domingo, 23 de julho de 2023

João Campos defende parceria política entre Lula e Arthur Lira e comenta início do governo do presidente

Foto: Rodolfo Loepert

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), destacou a importância de uma parceria política entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Segundo João Campos, a pacificação da política é fundamental para o país, e ele acredita que Lula e Lira têm total capacidade de construir uma grande aliança em benefício do Brasil, citando como exemplo positivo a Reforma Tributária.

O prefeito também defendeu o diálogo entre os pré-candidatos à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB), esta última sendo sua namorada e parte da base do governo Lula. João Campos afirmou que cabe à deputada falar pelo seu próprio projeto político.

Em relação ao governo Lula, João Campos elogiou os primeiros meses de gestão, destacando ações na educação, desenvolvimento social e saúde. Segundo ele, o presidente preparou o terreno para atividade econômica e equilíbrio fiscal, além de planejar investimentos em infraestrutura. Sobre possíveis pontos a melhorar, o prefeito acredita que os acertos superam as falhas, mas ressaltou a importância de alinhamento entre o presidente e o Congresso.

Questionado sobre a eleição de 2024, João Campos espera contar com o apoio de Lula em sua campanha à reeleição no Recife. Sobre a possibilidade de o PT indicar um candidato a vice em sua chapa, o prefeito afirmou que qualquer discussão eleitoral será feita em 2024.

Quanto ao futuro, João Campos não descartou a possibilidade de disputar o governo de Pernambuco em 2026, mas ressaltou que, por enquanto, seu foco é a gestão da cidade. Ele destacou sua postura de diálogo e defesa dos interesses do Recife, mas lamentou a necessidade de recorrer à Justiça para abrir um serviço de saúde devido a ações judiciais impetradas pelo governo estadual.

O prefeito enfatizou suas prioridades para a gestão até 2024, com destaque para a redução das desigualdades e a melhoria da infraestrutura social. Entre os projetos, João Campos mencionou a duplicação das vagas em creches e obras de contenção de encostas em morros. Ele enfatizou a importância do investimento em educação e infraestrutura para o desenvolvimento do Recife. Confira a entrevista na íntegra ao jornalista José Matheus Santos:

Qual a sua avaliação sobre o início do governo Lula?
O presidente assumiu num momento em que precisava reconstruir o país em diversas frentes. A gente viu um verdadeiro desmonte no governo Bolsonaro. Na educação, por exemplo, o ministro só aparecia em conflito ou escândalo. Qual era a agenda do desenvolvimento social e da saúde? Não tinha.

Lula lançou um plano de educação integral, de recomposição do repasse de merenda. O diálogo federativo voltou, e programas como Farmácia Popular e Bolsa Família foram relançados com condicionalidades importantes como vacinação e matrícula escolar.

O presidente preparou a pista para a atividade econômica e equilíbrio fiscal do país e agora vem com um plano de investimento e infraestrutura. Fazer tudo isso em seis meses é muita coisa.

Em que o governo Lula não foi bem e pode melhorar?
É um governo de muito mais acertos. Eventuais pontos a serem melhorados são muito menores do que o conjunto de acertos.

A articulação política do governo enfrentou instabilidades, inclusive em votações no Congresso. O PSB está satisfeito com a condução dessa área?
A articulação política vai se consolidando com o tempo. O que defendo é que haja um alinhamento harmônico entre o presidente e o Congresso, sobretudo a Câmara. Conheço Lula e Arthur Lira e acho que os dois têm total capacidade de construir uma grande parceria política em favor do Brasil. Se a gente pacifica a política, ela deixa de tirar energia do Brasil e coloca solução, como foi na Reforma Tributária.

Essa pacificação passa por uma minirreforma ministerial?
Acho que é natural, todo governo tem adequações ao longo do tempo. A montagem na reta final sempre tem movimentos de consolidação. Alguns movimentos podem ter sido feitos antes com análise correta e depois é natural que tenha reavaliação levando em conta o processo técnico e o processo político. São coisas pontuais e não estruturais.

O sr. citou a Reforma Tributária, que gerou desgaste para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, no campo bolsonarista, por defendê-la. Acredita que esse estremecimento pode ter impacto na articulação da direita para as eleições de 2026 e eventualmente beneficiar o grupo governista?
Tarcísio fez um movimento correto de Brasil. Historicamente, São Paulo trabalhou para não ser feita a Reforma Tributária, que tributa na origem, e São Paulo produz muito. Isso é uma questão histórica do estado, não é de um político. De maneira geral, você deixa o extremo com menor tamanho. É positivo para o nosso campo, mas também para o campo de centro. Esse extremo estridente não dialoga e é contra as instituições, o Brasil não é assim. A minha avaliação é que o conflito dentro da direita é positivo para Tarcísio.

O PSB planeja ter candidato em 2026 ao Planalto caso Lula não dispute a reeleição?
Nosso projeto é alinhado ao do presidente Lula. A coordenação política desse processo será feita por ele. E qualquer tipo de discussão vai se dar no ambiente interno.

