segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

STF volta do recesso com pautas bombásticas na agenda de 2020

Toffoli pautou mudança em filiações que pode beneficiar Bolsonaro


Toffoli pautou mudança em filiações que pode beneficiar Bolsonaro

REUTERS/Ueslei Marcelino















 O Supremo Tribunal Federal (STF) volta do recesso nesta segunda-feira (3) com muito trabalho programado para 2020. Com grandes discussões que ficaram de 2019 e a mudança de uma das vagas da Corte, o órgão máximo da Justiça nacional será ainda mais pressionado pela opinião pública e pelos poderes Legislativo e Executivo.

Além das inúmeras decisões a tomar, o STF perde neste ano seu decano, o ministro Celso de Mello. Por completar 75 anos em novembro, ele será obrigado, por lei (artigo 100 da emenda constitucional nº 88), a deixar a Casa na qual trabalha desde 1989, abrindo espaço para o primeiro indicado pelo presidente Jair Bolsonaro. Marco Aurélio sai em junho de 2021.

Já na primeira sessão, os ministros devem retomar o julgamento de pontos polêmicos da Lei de Responsabilidade Fiscal. Foi formada maioria para barrar a diminuição de jornada e salário dos servidores públicos, um pedido do governo federal.

Estão programados para fevereiro ainda temas como a execução da pena após condenação em tribunal do júri, o tabelamento de frete dos caminhoneiros e a redução de 60% da base de cálculo do ICMS de agrotóxicos em viagens entre estados.

A discussão relacionada aos tribunais do júri, acionados em crimes dolosos contra a vida, será no dia 12. Ela ganhou força em decorrência da decisão da Corte, de novembro do ano passado, de proibir o cumprimento de pena antes do fim do processo, e esses tribunais representariam apenas a primeira instância do julgamento.

Em março entra na pauta a doação de sangue por homens homossexuais – uma regra do Ministério da Saúde não permite a coleta desse grupo. E também será debatido se pessoas que têm diploma de curso superior continuarão com o direito à prisão especial.

No mesmo mês, uma questão política importante adentra o Supremo. Os ministros debatem se continua a valer a proibição de filiação partidária de eleitores já inscritos em outro partido. 

Se o STF mudar essa regra facilitará a criação do novo partido do presidente Jair Bolsonaro, o Aliança pelo Brasil, que tem tido dificuldade em atingir os quase 500 mil inscritos necessários para ser aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Em abril e maio, entra mais uma sequência de assuntos espinhosos, entre os quais o julgamento da reforma do ensino médio, de 2016, que permitia, entre outras questões complicadas, a contratação de professores sem licenciatura. E a modificação da distribuição de royalties da exploração de petróleo, que colocará governadores de todo o país na porta dos gabinetes dos ministros.

Ainda em maio, julgarão se é constitucional o contrato de trabalho intermitente, criado na reforma trabalhista aprovada pelo ex-presidente Michel Temer.
O primeiro semestre se encerra com um tema quente, a possiblidade de anulação da delação dos executivos do Grupo J&F, marcado para 17 de junho. O caso é relatado pelo ministro Edson Fachin e pode representar mais uma derrota imposta pelo STF à Operação Lava Jato.

Assuntos de anos anteriores
O presidente da Casa, Dias Toffoli, será pressionado também para colocar na agenda outras quatro pautas bombásticas que começaram a ser analisadas no ano passado.
Um deles, a definição de como será na prática o juiz de garantias, criado no pacote anticrime elaborado em parceria pelos ministros do STF Alexandre de Moreas e o da Justiça, Sergio Moro e sancionado por Jair Bolsonaro em dezembro.

Em 15 de janeiro, Toffoli, defensor da figura que teria como função evitar excessos na investigação e no julgamento, adiou o assunto, protelando por seis meses a criação do juiz de garantias

Exatamente uma semana depois, em seu plantão no Supremo, o vice-presidente, Luiz Fux suspendeu por tempo indeterminado a implantação dessa mudança nas ações judiciais . A decisão irá valer até que o plenário decida as novas regras.
Na mesma toada da contenção de abuso de autoridade, um recurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está parado na gaveta do relator do processo, Celso de Mello. A defesa do petista pede a suspeição de Moro no caso do tríplex do Guarujá, pelo qual foi preso após condenação em primeira e segunda instâncias.

Celso de Mello, no entanto, se recupera de uma cirurgia no quadril e não deve tão cedo mexer nesse vespeiro. 
Outros temas de 2019 não sairão da cabeça dos ministros enquanto não derem a palavra final. Entre eles estão a forma como os tribunais do país devem agir com réus que perderam a liberdade por condenações em segunda instância e a determinação clara do que acontece com as sentenças da Lava Jato consideradas irregulares pela Corte por uma falha na ordem das alegações finais.

Os tribunais inferiores e a 2ª Instância
Toffoli resistiu o quanto conseguiu, mas acabou se vendo obrigado a discutir no fim de 2019 o tema sugerido havia quase dois anos pelo ministro Marco Aurélio de Mello: a inconstitucionalidade das prisões após condenações em tribunais de segunda instância.

Assim que optou por mudar (novamente) a interpretação do momento em que os réus do país podem cumprir pena, o STF prometeu voltar a se reunir para estabelecer como seria a regra transmitida a todos os tribunais do Brasil.
Caberia ao plenário estabelecer como se daria a liberação dos condenados  encarcerados após condenações em segunda instância. Mas Toffoli não marcou data alguma para isso.

Com essa indefinição, aumentou o número de pessoas presas de forma inconstitucional, contrariando a regra de que ninguém pode cumprir pena antes do processo transitado em julgado. O Conselho Nacional de Justiça não sabe dizer quantos detentos brasileiros se enquadram nesse perfil.

Ordem das alegações
O Supremo viu um erro processual em boa parte dos processos tocados pela Operação Lava Jato nos julgamentos de primeira instância.

O plenário concordou com a tese das defesas de que, ao permitir que réus delatados tivessem o mesmo momento para fazer por escrito as alegações finais dos delatores, o então juiz federal Sergio Moro arranhou parte do direito de se defender dos acusados.

Após a votação, ficou implícito, aparentemente, que todos os processos nos quais ocorreu essa falha processual seriam anulados e voltariam para a primeira instância, independentemente da fase em que estivessem. Mera ilusão.

O que ocorreu com o processo do sítio de Atibaia, atribuído ao ex-presidente Lula, prova que ainda faltava uma posição mais firme do Supremo. O tema é esperado na pauta do tribunal no início deste ano.

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) se reuniu em dezembro e decidiu ignorar a decisão do STF condenando novamente Lula num caso em que também houve o erro jurídico apontado pelo Supremo.

Fonte: Marcos Rogério Lopes, do R7.

Nenhum comentário:

Postar um comentário