terça-feira, 8 de março de 2022

Federações são balões murchos

 

Na percepção de integrantes do PT e PSB, a federação entre as duas legendas travou e dificilmente vai sair. Não pela disputa entre Fernando Haddad (PT) e Márcio França (PSB) à candidatura ao Governo de São Paulo. Essa, a maioria acha, vai se resolver, provavelmente numa chapa com Haddad na cabeça e França disputando o Senado.

Os petistas acreditam que o PSB não vai entrar na federação PT-PCdoB-PV porque seus dirigentes não querem perder poder – uma razão legítima, embora arriscada politicamente. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, continua otimista e tentará o acordo até o fim. Chegando do México, onde acompanhou o ex-presidente Lula, terá novo encontro com a cúpula do PSB.

Deputados da bancada do partido na Câmara também ameaçam pular fora, pela janela partidária, se não houver federação com o PT, que facilitaria sua reeleição. O desfecho desse (des)entendimento será decisivo para a reorganização partidária e política do País. Se apenas pequenos partidos, que precisam sobreviver à cláusula de barreira, fizerem federações, o mecanismo não vai passar no teste de perenidade como regra política.

Até agora, uma só federação se concretizou, e une o PSDB ao Cidadania, partido que deve sair da janela com apenas três deputados e dificilmente resistiria às eleições de outubro. É possível ainda que PSol e Rede tomem esse caminho, se não se sentirem seguros em relação à eleição proporcional. Outras possibilidades de federação, como a do MDB com o PSDB e o União Brasil, e deste último com o Podemos, que chegaram a ser cogitadas com entusiasmo por seus dirigentes, viraram balões murchos.

O presidente do MDB, Baleia Rossi, esclareceu, no final de semana passada, que não haverá nenhuma federação este ano. Até porque, como se sabe, ele não controla o partido – que, por si só, já é uma federação. O recém-criado União Brasil, por sua vez, ainda está às voltas com a compatibilização entre as bases estaduais e municipais do PSL e do DEM, que se fundiram.

Na praia – A negativa cabal veio do candidato a governador da Bahia, ACM Neto, que anunciou que não abrirá o palanque a qualquer dos candidatos à Presidência, descartando assim, de cambulhada, uma federação para apoiar João Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB) ou Sergio Moro (Podemos). Ao fim e ao cabo, se não houver a federação PT-PSB, o instituto, considerado por especialistas e por ministros do TSE um importante instrumento de aprimoramento político, vai morrer na praia. Aliás, como boa parte das iniciativas saneadoras do atual sistema partidário.

PL vira partidão – Deputados mudam de partido para se reeleger, e sua tendência é sempre se movimentar rumo a siglas ligadas a candidatos presidenciais ou a governador mais promissores. Nessa lógica, o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro são importantes forças de atração na janela partidária que se abriu em 1 de março e vai até 3 de abril. O PL, partido ao qual Bolsonaro se filiou, deve ser o campeão da temporada, com a adesão de cerca de 30 deputados bolsonaristas. Pode acabar com a maior bancada da Câmara, passando dos 42 integrantes de hoje para 72.

Quem ganha, quem perde – Essa migração da bancada bolsonarista deve emagrecer o recém-criado União Brasil, formado pela fusão PSL-DEM. Tem 78 deputados e pode ficar com 53. Outro partido que vai perder quadros é o PSDB, que hoje tem 34 deputados. A candidatura João Doria não entusiasma a bancada, e cerca de 12 deputados estão de malas prontas. Alguns deles rumo ao PSD de Gilberto Kassab, que convidou Eduardo Leite para ser o candidato do partido e, com isso, espera puxar aliados do governador gaúcho. Também nesse campo, o Cidadania, que aprovou uma federação com o PSDB de Doria, deve perder três deputados e ficar com uma bancada de apenas três.

PSB perde dez – À esquerda, o PSB, se não integrar a federação PT-PCdo-B-PV, pode perder até dez de seus 30 deputados, que seguirão rumo a outros partidos que lhes deem melhores condições de reeleição. Por outro lado, o PSB pode atrair deputados que estão em partidos de centro e querem apoiar a candidatura Lula, que vai puxar votos à esquerda, com ou sem federação. É provável que partidos aliados do ex-presidente recebam novas adesões, mas o próprio PT, onde há uma disputa interna mais acirrada, não deve mudar de tamanho na janela, mantendo os atuais 54 deputados.

Crédito para mulheres – Ao lado da reedição dos programas de crédito para empresas criadas na emergência da pandemia – o Pronampe e o PEAC –, o presidente Jair Bolsonaro lança na próxima terça, Dia Internacional da Mulher, o programa “Brasil pra elas”. A iniciativa prevê uma linha de crédito no valor de R$ 150 bilhões destinada apenas às mulheres. A única condição é que sejam “empreendedoras”, donas de pequenos negócios, como uma atividade no ramo da alimentação, da costura, do artesanato, entre outros.

CURTAS

VOTO FEMININO – O projeto "Brasil para elas" foi construído no Ministério da Economia, por encomenda dos coordenadores da campanha de reeleição no Planalto, com o objetivo de atingir o eleitorado mais difícil de Bolsonaro: as mulheres. A estratificação de todas as pesquisas mostra que elas preferem votar em outros candidatos.

CLAREAMENTO – Os próximos 45 dias, com movimentos de acomodação das forças políticas, serão definidores para os rumos das eleições de outubro, na visão de estrategistas das principais campanhas à Presidência. Até o fim de abril, as peças do xadrez eleitoral estarão posicionadas – migrações partidárias encerradas, apoios de partidos e alianças definidos e coligações e federações acertadas, ao menos informalmente.

Perguntar não ofende: Sem as federações, para onde correrão os deputados da bancada federal de Pernambuco filiados a partidos sem chapas?

Fonte: Blog do Silvinho.

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