terça-feira, 28 de abril de 2020

Guedes sai turbinado

Em fase balança, mas não cai, o ministro da Economia, Paulo Guedes, saiu aparentemente fortalecido, ontem, com as declarações do presidente Bolsonaro, de que a política econômica do seu Governo passou e sempre passará por ele. A reafirmação pública do chefe da Nação se deu logo após uma reunião em Palácio na qual foi novamente discutido um novo plano, agora de salvação nacional em razão da pandemia do coronavírus, no qual inicialmente sequer foi ouvido nem recebeu delegação para coordenar.
Antes da crise gerada pela saída do ministro da Justiça, Sérgio Moro, Guedes ficou chupando o dedo em seu gabinete, enquanto no Palácio da Alvorada o presidente ouvia as sugestões do chamado Plano Marshall por parte de diversos auxiliares, entre eles o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, a quem Bolsonaro deu carta branca para tocar o programa, voltado para obras com perfis de geração de emprego e renda.
É inconcebível que um ministro, autor de todas as diretrizes econômicas postas em práticas pelo Governo, seja alijado da discussão de um plano para tirar o País do fundo do poço. No entorno de Bolsonaro, agora em lua de mel com o Centrão, há demandas para destravar o uso do dinheiro Tesouro enquanto o Governo busca apoio no Congresso. O programa que Guedes não foi a figura central na sua concepção prevê o uso de recursos públicos para obras em infraestrutura.
Caso o plano vá adiante, a avaliação é que a agenda de Guedes poderia ser atacada a o ponto de inviabilizar sua permanência no cargo. Apesar de no discurso o Governo defender a importância de regras fiscais como teto de gastos, a avaliação é que, na prática, o Planalto pode abrir os cofres para assegurar 171 votos via Centrão para evitar um processo de impeachment.
Apesar do “fogo amigo” dentro do governo contra o ministro da Economia, o presidente deixou claro que não repetiria com Guedes o que houve com os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública). Mesmo porque, em relação a esses dois ex-ministros, o próprio Bolsonaro já não os queria na equipe. Não é o caso de Paulo Guedes. No entanto, aos seus interlocutores, o presidente tem dito também que concorda com outros de seus ministros segundo os quais é preciso adotar medidas para reatar a economia em frangalhos.
A palavra do chefe – Tão logo saiu da reunião com os ministros que conceberam o novo plano, desta feita com a presença do ministro da Economia, o presidente Bolsonaro foi enfático nas palavras para desfazer o mal-entendido, segundo ele, de que Guedes estava sendo fritado no mesmo caldeirão de Sérgio Moro e Mandetta. “Acabei mais uma reunião aqui tratando de economia. E o homem que decide a economia no Brasil é um só: chama-se Paulo Guedes. Ele nos dá o Norte, nos dá recomendações e o que nós realmente devemos seguir”, afirmou.
Economia mantida – Outro recado dado pelo presidente diz respeito à manutenção da política econômica de Guedes. Qualquer avaliação no sentido de que a política liberal do ministro da Economia estaria com os dias contados pode ser algo associado ao fogo amigo. Há uma interpretação de que ele ganhou força ao assumir a apresentação do programa Pró-Brasil, patrocinado pelo grupo militar do governo e dissecado pelo general Braga Netto, ministro chefe da Casa Civil. O presidente quis deixar claro para o mercado que não cogita fazer qualquer inflexão na política econômica comandada por Paulo Guedes; e, internamente, teve o objetivo de abortar movimentações de ministros que, em busca de dinheiro do orçamento para executar obras de suas pastas, passaram a fazer a defesa do fim do teto de gastos, imposto na Constituição.
Proposta dura – Diante da crise na economia, Paulo Guedes propôs a suspensão de reajustes e promoções dos servidores públicos federais, bem como do funcionalismo público estadual e municipal. A proposta foi apresenta durante negociação com o Senado, como medida emergencial para socorrer governadores e prefeitos que já sentem perdas na arrecadação tributária. Enquanto o governo estima que 24,5 milhões dos 33,6 milhões de trabalhadores com carteira assinada (ou seja 73% do total) terão os salários reduzidos ou os contratos suspensos em decorrência da crise provocada pela pandemia no Brasil, a "cota de sacrifício" sugerida a Guedes ao funcionalismo é ficar sem reajustes "por um ano e meio".
Servidores repudiam – Após Guedes apresentar a dura proposta, a Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco) criticou as declarações do ministro da Economia. A fala de Guedes ocorre cerca de dois meses depois do ministro ter chamado a categoria de “parasitas”. De acordo com a Fenafisco, “ao afirmar que o servidor público deve mostrar disposição em fazer algo pelo país, aceitando o congelamento dos salários pelo período de um ano e meio, como quer propor o governo, o ministro ignorou o sacrifício diário que já é feito pelos membros do funcionalismo público que estão trabalhando no combate à pandemia da covid-19”, disse a Fenafisco em nota.
CURTAS
NÚMERO MAIOR – Pernambuco estima ter um número entre seis e sete vezes maior que a quantidade atual de pacientes com sintomas da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. A informação foi divulgada pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). Isso ocorre porque têm sido diagnosticados apenas profissionais de saúde e segurança, casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) e pessoas que pagam para se testar em laboratórios privados. O pico da epidemia, ainda segundo o governo, deve ocorrer em maio.
PRECONCEITO – Profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate ao novo coronavírus relatam que têm sido alvo de preconceito, tanto de amigos quanto de desconhecidos temerosos de serem contaminados pela Covid-19. Segundo o secretário-geral do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), Tadeu Calheiros, as reclamações mais comuns são de discriminação nos condomínios, sobretudo na utilização da área de serviços. Alguns condomínios, ainda de acordo com Calheiros, só permitem que os profissionais de saúde usem as escadas.
RECUPERADOS SUPERAM MORTOS – O número de pacientes recuperados da Covid-19 em Pernambuco aumentou quase 70% nas últimas 24 horas. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, 704 pessoas já são consideradas curadas da doença. No balanço epidemiológico anterior, eram 416 pacientes recuperados, ou seja, 288 confirmações de cura clínica ocorreram entre domingo e ontem.
Perguntar não ofende: Se Moro gravou Bolsonaro não terá cometido um crime?
Fonte: Blog do Magno Martins.

Nenhum comentário:

Postar um comentário