDB-AL), seu desafeto na República das Alagoas, que tem dito que Lira não consegue tirar ficha corrida na polícia.

Renan é mais próximo – No contexto nacional, uma conjuntura importante que reforça a rivalidade entre os dois alagoanos é que Renan é mais próximo de Lula, enquanto Lira possui vínculos mais estreitos com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), embora tenha calibrado o discurso para garantir o apoio de aliados de Lula na corrida para se reeleger presidente da Câmara. Apesar da gestão passada também ter enfrentado desafios para conseguir se articular no Congresso, a gestão petista já acumula recorde de CPIs em início de mandato e duras derrotas no Parlamento, em especial entre os deputados.

O jogo é pesado – De Renan Calheiros manifestando ódio contra o presidente da Câmara e desafeto, Arthur Lira: “Triste exemplo: Lira é caloteiro, costuma não pagar o que deve. Pior, desvia dinheiro público e bate em mulher — deu uma surra de 2h em Julyenne, a ex-esposa e mãe de seus filhos. Confesso que aprovei a Lei Maria da Penha pensando em punir meliantes como ele”.

Risco de ficar inelegível – O ministro Benedito Gonçalves, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), liberou, ontem, para julgamento, a Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) que pode deixar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível por oito anos. No caso, o ex-mandatário é investigado pelos ataques que fez ao sistema eleitoral brasileiro durante reunião com embaixadores, em julho de 2022. Com o voto de Benedito disponível, caberá a Alexandre de Moraes, presidente da Corte eleitoral, pautar o tema.

CURTAS

CALOTEIRO – Ainda de Renan sobre Lira: “Os podres de Lira vão se acumulando. Desvios, chantagens, achaques, golpismo, agressão contra a mãe dos filhos. Não é a inteligência artificial do ChaGPT que diz. É a própria vítima da covardia, Julyene Lins, que amplia as denúncias contra o caloteiro. Faltam 580 dias para ele sair”.

QUASE R$ 5 BI – A menção de Renan é relacionada a um processo em que um empresário rural de Alagoas cobra de Lira um pagamento de R$ 1,8 milhão por uma suposta negociação envolvendo cabeças de gado. O caso foi revelado pelo colunista Ancelmo Gois, do jornal O Globo.

Perguntar não ofende: Lula vai tomar partido na briga alagoana?

Fonte: Blog do Magno Martins.

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