quinta-feira, 26 de março de 2020

O socialismo do impostômetro

O socialismo do impostômetro
Para quem está fora do balcão, ou seja, o grande público, o prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), aparenta um discurso descolado, moderno, de gestão e gabinetes de gerenciamento. Não é bem assim a realidade. A decisão de antecipar o pagamento do IPTU de 2021, por exemplo, põe abaixo, rasga a fantasia do seu governo. Mostra que gestão de primeiro mundo só existe para os seus áulicos, os que batem continência para ele.
Ao tentar abocanhar uma receita extra obrigando o contribuinte a pagar, num mesmo exercício, duas faturas de um imposto extremamente caro, o socialista dá uma demonstração de insensibilidade, de que Recife quebrou em suas mãos. Quebrada, a Prefeitura não paga a ninguém. Que digam os fornecedores, muitos com até três meses sem receber suas faturas. Se já estava ruim das pernas, com a crise econômica do coronavírus o Recife foi jogado, literalmente, na UTI.
Por outro lado, o gestor recifense vai na contramão de todos. Prefeitos de capitais e governadores também, ao contrário dele, praticam a política de alongamento de prazos para pagamentos de impostos. Olho grande, provavelmente para concluir o que prometeu no campo da imprevisibilidade, Geraldo quer antecipação de tributos. Pelo amor de Deus! Não sabe ele que o País parou, a usina deixou de moer, como diz um amigo meu?
É de se concluir o seguinte, sem arrodeios: se a Prefeitura estivesse de fato organizada e com previsibilidade sobre a crise atual, o prefeito não precisaria passar a sacola em momento tão inoportuno. Deu o gancho para a oposição, se realmente tivesse oposição na Câmara, a cobrar um quadro real da situação financeira da Prefeitura. O socialismo, pelo que se vê, não deu certo em lugar nenhum do mundo.
Não poderia dar certo no Recife. A capital pernambucana não é uma ilha!
Reação dura – Do bloco da oposição, a única voz em defesa do contribuinte do Recife, que seria obrigado a pagar duas taxas de IPTU, foi a do ex-ministro Mendonça Filho, pré-candidato do DEM a prefeito. “É absurdo, numa crise econômica devastadora gerada pelo coronavírus, querer que o recifense pague o IPTU dobrado, de 2020 e 2021, para aumentar a receita municipal. A Prefeitura tem que cortar despesas, reduzir custos e adotar políticas públicas para socorrer quem está sem renda, perdendo emprego como autônomos, profissionais que vendem produtos na praia, nas feiras e o comércio de bairro”, reagiu Mendonça.
Crise agravada – O discurso do presidente Bolsonaro na TV, anteontem, mostrando desequilíbrio na crise do coronavírus, serviu para afastá-lo ainda mais dos governadores de todas as regiões do País. Nenhum deles, a começar pelo aliado Ronaldo Caiado, de Goiás, concordou com o afrouxamento das medidas de isolamento tomadas pelo próprio Governo. Reunidos, ontem, numa superconferência, os 27 governadores decidiram agir na contramão do que pregou o presidente, anunciando que todas as medidas tomadas, divergentes das do Governo Bolsonaro, estão mantidas.
Bate-boca – Pela manhã, numa videoconferência com todos os governadores, o presidente, além de não se sair bem, teve um bate-boca com o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), depois de este fazer uma intervenção na qual afirmou não ter gostado do seu comportamento no pronunciamento à Nação. “Na condição de cidadão, de brasileiro, e também de governador, início lamentando os termos do seu pronunciamento à nação. O senhor como presidente da República tem que dar o exemplo. Tem que ser mandatário para comandar, para dirigir, liderar o país, e não para dividir", afirmou o governador. Bolsonaro, na resposta, disse que Doria “apoderou-se” do seu nome para se eleger governador e que depois “virou as costas”, passando a atacar o governo federal.
Quem bate mais – Coube ao governador Paulo Câmara a sugestão da reunião dos 27 chefes de Estado, ontem, através de videoconferência, sem a presença do presidente Bolsonaro. Nela, com exceção de apenas dois governadores – Rondônia e Roraima – todos prometeram manter as medidas para conter o avanço do coronavírus. Câmara fez uma dura fala. "Enquanto líderes de vários países tomam medidas necessárias para conter o avanço no novo Coronavírus, aqui no Brasil, em pronunciamento veiculado em Rede Nacional, o presidente Jair Bolsonaro vai contramão do que defendem autoridades sanitárias e o próprio Ministério da Saúde”, afirmou, para acrescentar: “O País está sem comando”.
CURTAS
CARTA 1 – Da carta assinada, ontem, pelos governadores do Nordeste ao final da primeira videoconferência sobre o coronavírus. “É um momento de guerra contra uma doença altamente contagiosa e com milhares de vítimas fatais. A decisão prioritária e a de cuidar da vida das pessoas, não se esquecendo da responsabilidade de administrar a economia dos estados. O momento é de união, de se esquecer diferenças políticas e partidárias. Acirramentos só farão prejudicar a gestão da crise. Entendemos que cabe ao Governo Federal ação urgente voltada aos trabalhadores informais e autônomos”.
CARTA 2 – Ainda da carta dos governadores do Nordeste no confronto com o Palácio e o presidente Bolsonaro: “Agressões e brigas não salvarão o País. O Brasil precisa de responsabilidade e serenidade para encontrar soluções equilibradas. Ao mesmo tempo, solicitamos a necessidade urgente de uma coordenação e cooperação nacional para proteger empregos e a sobrevivência dos mais pobres. Ficamos frustrados com o posicionamento agressivo da Presidência da República, que deveria exercer o seu papel de liderança e coalizão em nome do Brasil”.
SERTÃO VIRA MAR – No Sertão do Pajeú, os prefeitos passaram a administrar outro problemão além da crise na saúde e na economia provocada pelo coronavírus: as enchentes. Em Afogados da Ingazeira, uma ponte foi destruída pelo estouro de uma barragem isolando o acesso ao centro. Choveu tanto que várias famílias que moram à beira do Rio Pajeú foram atingidas, perdendo móveis e até o teto. O prefeito José Patriota teve que sair da quarentena imposta pelo mal do século para percorrer os principais pontos atingidos pelas cheias.
Perguntar não ofende: Até quando o ministro Mandetta, da Saúde, vai ficar no cargo tendo um presidente insensível às medidas que ele toma?
Fonte: Blog do Magno Martins.

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