quarta-feira, 1 de abril de 2020

Mandetta nega que OMS tenha pedido fim do isolamento

Isac Nóbrega/PRIsac Nóbrega/PR
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, negou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha defendido o retorno imediato das pessoas ao trabalho, conforme fez crer o presidente Jair Bolsonaro, em afirmações dadas na manhã desta terça-feira, 31. Mais do que isso, Mandetta defendeu ainda "o máximo de distanciamento social" e a manutenção das quarentenas definidas pelos Estados.
"Nós vamos trabalhar com o máximo de planejamento. E, no momento, nós vamos fazer, sim, o máximo de distanciamento social, o máximo de permanência dentro das nossas residências de homeworking (trabalho em casa), para que a gente possa chegar ao momento de falar, 'estamos mais preparados e entendemos aonde vamos', aí a gente vai liberando e monitorando pela epidemiologia", disse Mandetta, durante coletiva de imprensa realizada nesta tarde no Palácio do Planalto.
Ao comentar o discurso do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Gheybresus, que defendeu a posição de que países mais pobres devem medidas para proteger a saúde e o emprego da população, Mandetta disse que compreende a declaração como algo que considera a "dinâmica social" de cada nação, mas sem abrir mão, em nenhum momento, do que determina a ciência.
Pela manhã, Bolsonaro omitiu trechos do discurso de Tedros e usou falas do diretor-geral da OMS para afirmar que Tedros falou "praticamente" que os informais "têm que trabalhar" durante a crise causada pela pandemia do coronavírus. Ocorre que, ao contrário do que Bolsonaro sugere, no entanto, Tedros não faz qualquer relação entre trabalho e medidas de isolamento.
Mandetta disse que a OMS não está oferecendo nenhuma "receita de bolo" sobre como agir. "O que ele (Tedros) faz são considerações... acho que muito forçado por causa daquela situação da Índia, da África. Nós não vamos fazer medidas que sejam arriscadas para o nosso povo, enquanto nós não tivermos condições de trabalho", afirmou o ministro da Saúde.
O ministro da Saúde usou ainda o próprio discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, para mostrar que o País tem aplicado recursos para garantir que as pessoas fiquem em casa e não sejam prejudicadas. Nas contas de Guedes, são R$ 750 bilhões já mobilizados por causa do coronavírus, dos quais cerca de R$ 150 bilhões têm o propósito de assistir a população de baixa renda.
"Nós não somos um País que não está investindo em condições para que o povo enfrente. Isso precisa chegar às pessoas, para elas saberem que não precisam se desesperar", disse Mandetta. "O que eu vejo é cada um enfrentando o seu quadro social. O Brasil vai enfrentar o dele. E com as armas que nós temos. Se tivermos que fazer qualquer tipo de alteração, não faltará aspecto científico, não será sem consultar as academias", comentou, citando nomes como Fiocruz, Universidade de São Paulo e universidades federais.
"O que eu entendi da posição da Organização Mundial da Saúde (OMS) há que, sim, se fazer considerações sobre a parte de dinâmica social, mas sem abrir mão, em momento nenhum, da ciência que você tenha no seu espaço", comentou. "Se para um ministro da Saúde do Brasil olhar para o País que fala a mesma língua, que nós temos todos os indicadores nossos... Nós conhecemos a Rocinha, nós conhecemos Paraisópolis, os nossos pontos fortes e fracos. Se o Brasil não faz uma receita de bolo, do Amapá ao Rio Grande do Sul, imagina uma OMS fazer uma receita de bolo para o mundo."
Mandetta disse que, "se acharmos que a atividade está muita alta, vai lá e diminui um pouco. Se acharmos que está tranquilo, deixa andar. Vai ser um trabalho de muita precisão para gente pode movimentar".
O ministro recorreu ainda a uma citação da música "Argumento", do sambista Paulinho da Viola, para descrever a situação vivida pelo País. "Nós temos que escutar agora um pouco de Paulinho da Viola, sabe. 'Faça como um velho marinheiro. Durante o nevoeiro, leva o barco devagar'. Vamos passar. É um mar revolto. Vamos passar na marcha certa. Nem tão parado, que a gente possa se arrastar. Nem tão acelerado que a gente possa cair numa cachoeira. Vamos todo mundo junto que a gente vai passar e vai chegar ao porto seguro."
Fonte: Estadão.
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