Não há dúvida que o presidente Lula já marcou para sempre a história do Brasil, pelas mais diversas razões, em especial por três feitos extraordinários. Primeiro e único presidente eleito com origem na extrema pobreza, tendo passado fome e literalmente migrado no pau-de-arara, ainda criança, de Pernambuco para São Paulo.
Primeiro e único operário a se tornar chefe da nação. Primeiro e único a ter sido eleito presidente da República pelo voto direto em três eleições. Só isso já deixa Lula em patamares históricos excepcionais. Perde unicamente para Getúlio Vargas, em tempo no poder e consequente impacto na vida nacional. Considerando a idade avançada do Lula (este ano completa 79 anos, sete a mais do que os 72 anos do total da vida do Getúlio), não tem como superar o caudilho gaúcho.
Sem chance de sequer se igualar a Getúlio, mesmo se for eleito pela quarta e outra inédita vez em 2026, aos 81 anos de idade, o que é uma real possibilidade, caso sua saúde permita, a economia viabilize e crises políticas-jurídicas não o expurguem do mandato e imponham outra inelegibilidade ou até mesmo nova prisão. Getúlio ficou mais de 18 anos como presidente da República, e com o eventual quarto mandato, Lula ficaria 16.
Os dois primeiros mandatos do Lula foram de manejo político altamente lubrificado pelo mensalão e o petrolão. Além de outros muitos esquemas nunca devidamente investigados, a exemplo do Fies, a Copa do Mundo e o BNDES, para citar alguns poucos. Mas a verdade é que Lula teve dois mandatos controlando a Câmara e o Senado, com relativa fluidez, mesmo enfrentando pequenas surpresas, de natureza mais interna, como a eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara.
Até Bolsonaro na base – o raio de apoio que os dois primeiros governos de Lula receberam foi algo fabuloso, pois tinha a quase totalidade da esquerda, com mínimas defecções, indo até a mais explícita direita. Vale lembrar que os futuros bolsonaristas “raiz” PL, PP, Republicanos (então chamado de PRB), o antigo PTB, dentre outros partidos menores, eram lulistas de carteirinha. O próprio Jair Bolsonaro fazia parte da base de Lula nos dois primeiros mandatos, para não falar em antigos lulistas ortodoxos, depois travestidos em baluartes do bolsonarismo, a exemplo do Valdemar Costa Neto e de Ciro Nogueira.
Sem cooptação – Nesse terceiro mandato de Lula, o sistema político brasileiro é outro. O petista não consegue mais cooptar, diga-se, comprar, uma base segura, estável e sólida. Pode até tentar pagar com ministérios, estatais, emendas bilionárias, maiores que as escandalosas do Bolsonaro, porém a grande maioria dos parlamentares hoje quer o exercício do poder com as próprias mãos. Alugam os votos, mas não vendem os mandatos. Levam mais vantagem no jogo do varejo, pelo corpo-a-corpo, com frieza, sem fidelidade alguma, a não ser para si-próprios.
Tudo começou com Sarney – Nunca o parlamento teve tanta força em toda a história política brasileira como na atualidade. E não é por conta de nenhum “imperador” das Alagoas. O poder é exercido, na prática, pela esmagadora maioria dos parlamentares federais em negociações praticamente individuais, calculando tudo de maneira prática, concreta, no jogo sujo do toma-lá-dá-cá jamais visto no País. Não se pode negar que tudo começou com os cinco anos para o Sarney, no “é dando que se recebe”. Para depois se escancarar com o Fernando Henrique Cardoso, que teria comprado, em pacotes de 400 mil dólares, 115 deputados federais, de quase todos os partidos, para garantir a emenda constitucional da reeleição
Lata do lixo da história – Numa degradação acelerada, que se tornou incontrolável, Bolsonaro criou as emendas secretas e passou o poder real do orçamento federal ao parlamento. Nesse contexto, para sobreviver, Lula teve que se curvar e se contorcer frente a tal realidade rodriguiana, “a vida como ela é”, para se manter no terceiro mandato. Sem choro, nem vela. O discurso mobilizador da campanha vitoriosa de 2022, quando apelou desesperadamente para os votos das mulheres e dos negros, prometendo a presença feminina e preta no centro poder, fora outras promessas vãs, tudo isto está indo diretamente para a lata do lixo da história.
Velhas regras implacáveis – Lula, o realista, o pragmático, o manipulador, teve e tem que obedecer às velhas regras implacáveis da política, como no ditado popular do “ou dá ou desce”. E, lógico, profissional e grande mestre do ramo, com o inevitável, Lula relaxa e goza para alimentar seu ego inesgotável e manter as ilimitadas benesses em benefício próprio e dos seus íntimos. Eis o maior impasse político do Lula em 2024: ter que mergulhar ainda mais fundo no oceano de poluição crescente da política brasileira. Impossível não se molhar. Mas cabe perguntar: será possível se manter vivo por quatro anos como habitante principal desse mar de lama? O velho terá alguma trégua para pelo menos boiar e sobreviver?
CURTAS
TUBARÕES – E os ataques dos tubarões de todas as 88 diferentes espécies brasileiras, variando em tamanhos e voracidades, indo do tubarão-lanterna anão de 21 centímetros de comprimento até o famoso tubarão-baleia com 12 metros, passando pelos devoradores tubarões azuis, branco, tigre, martelo e cabeça-chata?
AMANHÃ TEM MAIS! – Lula saberá, enfim, agir como domador de tubarões famintos sem ser engolido pelas feras? Só a história dirá. Amanhã avançaremos mais detalhadamente sobre esse drama-impasse estrutural.
Perguntar não ofende: Com apenas 47% de aprovação, Lula já não é um fiasco?
Fonte : Blog do Magno Martins.
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