quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

O buraco é mais embaixo

Quando formou a sua equipe, no apagar das luzes de 2022, a governadora Raquel Lyra (PSDB) recorreu a uma amiga de profissão e de carreira na Polícia Federal, a delegada Carla Patrícia, para comandar a segurança do Estado. Profissional competente e extremamente respeitada na PF, Patrícia era a grande esperança para se chegar a um Estado de paz e tranquilidade. Só ficou oito meses no cargo.

Durante esse curto período, a preparada delegada federal despachou pouquíssimas vezes com a chefona e amiga. Nem quando esteve nos finalmente do arcabouço do plano de combate à violência, Patrícia teve tratamento diferenciado. Foi afastada em agosto do ano passado sem que Pernambuco tomasse conhecimento do que havia planejado para tirar o Estado das páginas policiais.

E olha que era considerada da elite do Governo! Mais do que isso, muito próxima a Raquel, que se derramava em elogios ao currículo dela. Vazou pela rádio corredor do Palácio que Carla pediu o boné porque nunca teve voz ativa, sequer para executar seu plano de trabalho. Em seu lugar, assumiu Alexandro Carvalho, também delegado da Polícia Federal, mas com fama de ter sido o pior secretário da era PSB.

Na noite da última segunda-feira, Raquel demitiu os dois braços direitos do secretário de Defesa, a pedido dele: o coronel Tibério César dos Santos, comandante da Polícia Militar, e Simone Aguiar, delegada-chefe da Polícia Civil. E anunciou seus substitutos, o coronel Ivanildo César Torres de Medeiros, na PM, e o delegado Renato Márcio Rocha Leite, na PC. Vai resolver a crescente violência em Pernambuco?

Evidentemente que não. Isso é como time de futebol: não adianta trocar de técnico quando a equipe anda mal. A questão da segurança é estrutural. Os dois novos pupilos de Raquel vão comandar uma polícia extremamente desencantada com as políticas públicas, igualmente desmotivada, com péssimos salários e precárias condições de trabalho.

A governadora lançou um plano de segurança, quase um ano depois da posse, prometeu reduzir 30% dos casos em geral de violência no Estado, mas não disse como. Ninguém conhece o plano e os poucos que chegaram a se inteirar dele acham fraco, sem consistência. Como disseram os delegados, ontem, numa nota, o programa Juntos pela Segurança foi o primeiro no País a não prever nenhuma valorização às forças de segurança.

E este continua sendo o grande erro da gestão de Raquel, que não dá o braço a torcer, resultando na recente explosão da criminalidade em todo o Estado. “Uma simples mudança do Delegado Geral, desacompanhada de sinalização concreta de melhorias das condições de trabalho e na valorização do policial civil, infelizmente, não levará aos resultados almejados pelo Governo do Estado e pela população”, resume Diogo Victor, presidente da Associação dos Delegados do Estado.

Paralisação no Carnaval – Os policiais civis promoveram, ontem, uma assembleia geral e ameaçaram parar durante o Carnaval. Reclamam do salário, das dificuldades de negociar com o Governo e da falta de condições de trabalho. O presidente do Sinpol, Áureo Cisneiros, que foi o responsável pela mobilização ao final da tarde de ontem, em frente ao sindicato da categoria, em Santo Amaro, disse que nunca os policiais se depararam com um Governo tão insensível, sem articulação e sem um poder moderador.

Episódios desgastantes – O currículo do agora ex-comandante da PM, Coronel Tibério César dos Santos, já estava manchado com a chacina em Camaragibe, em setembro, quando dois policiais foram mortos em uma ação que, em dois dias, resultou na morte de seis pessoas de uma mesma família. Em outro caso, em novembro, na Iputinga, bairro da Zona Oeste do Recife, câmeras registraram o momento em que PMs arrombaram a porta de uma casa e depois saíram com dois corpos. A insatisfação era a mesma em relação à chefe da Polícia Civil, Simone Aguiar, demitida na véspera da assembleia convocada pela categoria.

Baderna sem controle – As mudanças na PM e na Civil se dão dois dias após confrontos entre torcedores do Sport e do Santa Cruz no Grande Recife, antes do primeiro clássico do Campeonato Pernambucano de 2024, que deixou um policial militar e dois torcedores baleados. Em entrevista à TV Globo, o diretor especializado da PMPE, coronel Ivson Amílcar, disse que o policial que foi baleado estava dentro da viatura, no meio do confronto, quando foi atingido por uma bala que transfixou o veículo e o atingiu no braço.

Voz de Meira pesou – Em entrevista, ontem, à Rádio Folha, o deputado federal Coronel Meira revelou que alertou a governadora de que havia muita insatisfação com o comando da PM. “Fomos nós que tivemos coragem de pedir para ela trocar, tanto o Comandante Geral da Polícia Militar, como o chefe da Polícia Civil. Eu não tenho nada contra as duas pessoas, muito pelo contrário, mas hoje a gente precisa de profissionais que sejam mais da área operacional, que tomem conta da rua”, disse Meira.

Feitosa já prevê impeachment – Um dos mais ácidos e vigilantes críticos do Governo Raquel Lyra, o deputado estadual Alberto Feitosa (PL), que é coronel da reserva da PM, previu que o descontrole na segurança pública, com o aumento desenfreado da violência no Estado, pode levar a governadora a sofrer um pedido de impeachment. “Eu não tenho mais nenhuma dúvida de que a governadora não vai chegar ao final do seu Governo. O Estado está desgovernado em todos os setores”, afirmou.

CURTAS

FATOS RELEVANTES – Em Arcoverde, dos três pré-candidatos a prefeito, a ex-prefeita Madalena Brito (PSB) é a que tem mais se movimentado. Ontem, por exemplo, ela esteve com o senador Humberto Costa, principal liderança do PT no Estado, arrebatando o seu apoio.

TRAGÉDIA – Uma tragédia abalou, ontem, a talentosa cantora Cristina Amaral, natural de Sertânia. Sandra e Maria, duas irmãs dela, perderam a vida num desastre de automóveis na BR-232, no Curado. Segundo a polícia, o acidente foi provocado por um cochilo do motorista ao volante.

FORA DA DISPUTA – O ex-deputado Gonzaga Patriota, primeiro suplente da bancada federal de Pernambuco, disse ao blog que até toparia disputar a Prefeitura de Sertânia, sua terra natal, mas está impedido porque seu domicílio eleitoral é de Petrolina e o prazo para mudança já passou, sendo um ano antes da eleição.

Perguntar não ofende: Dá para acreditar que uma simples mudança no comando da PM e da Civil vai bombar o plano de segurança de Raquel?

Fonte : Blog do Magno Martins.

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