segunda-feira, 10 de julho de 2023

Em livro, o legado de Marco Maciel

 

Marco Maciel foi o vice dos sonhos de qualquer presidente, disse, certa vez, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, acrescentando: “Foi um vice que nunca conspirou”. Eleito em 1994 com Maciel na vice, FHC não abriu mão de ter, mais uma vez, o Marco de Pernambuco, como assim Marco Maciel ficou conhecido, na sua chapa que disputou a reeleição em 98, saindo-se vitorioso ainda surfando nas ondas do Plano Real.

Num depoimento exclusivo para o livro “O estilo Marco Maciel”, de minha autoria, FHC aprofunda a visão apaixonante e sua admiração pelo político plural, honrado e diferenciado que foi seu companheiro de chapa. Marco Maciel ocupou todos os cargos que um homem público sonha.

Foi líder estudantil, deputado estadual, deputado federal, presidente da Câmara dos Deputados, senador, ministro de duas pastas (Educação e Casa Civil) e presidente interino da República por mais de 80 vezes. Tudo isso sem nunca ter aparecido em um só escândalo, algo comum e rotineiro entre os políticos brasileiros hoje, com raríssimas exceções.

Com prefácio de Jorge Bornhausen, ex-senador e ex-governador de Santa Catarina, o livro não é uma biografia propriamente dita, mas é quase isso. Traz um perfil biográfico, assinado pelo jornalista Houldine Nascimento. Mais do que isso, revela ricos e detalhados bastidores que Maciel viveu em sua longa trajetória e que iriam para o túmulo, tamanha a sua discrição.

Resolvi escrever sobre Marco Maciel por dois motivos. O primeiro, pela escassa literatura em torno dele, que se resume a um livro do jornalista Ângelo Castelo Branco abordando a sua maior vocação: a de articulador nato. A segunda se reveste na necessidade de dar uma oportunidade às novas e futuras gerações para se debruçar na história de um homem que se entregou, literalmente, à vida pública e a servir ao País. A política, para ele, era um verdadeiro sacerdócio.

“Marco Maciel foi uma das grandes expressões da política brasileira. Sempre cultivou o diálogo e o amor por Pernambuco e pelo Brasil”, diz o senador Jarbas Vasconcelos, um dos políticos que mais conviveram com o personagem do livro.

“O que impressionava em Marco Maciel era o exercício permanente da arte da conciliação”, disse o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ao lamentar a morte de MM, em junho de 2021.

Editado pela CRV, de Curitiba, “O estilo Marco Maciel” será lançado no dia 24 de agosto na Academia Brasileira de Letras (ABL). O cenário não poderia ter sido mais feliz: MM foi integrante da ABL, ocupando a cadeira vaga com a morte do jornalista Roberto Marinho, das Organizações Globo. “Será uma honra prestar esta homenagem a Marco Maciel”, disse o jornalista Merval Pereira, presidente da ABL.

Quatro mãos – Dois outros jornalistas também deram suas contribuições ao livro: o carioca Marcelo Tognozzi, que passou pelas principais redações de jornais em Brasília e assina, aos sábados, uma bela crônica no site Poder360, neste blog e na Folha de Pernambuco, e o pernambucano Luís Costa Pinto, ex-Veja, responsável pela entrevista de Pedro Collor às páginas amarelas da revista, fato que provocou o impeachment do irmão Fernando Collor.

Inimigos, nunca! – Marco Maciel ajudou a escrever boa parte da história recente da política brasileira. E a partir da arte da negociação, do convencimento e do exercício do poder construiu uma das carreiras políticas mais sólidas e respeitadas do Brasil. Dizia que não tinha inimigos. “Adversários, poderia tê-los, mas inimigos, nunca”. A frase resume o pensamento do pernambucano, um dos mais discretos e hábeis articuladores da história recente do país.

Arte do diálogo – Da reeleição como líder estudantil nos anos 60 para cá, Maciel usou como poucos a arte de negociar e se inseriu em momentos chaves na história do Brasil. Destaque para a sua participação na formação da Frente Liberal, em 1984. O pernambucano era um dos nomes que lideranças do PDS cogitaram para a disputa presidencial, mas acabou unindo-se aos dissidentes contra Paulo Maluf e a favor de Tancredo Neves, candidato de oposição ao regime militar.

Sonho também de Tancredo – Os partidários de Tancredo queriam como candidato a vice um nome da Frente Liberal, que posteriormente daria origem ao Partido da Frente Liberal (PFL). José Sarney foi o escolhido. Tancredo, entretanto, queria Marco Maciel, com quem construiu uma relação tão próxima que chegava na casa dele sem avisar, porque não costumava falar ao telefone. No governo Sarney, o pernambucano exerceu primeiro o cargo de Ministro da Educação, até ser transferido para a chefia da Casa Civil, até 1987, ficando responsável pela articulação política.

Respeitado até pelos comunistas – O ex-deputado federal Ney Lopes (RN) conta que em 1975, quando foi eleito pela primeira vez, tornou-se vizinho de apartamento de Marco Maciel, a quem chamava de “Mapa do Chile”, carinhosamente, “por parecer fisicamente com os traços geográficos do país de Pablo Neruda”, explica. “Maciel era liberal convicto. Tinha amizade com todos os grupos. Nunca conspirou contra as esquerdas. Tornou-se amigo de Oscar Niemeyer, comunista confesso, e usava a veia do conciliador”, contou Lopes.

CURTAS

RIO 1 – Desde que a data, local e hora do lançamento do livro de Marco Maciel foram definidos, venho recebendo manifestações de muita gente querendo participar do evento. Fico muito feliz e desde já é só agendar.

RIO 2 – A propósito, não vou organizar uma caravana saindo do Recife, mas deixo os admiradores de Marco Maciel bem à vontade. Garanto que todos serão bem recebidos na ABL para este momento de muita emoção e de homenagem a este grande brasileiro.

PERGUNTAR NÃO OFENDE: Com chuvas, desabamento de prédio e barragens ameaçando ceder no Interior, a governadora não poderia ter escolhido outro período para mais umas férias?

Fonte: Blog do Magno Martins.

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