LUANA LISBOA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Mulheres pretas e pardas são o grupo populacional com maior registro de casos prováveis de dengue em 2024 no Brasil. Os dados são do painel de monitoramento da doença do Ministério da Saúde.
O grupo representa 26% dos brasileiros com suspeita da doença, somando 193,2 mil do total de quase 741 mil casos prováveis de dengue contabilizados até a tarde desta sexta-feira (23). Os registros prováveis são aqueles em que os indivíduos têm dois ou mais sintomas da doença.
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Só este ano, 151 pessoas já morreram por dengue e 501 óbitos são investigados.
Em especial, as mulheres que mais têm risco de infecção pelo vírus são aquelas na faixa etária de 30 e 39 anos, seguidas de 40 a 49 anos e de 50 a 59.
Na última semana, os casos prováveis representaram uma alta de 294% em comparação com o mesmo período de 2023, ano em que o país bateu recorde de mortes pela doença. O Ministério da Saúde projetou que o Brasil pode atingir os 4,2 milhões de casos até o fim do ano.
Como um todo, as mulheres são 55,1% dos registros prováveis. A dengue tem aumentado a preocupação com as gestantes, grupo com risco de morte quatro vezes maior. Nestes casos, também há três vezes mais chances de morte do feto ou do bebê. Mulheres grávidas, mesmo com sintomas leves da doenças devem ser internadas para acompanhamento, segundo a Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo).
A população parda tem maior expressão dentre os casos prováveis. São 42% do total de registros. Se somada à população preta, totalizam 47,7% dos casos (354.153). Brancos representam 34,5%.
O grupo racial menos atingido pela dengue é o indígena, com 0,22%.
Segundo a pesquisadora Rita Helena Borret, médica da família que estuda a saúde da população negra na SBMFC (Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade Entidade), a maior incidência da dengue no grupo é um resultado da falta de trabalhos preventivos ao longo do ano em territórios vulneráveis.
“Para fazer o combate o mosquito da dengue, precisamos de uma ação efetiva do Estado ao longo de todo o ano em territórios vulnerabilizados, olhando focos de dengue em potencial, porque as chuvas vêm no verão. As mulheres negras são a maioria nas situações de moradias mais vulneráveis, que são lugares onde acaba tendo mais foco de dengue”, diz.
A transmissão do vírus da dengue depende do mosquito hospedeiro, o Aedes aegypti, cuja procriação ocorre com maior facilidade em ambientes úmidos e com temperatura elevada. A fêmea do mosquito deposita seus ovos nas bordas dos recipientes com água parada. Caixas, tonéis, barris de água, garrafas, pneus, sacos plásticos, lixo mal descartado e vasos de plantas se tornam criadouros.
As periferias das grandes cidades, principalmente, são locais favoráveis à procriação do mosquito, de acordo com Rivaldo Venâncio da Cunha, pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
“A irregularidade no fornecimento de água para uso doméstico faz com que a população a armazene em objetos muitas vezes não adequadamente vedados. Nas periferias, também há uma deficiência histórica na coleta do lixo, cujo acúmulo serve para armazenar água. Há espaços urbanos que são mais privilegiados do que outros”, afirma.
A Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, parceria do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) com o Ministério da Saúde, já mostrava alto índice de dengue entre mulheres: 14,3% afirmavam que havia sido infectadas pelo vírus, valor superior à média nacional apontada no estudo, de 12,9%. Entre pretos e pardos, o índice era 14,8% nos dois casos.
Fonte: Jornal de Brasilia.
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