Como avalia o papel do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB)?
Positivamente. Ele é muito correto e leal. É um bom aliado. Lula sabe que conta com ele e com a correção dele. Tem ajudado também como ministro na interlocução com o setor produtivo.

A deputada Tabata Amaral (PSB-SP) apontou recentemente frustração com o governo por causa dos repasses de emendas de relator e em relação à forma como o presidente Lula recebeu o ditador venezuelano Nicolás Maduro. Concorda com ela?
Tabata tem sido muito leal com Lula, esteve na linha de frente durante a campanha eleitoral. O bom aliado é o que sabe que é parceiro e correto e que tem condições de avaliar pontos que podem ser melhorados. Sobre a Venezuela, o próprio presidente já falou sobre isso. Eu pessoalmente tenho discordâncias reais sobre o que acontece lá, mas o que acontece na Venezuela é um caso da Venezuela e é muito longe do que eu espero para qualquer país, inclusive o Brasil. E você não pode se negar a ter relação com um país mesmo que tenha discordâncias sobre o sistema dele.

Nas eleições de 2020, o PT não venceu para prefeituras de capitais e viu o número de cidades que governava diminuir. Para 2024, o sr. acha que o efeito Lula, agora presidente, pode beneficiar o partido e seus aliados?
Lula é um grande eleitor no Brasil e no Nordeste. Mas as eleições não serão construídas por um único fator, tem uma série de fatores. Espero contar com ele na minha campanha [à reeleição]. Será muito bom se tivermos as forças que estão alinhadas no Brasil juntas nos estados e municípios.

Esse seu argumento de aglutinar vale para São Paulo com Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Tabata Amaral? Ou o PSB não tem chances de abrir mão da candidatura?
Acho que o diálogo deve sempre existir, mas cada local tem uma particularidade. Aqui, a gente governa o Recife, lá [em São Paulo] é diferente, onde tem um opositor do nosso conjunto governando. São particularidades que devem ser levadas em conta. Tabata que vai falar por ela. Não é fora de São Paulo que vai se discutir São Paulo. Nosso papel aqui é cuidar do Recife.

O PT deseja, nos bastidores, indicar um nome como vice na sua chapa. Quais critérios o sr. vai adotar para preencher essa vaga?
Qualquer tipo de discussão eleitoral só vamos abrir em 2024. Discussão eleitoral não ajuda agora. É o momento de cuidar da cidade.

Há chances de o PT emplacar o candidato a vice?
Eleição majoritária se dá pelo conjunto de forças. Não se toma uma decisão por si só ou pelo conjunto. Normalmente é: qual o caminho que agrega mais e junta mais? Qual a narrativa que é aceita e validada? É uma tese coletiva que vai ser construída ano que vem.

Se o sr. for reeleito, pretende disputar em 2026 a eleição para o Governo de Pernambuco?
Hoje, meu foco não é eleição, é gestão. No ano que vem, meu foco na eleição será Recife.

E se for reeleito, vai completar o mandato?
Daqui para eu ser reeleito, o caminho é muito longo.

Houve alguns atritos recentes entre a Prefeitura do Recife e o Governo de Pernambuco, como na disputa pela administração de um centro de atendimento para idosos. Essa relação está no patamar adequado?
Defendo e pratico o diálogo. Não sou das pessoas que perdem tempo brigando, mas sei defender os interesses do povo do Recife. Infelizmente, estou tendo que entrar na Justiça para abrir um serviço de saúde. É uma coisa inédita. A gente chegou a colocar para funcionar e, por uma ação judicial impetrada pelo governo estadual, foi fechado. Estou brigando para reabrir.

Qual a sua avaliação do início do governo de Raquel Lyra (PSDB)?
Não cabe a mim avaliar. Acho que cabe à população.

O sr. avaliou Lula quando perguntamos. Não caberia avaliar o governo Raquel por quê?
Lula tenho tranquilidade de avaliar, porque ele está fazendo um excelente trabalho, e segundo que ele é um aliado, me sinto parte disso. A quem cabe a avaliação ao governo do estado é o povo. As pessoas podem avaliar se há aumento de violência, se há fechamento de hospital, se há briga para impedir o Recife de abrir uma unidade de saúde, se tem paralisação de obras que vinham acontecendo, se tem rescisão de convênios com municípios do estado, quem avalia são as pessoas.

Quais são as prioridades da sua gestão para o período até a eleição de 2024?
Minha grande prioridade é a construção de uma cidade menos desigual e mais justa. Meu desejo é ter a gestão que mais investiu em educação na história do Recife e na infraestrutura social. Teremos uma obra de contenção de encostas em cada localidade de morro. Isso nunca existiu. Na educação, vamos duplicar as vagas em creches. Havia 7.000 e vamos para 14 mil. São 160 escolas em obra ao mesmo tempo. Isso é fazer por educação.

Fonte: Blog do Edmar Lyra.


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